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architexts ISSN 1809-6298


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Descrição e análise da Casa do Arcebispo de Mariana, projeto de Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá


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COMAS, Carlos Eduardo. Casa do Arcebispo de Mariana, projeto de Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá. Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 029.06, Vitruvius, out. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.029/741>.

A Casa do Arcebispo de Mariana projetada por Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá se situa inclinada em cabeça de quarteirão, um de seus lados frontando praça central em cidade oitocentista de valor arquitetônico indiscutível, com construção fortemente regulada pelo SPHAAN. O programa é de habitação especial, representativa de instituição e instituição em processo de transformação.

A solução planimétrica ocupa parte do subsolo com espaços de apoio e capela, e todo o terreno no primeiro pavimento, onde dispõe acessos e demais espaços públicos do programa; apartamento do Arcebispo e apartamento de hóspede ocupam retângulo superior desenvolvido em toda a extensão da testada frente à praça. Altimetricamente, um sobrado de dois andares coberto com telhas portuguesas parece estar prolongado por pátio murado, mas o pátio é na verdade bloco com cobertura em terraço plano, iluminado zenitalmente. A composição em planta balanceia simetricamente os compartimentos requeridos em relação a quatro cilindros de serviço e ao claustro octogonal aí inscrito diagonalmente. O claustro se cobre por grande pirâmide de vidro transparente e acolhe, em seu interior, capela de forma homóloga coberta por pirâmide colorida. Entretanto, responde à assimetria do entorno na sua volumetria e na definição do circuito principal de movimento, minimizando a importância do eixo mais óbvio do terreno isoladamente considerado. É composição não isenta de ambigüidades e inflexões, bem menos inocente que uma visão superficial sugeriria.

Éolo, Jo e Sylvio ganharam atenção como campeões pós-modernistas, mas a propriedade da etiqueta é questionável tanto genericamente quanto no caso. As estratégicas de projeto da Casa do Arcebispo se filiam, no plano simbólico, a uma tradição Beaux-Arts revisitada modernamente por Kahn ao invés de Corbusier. Iconograficamente, rememoram precedentes via a alusão que recria sem copiar – e a alusão iconográfica a precedentes eruditos e populares é procedimento corriqueiro nos anos heróicos, no Ministério da Educação ou no Hotel de Ouro Preto.

A novidade não está no cunhal metálico que denota contemporaneidade e evoca a tradição da arquitetura erudita colonial, mas na utilização do imaginário popular sincrético, híbrido, exuberante, ingênuo, eclético, festivo da cidade interiorana de hoje como fonte de inspiração arquitetônica. Seria difícil contestar a legitimidade da estratégia enquanto princípio, até porque no caso específico ela resulta pertinente e convincente, colocada a serviço da caracterização arquitetônica de uma Igreja que quer simultaneamente restabelecer laços com o cotidiano da massa de seus fiéis, voltar à pureza de suas origens e reafirmar seu papel de mediadora de redenção.

A apropriação de elementos de um folclore urbano brega se associa para tanto à capela enterrada como outrora a catacumba e à pirâmide que reatualiza o tema da cúpula como representação celestial. Em plano mais genérico, a Casa do Arcebispo faz comentário provocativo e relevante sobre a interação do popular e do erudito na cultura arquitetônica. O popular corrompe o erudito e o deforma para assimilá-lo. Não é correto, do ponto de vista de uma arquitetura cultivada, uma composição axial que se penetra por número par de vãos. Contudo, o erudito precisa assimilar o desarranjo imperfeito, mas vital do popular para poder conformar sem esterilidade, feito essa sala onde a sucessão de cadeiras heterogêneas se ordena pela geometria do alinhamento. A Casa do Arcebispo nos recorda que a disciplina precisa contaminar-se para manter-se fecunda, a emoção precisa de disciplina para converter-se em obra e embasar cultura e, por extensão, civilização, civilidade, cidade. Éolo se foi cedo demais, mas esse não é o menor de seus legados.

sobre o autor

Carlos Eduardo Dias Comas é arquiteto, membro da Comissão Coordenadora do PROPAR (Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e responsável pela pesquisa "Arquitetura Brasileira Contemporânea: Cidade Figurativa, Teoria Acadêmica, Arquitetura Contemporânea"

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