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architexts ISSN 1809-6298


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OLIVEIRA, Ana Rosa de. Four horizons. A casa auto-suficiente. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 005.05, Vitruvius, out. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.005/971>.

A casa Four Horizons se ergue sobre um alcantilado no interior de da Floresta Estadual de Watagan, recentemente transformada em Parque Nacional. Situa-se a 150 Km de Sydney, 430m, a acima do nível do mar e se abre a espetaculares vistas do vale do rio Hunter.

O essencial desse projeto é a concepção holística da casa. O lugar em que se situa, com seu relativo isolamento geográfico e a ausência de qualquer serviço público (rede de água e esgotos, eletricidade, telefone) leva a pensar na vontade do seu autor e cliente de ir mais além, de realizar um experimento em condições extremas, já que se a casa não definisse sua auto-suficiência energética e de serviços, provavelmente estaria condenada ao fracasso.

Desse modo, a utilização do lugar é feita para que seus mecanismos de ajuste, como todo sistema auto-regulado não se voltem contra os interesses humanos. Nesse sentido, não se tratou de dispor a casa tentando "proteger" a natureza (ela mesma se autoprotege), mas de organizar nela a sustentabilidade da presença humana.

Isso confere novos conteúdos à casa, que deve se encarregar de obter, controlar e gerir suas próprias fontes de energia. O objetivo foi servir-se de materiais e tecnologias facilmente disponíveis, reciclar os resíduos gerados e viabilizar atividades de baixo impacto ambiental.

A provisão de água é feita por coleta e aproveitamento da água da chuva. A energia solar é utilizada para o aquecimento da água, geração de eletricidade e acionamento de uma rádio que unifica telefone/fax/e-mail. A orientação da casa e as soluções construtivas permitem a climatização natural. Os resíduos gerados são tratados e logo lançados outra vez ao ambiente, cuidando para minimizar o impacto sobre o seu entorno. A lenha é usada para cozinha e calefação.

A casa se instala paralelamente aos alcantilados para aproveitar o sol da manhã no inverno e as brisas frescas do verão, voltando sua parte posterior aos ventos dominantes. Externamente dispõe-se uma série de placas solares , os geradores, as dependências de garagem e estábulo, unidas a um jardim fechado que conforma um pátio.

O sistema de coberturas da casa é resolvido com um teto a duas águas, construído com estrutura metálica e chapa ondulada galvanizada, seguindo o padrão das naves agrícolas australianas. Esta primeira cobertura é separada da casa propriamente dita, para regular a ventilação, as temperaturas e a entrada de luz, além de aportar uma grande superfície de sombra e de coleta de água da chuva. A água coletada na cobertura da casa armazena-se em tanques com uma capacidade muito superior à utilizada diariamente (600l) e garante uma reserva para muitos meses de consumo.

Sob essa estrutura são dispostos dois módulos habitáveis com sub-tetos metálicos curvados, que abrigam por um lado, a área comunitária e as salas de estar, cozinha e despensa e de outro, um estúdio e dois quartos com seus respectivos banheiros. Estas duas dependências da casa separam-se através de um estreito corredor ao ar livre que possibilita maior eficiência térmica, ao mesmo tempo que atua como isolante de ruídos e atividades.

As soluções construtivas são adequadas às condições térmicas das diferentes disposições. Enquanto que, internamente, os muros de alvenaria (concreto) são expostos, o lado que dá ao exterior é revestido com poliester/lã isolante, mini-esferas de aço e tábuas de eucalipto, possibilitando o seu isolamento térmico.

Essas condições, associadas às propriedades físicas e a clara disposição de outros elementos como os brises, a cobertura, os tijolos perfurados, o corredor ao ar livre e as dependências externas, conduzem à uma boa resposta térmica da casa que mantém uma diferença de menos 10°C com a temperatura externa no verão e, inversamente no inverno.

No âmbito tradicional da casa unifamiliar australiana esta residência também se destaca pela sua economia energética. Em Four Horizons, a situação, orientação, seleção de materiais, o método construtivo, o cuidadoso manejo de recursos e resíduos gerados, foram orientados por uma concepção integral do processo. A apresentação desse projeto supõe também um desafio, ele estabelece que uma arquitetura ecológica e sustentável pode ser estabelecida como norma e integrada ao cotidiano.

Ficha Técnica

Watagan Forest, Hunter Valley Austrália, 1998
Arquiteto: Lindsay Johnston, professor associado do Departamento de Arquitetura da Faculty of Architecture, Building and Design, University of Newcastle, Callaghan, Australia
Colaboradores: Su Johnston, Robert White.
Imagens: http://info.newcastle.edu.au/department/ar/papers/LNJ/Steel-Profile/Steel-Profile-64.html

sobre o autor

Ana Rosa de Oliveira é engenheira florestal e doutora em Arquitetura pela Universidade de Valladolid. É co-autora do livro Ecotecture-Ecological Architecture (Loft, Barcelona, 1999). Na França trabalhou com os paisagistas Daniel Laroche (Montpellier) e Guéric Pére (Lion). No Brasil, no Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais. Atualmente é professora e pesquisadora do PROPAR - Programa de Pós Graduação e Pesquisa em Arquitetura, UFRGS e bolsista recém-dr, CNPq.

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