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architexts ISSN 1809-6298


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MILANEZ, Maria Isabel Marocco. Hiroshi Hara. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 005.08, Vitruvius, out. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.005/974>.

A forma mais direta de identificar este arquiteto japonês de 64 anos, nascido em Kawasaki, é dizer que ele é o autor do projeto arquitetônico do Estádio Sapporo Dome em Sapporo, Japão, que sediará os jogos da Copa do Mundo de 2002 no Japão e Coréia. Obra esta que, por si só, resume toda a capacidade técnica, criativa e conceitual de Hiroshi Hara.

Hara, como gosta de ser chamado, além de arquiteto e professor da Universidade de Tókio é uma figura humana ímpar. É de seu modo de ser e compreender o mundo que se originam as grandes idéias para suas obras. "Quando construo, desejo apagar a fronteira entre a natureza e a arquitetura", diz ele. Esta filosofia de vida, de interação entre natureza e espaço construído é que o fez deambular entre países, selvas, tribos e cidades, buscando compreender as diferentes formas de abrigo humano e a ambiência daí resultante.

Foi vivenciando as aldeias primitivas, o arquipélago grego das Cicladas ou as florestas tropicais da América do Sul, que considera "o foco do universo", é que Hara firmou convicção de que a arquitetura não é uma questão puramente de estilos ou doutrinas, mas que estes devem estar subordinados e interagir com as leis da natureza, por ser esta a grande fonte de inspiração e ensinamento para se projetar e construir o habitat do homem.

Esta postura o leva a produzir uma obra peculiar e "sui generis" ao longo dos últimos 30 anos. O conjunto de sua obra neste período demonstra heterogeneidade, onde se identifica claramente o momento histórico da arquitetura na qual ela se insere, mas mantém sempre nesta linha de tempo, como traço comum, a busca da interação entre paisagem e arquitetura claramente identificada. Onde o contexto, ora natural, ora construído, serve de texto referencial para a obra do arquiteto.

Nas décadas de 70/80, quando as discussões sobre a pós-modernidade na arquitetura nos remetiam para o resgate da história e do contexto como referência de linguagem e forma, Hara busca o contexto natural como base para o seu repertório formal como fica evidenciado no prédio do Museu de Iida City, para a prefeitura de Nagano (1986-88).

Enquanto na Itália – Rossi e Botta – e nos EUA – Charles Moore – os arquitetos buscaram a tipificação das formas da arquitetura clássica como repertório formal, Hara tipificou a paisagem do ambiente natural fazendo uma arquitetura onde as formas, o ritmo e o encaixe das partes materializam o jogo lúdico e dinâmico das nuvens, montanhas, florestas, assim como suas cores e matizes. No caso do Museu de Iida City o repertório formal que o influenciou foram as montanhas que preponderavam na paisagem e que se evidenciam nas formas e ritmo das aberturas, acabamentos das fachadas, dos volumes isolados que compõem o conjunto do edifício museu.

Por outro lado, quando o cenário é a própria cidade, pulsante e efervescente, Hara interpreta o contexto da paisagem construída e lhe acrescenta mais dinâmica. Através de uma investigação tecnológica conseqüente, explora e desafia os limites da técnica e da altura dos edifícios, como é o caso do "Umeda Sky Building 1988-93, uma cidade flutuante construída na densa Osaka.

Projeta e constrói o edifício mais alto do Japão que ultrapassa a escala comum, alcançando 173 metros de altura. Este prédio é composto por duas torres de vidro que se interligam externamente por pontes suspensas, que rompem a pele de vidro, e trazem para o exterior a mobilidade e a dinâmica interna. Dinâmica esta também encontrada no coroamento do edifício, pela existência de um grande jardim suspenso, que projeta-se e se espelha no espaço ao encontro novamente das nuvens e dos matizes que a luz solar propicia. Com esta obra, Hara demonstra que a cidade do século XXI, somente se completa quando busca estabelecer relação com a paisagem espacial, definida por ele como sendo uma "espécie de porta para o que designa de anel LEO (Low Earth Orbit), uma estação espacial do futuro que representou flutuando por cima da abertura em forma de anel entre as torres do Umeda Sky Building".

Por outro lado, a realidade urbana japonesa exige de Hara soluções físicas-funcionais e tecnológicas para as grandes estruturas viárias, dos terminais ferroviários (trens-bala e metros) que conectam e ligam este país eminentemente urbano. Deste desafio surge o projeto da obra para o complexo da estação JR KYOTO em Kioto (1990-97), fortemente contextualizado e integrado à paisagem construída, pelas grandes conexões viárias, evidenciando, o que para os mais ortodoxos poderia ser um sacrilégio, a divisão da cidade de Kioto em duas partes. Sua estratégia para amenizar este rompimento inevitável foi elaborando um programa com forte diversidade de usos (hotéis, lojas, escritórios, habitações, lazer, além das estações) que tornassem o complexo em um local, não só de transbordos e deslocamentos, mas fundamentalmente em ponto de diferentes e diversificados encontros.

Esta mega estrutura horizontal (uma área construída de 237.000 metros quadrados implantada em um terreno de 3,8 hectares) possuí 470 metros lineares de extensão, explorando a relação entre diferentes níveis de altura e de deslocamento (pedestres, trens, metrô) e projetando para o interior deste complexo high-tech o conceito de mix-used assim como a animação e a dinâmica das ruas.

E assim Hara vive intensamente seu tempo, buscando sempre estabelecer estreita relação entre o homem e seu universo, utilizando o poder da intuição para criar o "mundo possível", e nesta perspectiva nos apresenta seu mais novo projeto o "estádio Sapporo Dome" em Sapporo 1997-2001.

Este complexo multifuncional, do Estádio de Sapporo, foi pensado para causar entusiasmo, através da criação de uma atmosfera de espaços coletivos e recreativos, em meio a natureza. Situado em uma enorme colina verde, nos arredores da cidade de Sapporo, tem capacidade para mais de 40.000 pessoas.

De alta resolução tecnológica tanto estrutural quanto operativa, apresenta-se inovador ao possibilitar o deslocamento do campo de futebol do interior do complexo para o parque exterior, utilizando-se do sistema móvel "Aire-air-floating" que propicia a interatividade e simultaneidade de atividades que ali se desenvolverão (Futebol, baseboll, consertos musicais e exposições).

Enquanto o interior do estádio transmite forte complexidade estrutural evidenciada pela estrutura em aço que suporta o complexo e o cobre em forma de concha, seu exterior expõe-se de forma orgânica e suave, dando a nítida impressão de que esta construção pousa sutilmente sobre o extenso parque que o abriga.

Mais uma vez Hara brinca com as formas, evidenciadas pela cobertura em aço, que como fina pele, cobre o espaço esportivo construído. O resultado final são formas curvas, sensuais e lúdicas muito apropriado ao tema e à natureza do homem.

O universo heterogêneo de Hara já não tem mais fronteiras. O domínio da técnica e a incessante busca da integração entre ambiente, obra e homem o credenciam como um profissional destacado no mundo da arquitetura contemporânea, cuja palavra de ordem é a busca incessante pelo equilíbrio, pela sustentabilidade ambiental do habitat, enfim, garantia que poderemos viver neste planeta, fraternalmente, nosso sonho possível.

sobre o autor

Maria Isabel Marocco Milanez é urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ritter dos Reis. É especialista em Desenho Urbano PROPUR/UFRGS, mestranda em Arquitetura PROPAR / UFRGS - Ritter dos Reis e ex-Presidente do IAB/RS.

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