O desenho e o estado de conservação das atuais passagens peatonais sob o Eixo Rodoviário de Brasília revelam um lugar hostil e pouco acolhedor aos pedestres. Com a alteração do traçado original pela adição de novas alças rodoviárias às vias laterais, a conexão peatonal leste-oeste, tanto das superquadras como dos setores comerciais ficaram prejudicadas, assim como a visibilidade nas passagens. Para abordar o problema, nossa estratégia estrutura-se em três pontos principais:
Recondicionamento das cabeceiras – novas e velhas entradas
Com o objetivo de resgatar a vontade original de articulação peatonal, foram desenvolvidos novos acessos generosos e universalmente acessíveis, transformando as cabeceiras em potenciais locais de encontro. O traçado em linha reta eliminou os pontos cegos e reduziu os deslocamentos. Tanto as adições quanto as adaptações propostas ao longo da extensão do túnel buscam distinguir-se do desenho original das passagens, respeitando diretrizes de conservação do patrimônio tombado.
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Planta passagem. Concurso Passagens sob o Eixão. Segundo colocado
divulgação
Concentração dos novos pontos de ônibus – mobilidade urbana
A atual localização dos pontos de ônibus em ambos lados das vias laterais do eixo rodoviário induz o usuário do transporte publico a travessia arriscada no nível da pista ocasionando acidentes de transito periódicos. Para contribuir na diminuição de acidentes e aumentar o movimento pelas passagens subterrâneas, propõe-se a concentração dos pontos em uma única plataforma localizada no canteiro central de cada uma das vias laterais com acesso por meio de elevador e escada, permitindo que os trechos subterrâneos sejam melhor iluminados e ventilados. A solução contribuiria ainda na integração entre diferentes linhas e na hierarquização dos modais de transporte, concretizando uma discussão já presente na cidade.
O desenho destes novos pontos visa interferir minimamente na paisagem construída ao longo do Eixão, por meio do uso de vidro e estruturas leves de aço evidenciando a transparência e leveza da estrutura proposta. Além de propiciarem o devido abrigo aos usuários do sistema, a estrutura permite a incorporação de sinalização e demais meios de informação desejados.
Alargamentos – espaços cotidianos e excepcionais
Acreditamos que as regiões descobertas entre os túneis da passagem são lugares capazes de articular e potencializar dois diferentes tipos de usos: o cotidiano e o extraordinário. O primeiro estabelecido pela transposição leste-oeste, que conecta as quadras comerciais, e pela movimentação dos usuários do transporte público; e o segundo que acontece aos domingos com a abertura do Eixão como parque urbano, o Eixão de Lazer.
Pensados como praças equipadas, estes lugares foram desenhados para potencializar este uso excepcional da cidade, implantando nele mobiliário urbano básico de apoio - lixeiras, bebedouros, para-ciclos, bancos, postes de iluminação e uma pequena edificação passível de ser dividida e que poderia ser apropriada por diferentes atividades. Composta por um conjunto de banheiros e uma área fechada de cerca de 15m2 que poderia abrigar pequenos boxes de comércio ou serviços públicos, a nova e pequena estrutura básica, busca uma repetição nas várias passagens, modulando o passeio pelo Eixão. O projeto, portanto, implanta pequenas praças ao longo das passagens capazes de abrigar de forma flexível, aberta e gentil tanto as atividades mais ligadas ao cotidiano brasiliense quanto as acontecimentos excepcionais dos domingos.
A abordagem proposta busca compor um sistema de intervenções dispostas ao longo das asas norte e sul de Brasília. Uma vez presentes em todas as passagens, as cabeceiras, os postos e as plataformas de ônibus reforçam o caráter da intervenção e reaproximam o desenho das passagens ao seu caráter inicial, potencializando a circulação peatonal pela cidade e os espaços de lazer.
ficha técnica
Local
Brasília DF
Data
2012
Autores do projeto
Ricardo Gusmão
Carlos Eduardo Miller
Bhakta Krpa
Carlos Eduardo Collet Marino
Eduardo Pompeo Martins
Fernando Tulio Salva Rocha Franco
Guido D’elia Otero