Passagens
Da transposição das fluídas artérias automobilísticas do Eixo Rodoviário surge a possibilidade de um segundo local de alto fluxo, uma concessão funcional submersa no plano piloto. Ao contrário do vasto horizonte da superfície, sua escala é reduzida, uma possibilidade de aproximação singular na capital federal.
O espaço limitado, associado inicialmente à insegurança, oferece, por outro lado, oportunidades para explorações poéticas diferenciadas. Vazios são inseridos para trazer ventilação e luz natural em um gradiente de sombras que atenua o efeito de ofuscamento. Cria-se uma atmosfera, onde elementos metálicos refletem o “oculto” da quina e a luz da superfície, e cuja distribuição transborda os limites do meramente funcional para criar uma nova possibilidade sensorial. Como fragmentos de um mosaico de Athos Bulcão, as placas refletivas distinguem-se em padrões de texturas com gramaturas variadas em uma escala familiar ao percurso da população Brasiliense.
Acessos
Se abaixo da cota das vias, ocorre uma inversão de escala e certa liberdade de proposição espacial, na superfície há que se respeitar a paisagem planejada, a qual não demanda a criação de novas alegorias dissonantes. Propõe-se, então, como referência visual, o elevador, instrumento que marca o deslocamento vertical, a transposição dos níveis e indica pontualmente a conexão do sobre com o sob. A marcação clara e configuração ampla, contando, quando possível, com rampas e plataformas, incentivam o uso de pedestres e ciclistas colaborando na redução de acidentes no Eixo Rodoviário.
Largo
Surge, então, um terceiro espaço, nem comprimido como as passagens subterrâneas, nem aberto como a planície da capital. Mais precisamente nos declives entre as vias. Ali, o espaço não delimita-se mais pela imagética de Brasília, ou pelas grossas paredes dos túneis, mas a partir de sua própria necessidade de escala calcada no comércio de pequeno porte. Uma escala de dilatação (largo) em relação às passagens estreitas, e de proteção frente à imensidão das vias. Suas unidades são construídas modularmente conforme o tamanho padrão das peças metálicas, possibilitando um crescimento proporcional da escala intermediária. Em pontos específicos estão localizadas bacias de contenção, para os períodos de chuvas, cobertas com vegetação específica, as quais colaboram para manutenção da umidade do ar no cerrado. Tem-se, assim, espécie de assentamento inicial, cuja dimensão concentra o grande fluxo de passantes, favorecendo o comércio e o encontro.
Molduras Vegetais das Superquadras
A escolha de árvores específicas, o desenho dos acessos com marcação vertical estritamente necessária, bem como o respeito à cota limite das vias, tem por objetivo interferir o mínimo na faixa vegetal que circunda e identifica as Superquadras, assim como as características típicas da paisagem urbana rodoviária previstas no plano piloto.
Conclusão
A distinção ritmada entre espaços de diferentes escalas estrutura os vazios e assegura uma marcação urbana singela no contexto proposto por Lucio Costa, surgindo como modelo possível para as 16 intervenções de características semelhantes.
ficha técnica
Local
Brasília DF
Data
2012
Projeto
AtelierUM+D
Autores do projeto
Gustavo Utrabo
Juliano Monteiro
Pedro Duschenes
Colaboradores
Mathilde Poupart
Lucille Daunay
Lucas Issey Kodama
Ernesto Bueno
Sabine Meister
Consultor
Ricardo Dias (estrutural)