Este é um texto de despedida do amigo e arquiteto Éolo Maia.
Este que nos mostrou, nesta sua trajetória profissional e pessoal, que esta coisa de fazer arquitetura também se compõe, e principalmente, de pessoas, credos e raças, gestos amáveis e raivosos, de culturas tupiniquins e olhares transcontinentais, transcendentais, de rabiscos grotescos e idéias precursoras, transgressoras, passos à frente.
Que esta trajetória deve ser feita com amantes, parceiros, amigos e inimigos mortais, destes que a gente encontra nos bares da vida e onde são realizados os devidos armistícios numa espécie de preparo, de limpeza de ringue para a próxima luta. Feita de poderosos resgates do passado pessoal e coletivo, de força quimioterápica para incorporá-lo ao futuro antevisto e perseguido, numa terapia provocativa onde novas audições dodecafônicas, a fórceps, modificam o status quo, o batido da mesmice, das cantigas prá boi dormir.
Feita do trabalho solo, em duetos, quartetos, filarmônico.
Mas não foi com o maior dos trabalhos, com o grande desenho, com futurísticas intervenções que o Arquiteto Éolo andava às turras por estes últimos dias. Não foi com a luta para que uma cidade/indústria como Ouro Branco pudesse ter vida arquitetônica e urbana; não foi tentando melhorar os projetos das escolas públicas de Minas ou reformulando o Quartier de Hamma em Argel; nem propondo redesenhar parte de Berlim com seus horríveis caixotes/moradias ou mesmo mostrando como se fazem marcos arquitetônicos imprescindíveis para uma cidade como Belo Horizonte; nem foi tentando salvar o mundo numa roda de amigos.
Entre as questões que o envolvia, entre suas preocupações com os trabalhos em andamento, os concursos recém premiados ou alguma nova solução para BH, para o Brasil patropi que tanto amava, estava às voltas com o desenho de uma pequena cadeira para uma exposição, a cadeira CLIPS.
Uma singela cadeira.
Não deu para terminar.
Foi-se como o vento que vem, ameniza, levanta a poeira e vai embora porque tem que continuar. Foi desenhar onde ninguém enche o saco.
Certíssimo.
Meu tchau carinhoso
notas
NE - número de Arquitextos, nº 029 de outubro de 2002, em homenagem a Éolo Maia, contou com a editoria de Fernando Lara.
sobre o autor
Sylvio Emrich de Podestá, engenheiro arquiteto pela escola de arquitetura da UFMG, foi editor das revistas Vão Livre e Pampulha. Atualmente é sócio-presidente da AP Cultural, editora especializada em publicações de arquitetura, design e interiores, e sócio-diretor do escritório Sylvio E. de Podestá Arquitetura Associados Ltda.