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architexts ISSN 1809-6298


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O texto analisa o atual alargamento da noção de patrimônio, a partir dos textos que inauguram a preservação no Brasil, o Anteprojeto de Mario de Andrade e o Decreto Lei n. 25/1937 que cria o Iphan.


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SANTOS, Cecília Rodrigues dos. A noção de patrimônio e a origem das ideias e das práticas da preservação no Brasil. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.01, Vitruvius, out. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4528>.

A ideia de preservação de legados e de heranças do passado – que inclui, além da reflexão critica um conjunto de ações de identificação, conservação, restauração, gestão e proteção legal – assume conotação cultural e inicia a construção de um campo do conhecimento em meados do século XVIII, desenvolvendo-se ao longo do século XIX, para se firmar definitivamente no século seguinte. Hoje é possível afirmar que a preservação do patrimônio constitui um campo do conhecimento que assegura sua unidade na transdisciplinaridade de que é constituído, identificado por uma história; por uma legislação que trata da proteção e a regula; pela prática da restauração e da conservação de bens móveis e imóveis; por uma reflexão crítica inclusive sobre a abrangência e o significado da ação patrimonial e, ainda, por metodologias de pesquisa, de projeto e de inventário, tudo construído e legitimado por um corpo de especialistas.

Nesse campo atuam técnicos e pesquisadores de universidades, de instituições governamentais e não governamentais, com representatividade local, nacional e internacional, que firmam cartas de princípios sobre normas técnicas e éticas de conservação, intervenção e proteção (1). O reconhecimento e a consolidação do campo da preservação implicam também no reconhecimento de uma competência profissional e de uma formação específicas, para as quais contribuem várias especialidades que se completam. Como muito bem assinala Beatriz Kuhl, preceitos e princípios teóricos fundamentam esse campo e afastam o empirismo e a arbitrariedade, conferindo legitimidade ao próprio campo assim como à atuação de pesquisadores e profissionais especializados (2).

A noção de preservação, fundada no século XIX na França, foi sendo construída desde então no âmbito dos museus e arquivos, nos sítios arqueológicos, nas pranchetas e dos canteiros dos arquitetos restauradores e nas pesquisas de historiadores e de historiadores da arte (3). Sua motivação e seu foco de interesse eram os objetos e monumentos concretos – bens móveis e imóveis – tratados como suportes da memória coletiva, responsáveis pelo desenho do perfil de territórios e nacionalidades em processo de consolidação. E, assim como a noção de patrimônio é uma construção datada, o início do processo de alargamento dessa noção e o interesse cada vez maior que vem despertando entre a população podem ser localizados entre as décadas de 1970 e 1980, também na França, quando categorias inteiras de objetos pertencentes a campos culturais ameaçados pela industrialização e pela transformação cada vez mais rápida e radical de cidades e territórios, começaram reivindicar acesso ao domínio patrimonial (4).

Nos últimos trinta anos, e não só na França, a preservação e a ideia de patrimônio viveram uma transformação tão veloz e violenta que é possível afirmar que estamos sendo confrontados a uma verdadeira “crise de identidade do patrimônio”, crise que deve ser considerada em contexto de mundialização e de indagações sobre a pertinência de ideias ainda consideradas tão modernas como universalidade e progresso (5). Torna-se cada vez mais difícil a legitimação de critérios e valores em um mundo em que o valor maior é a relatividade absoluta, e no qual cada objeto, cada acontecimento, cada lugar exibe legitimamente seu “potencial patrimonial” ou, melhor dizendo, sua “pretensão patrimonial” (6), e em que todos e qualquer um se consideram aptos a emitir juízos de valor. Concordamos com Guy Di Meo quando assinala que o processo contemporâneo de desdobramento da ideia de patrimônio acabou por gerar uma grande complexidade de conteúdos e significados variados, na maior parte das vezes e no limite, contraditórios (7). Temos assistido nas ultimas décadas, primeiro a um processo de esvaziamento semântico da noção de patrimônio, para em seguida observar – no Brasil de forma aguda e preocupante – um rápido processo de ressemantização quase sempre distanciado da necessária fundamentação teórica (8). Se, é inegável que o patrimônio ganhou amplitude, também é indiscutível a necessidade de aprofundar o debate, com seriedade e fundamento. Não é suficiente afirmar categórica e tautologicamente a nova condição de ampliação de sentido para que ela se legitime, conforme esclarece a professora Beatriz Kuhl: "a reflexão teórica (nesse campo) é necessária para que o juízo possa ser mais objetivo, mesmo que mutável; porque o juízo pode mudar, mas não é arbitrário” (9).

Origens do patrimônio e da preservação no Brasil

Capa do Decreto-Lei n. 25, que funda o Sphan. A redação do anteprojeto é de Mario de Andrade e a redação final de Rodrigo Melo Franco de Andrade

O entendimento da relação de cada sociedade com o tempo, continuamente em mutação, é o complexo ponto e partida para se tentar entender a necessidade de lembrar, a necessidade de patrimônio e de história que se colocou de maneira irreversível para a Europa Ocidental a partir do século XIX. A reflexão sobre as ideias e as práticas que estão na origem e definição do patrimônio e sua preservação no Brasil nos conduz (10) necessariamente à pesquisa sobre a história da organização e o funcionamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. E o desenrolar das pesquisas acabam por apontar para aquele que é considerado como o texto fundador do Iphan, o “Anteprojeto para criação do Serviço Histórico e Artístico Nacional” (11), documento elaborado por Mario de Andrade em 1936 e que, segundo autores com os quais vamos dialogar aqui, teria sido preterido na prática em favor do Decreto-lei n. 25, publicado em 1937, o mesmo ainda vigente, cujo texto é considerado por outros autores (com os quais concordamos) como mais enxuto e mais adequado à prática legislativa e à administração do trabalho patrimonial.

Denso e polêmico, tanto nos detalhes do texto como na sua abrangência, o Anteprojeto de Mario de Andrade estabelece os objetivos da nova instituição destinada a preservar o patrimônio, delimitando seu campo de ação e reflexão que, fiel à tradição européia, incluía a arte, a arquitetura, os museus e a arqueologia entre suas preocupações. Além disso, o Anteprojeto propõe uma estrutura técnico-administrativa para o Serviço do Patrimônio; define a obra de arte patrimonial, classificando-a em oito categorias; define um novo termo para nomear a proteção, "tombamento", diferente da palavra "classificação", tradução literal do francês adotada internacionalmente inclusive em Portugal; cria quatro livros de tombo e quatro museus nacionais a eles associados os quais ficam definidos assim como instrumentos e lugares da preservação (12), e nomeia interlocutores e opositores ao definir o que entende por "patrimônio artístico nacional" e como deve ser a sua preservação.

Se a função do Anteprojeto era formalizar a primeira iniciativa efetiva de institucionalização do patrimônio no Brasil e servir de base para o texto da lei, o Decreto-lei n.25, ele acaba extrapolando suas atribuições e cria discussões e polêmicas que ainda persistem. Um dos principais pontos de distinção entre os dois textos, justificativa para uma suposta dicotomia apontada na maior parte das comparações críticas entre ambos, é a inclusão, no Anteprojeto, dos "monumentos da arte popular" entre os bens que deveriam ser avaliados e eventualmente protegidos pelo Sphan, e que foram excluídos do texto do Decreto.

Oficialização da memória: a proteção necessária

A análise do Anteprojeto fundador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan (13), de autoria de Mario de Andrade, e sua comparação com o Decreto-Lei n. 25 de 1937, que cria o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Sphan, sugere novos enfoques e levanta perguntas que reabrem a discussão sobre a história da proteção do patrimônio no Brasil, oferecendo uma nova inserção à Instituição no campo da discussão intelectual de seu tempo. Os textos de Mario de Andrade e de Rodrigo Melo Franco de Andrade, elaborados entre os anos de 1936 e 1937, tinham na origem o mesmo objetivo: organizar o primeiro Serviço de Proteção ao Patrimônio Histórico e Artístico do Brasil. Porém, segundo a compreensão da maior parte dos trabalhos acadêmicos e institucionais que, a partir do final dos anos 1980 têm se debruçado sobre a constituição do Sphan e sua história (14), esses dois textos seriam conceitual e ideologicamente antagônicos. Além disso, sempre de acordo com estes autores, o texto que prevaleceu na forma do Decreto-lei n. 25, preterindo o Anteprojeto, teria gerado uma ação patrimonial “elitista” ou até “classista” pelo fato de proteger preferencialmente a arquitetura religiosa e militar do Brasil colonial, reveladora do “desejo por um país passado, com quatro séculos de história, extremamente católico, guardado por canhões, patriarcal, latifundiário, ordenado por intendências e casas de cadeia, e habitado por personagens ilustres, que caminham entre pontes e chafarizes” (15).

A classificação “monumentos de pedra e cal”, que acompanha a tradição na área da preservação de edifícios referindo-se à sua técnica construtiva, é desclassificada e renomeada como “patrimônio de pedra e cal das elites”, por esses mesmos autores que entendem a primeira fase de trabalho do Sphan como “a sacralização da memória em pedra e cal (...) e a eleição de uma etnia, dita civilizada, em detrimento de outras à margem do processo” (16). Ao estabelecer uma identificação preferencialmente político-ideológica desse serviço público e de seus criadores com o governo sob o qual ele foi criado, concordando com Antonio Luiz Dias de Andrade, marca-se o Sphan com “o estigma de um órgão constituído sob a égide do Estado Novo, circunstância que com freqüência tem sido avocada com o propósito de desmerecer o produto da sua ação, limitada, segundo vozes correntes, ao cultivo das obras excepcionais, fruto do gosto e da iniciativa das elites dirigentes. A pecha estadonovista que geralmente costuma freqüentar a crítica sobre a atuação do órgão não deixa de causar incômodos, contra-argumentando seus defensores que o anteprojeto de lei elaborado pela isenta figura de Mario de Andrade havia percorrido todos os trâmites do Congresso Nacional quando foi surpreendido pelo golpe de Estado de 1937” (17). Analogias estabelecidas com períodos mais recentes da história do Brasil colaboram também para reforçar essa leitura, conforme esclarece Ítalo Campofiorito em 1987: “o julgamento desconfiado de um Sphan nascido na revolução de 30 e começando a vida no Estado Novo resulta de olhar-se 1930, 35 e 37 através de analogia descabida com o golpe de 1964 (...) Através, agora, de tantas informações revividas percebe-se melhor que não foram o Sphan e os ‘modernos’ (embora funcionários) que se refestelaram na ditadura. Foi Getulio Vargas quem serviu-se do prestígio internacional da arte moderna” (18).

Mais frequente ainda hoje do que supunha Campofiorito há mais de vinte anos, essa interpretação da história do Iphan prevaleceu a partir dos anos 1980 de forma quase hegemônica, privilegiando o enfoque sociológico/antropológico e desconsiderando que a área da preservação do patrimônio vem se construindo internacionalmente desde o século XIX como um campo disciplinar específico através de discussões teóricas e das obras executadas de restauro e conservação de edifícios e obras de arte. A maior parte dessas análises também não têm considerado a extensa e variada documentação de trabalho contida nos arquivos do próprio Iphan. Os documentos internos – cadernos de obra, inventários, pareceres, correspondências, mapas e fotografias – são janelas privilegiadas que possibilitam um novo olhar sobre o Serviço, “um olhar desde o lugar do Outro” nas palavras de Stuart Hall, ou um olhar que desvenda nuances da mesma paisagem focando-a a partir de dentro. Leituras exógenas, trabalhando preferencialmente a partir da “face pública” mais difundida do Sphan com o objetivo de interpretar as políticas de atuação e as práticas institucionais, acabam por privilegiar fontes documentais como atas do Conselho Consultivo, listagens de bens tombados ou a relação de títulos de artigos da Revista do Patrimônio, sendo assim conduzidas a reduzir o trabalho, a reflexão e a ação institucional do Sphan ao ato de proteção consubstanciado pelo tombamento.

Quando analisa a Revista do Patrimônio nos seus primeiros cinco anos, Lauro Cavalcanti, arquiteto e antropólogo de formação, ressalta o “perfil de um Patrimônio que privilegia os bens de pedra e cal, sobretudo religiosos, de Minas e Rio de Janeiro”, conclusão baseada, entre outros fatores, nos dados percentuais sobre a recorrência dos temas tratados e dos títulos dos índices das Revistas: “predominam artigos sobre arquitetura, arte e história (84%), sendo os restantes 16% dedicados, nessa ordem, à etnografia, museologia e história natural. Mais da metade (68%) dos artigos de arquitetura, arte e história abordam temas religiosos, 58% tratam da Região Sudeste – Minas Gerais e Rio; 23% do Nordeste; 13%, da Região Sul; e 6%, da Amazônia” (19). Quando caberia, primeiro contextualizar a ação do Sphan na realidade do Brasil no final da década de 1930 aprofundando a discussão sobre a ação das instituições nacionais com representatividade regional. Para em seguida assinalar a preocupação dos dirigentes do Sphan, desde a edição do primeiro número da revista, com a presença da arquitetura vernácula e da arte popular, ou folclore, nas publicações. “E folclore? já pode entrar na revista?”, perguntava Mario de Andrade a Rodrigo Melo Franco em junho de 1937, a propósito da pauta do primeiro número da Revista do Sphan, recebendo do interlocutor a seguinte resposta: “A propósito do folk-lore desconfio que não haverá por enquanto lugar para ele na revista, atendendo-se às atribuições atuais do Serviço. Entretanto, assim que for promulgada a lei nova (...) penso que devemos introduzi-lo, compreendido no conceito de arte popular” (20).

O fato de prevalecerem profissionais-arquitetos nos quadros funcionais do Sphan, também vai apoiar a critica de Lauro Cavalcanti, servindo para reforçar sua conclusão de que esta teria sido uma das razões da preferência pela proteção dos “bens de pedra e cal, com ênfase na arquitetura setecentista mineira” (21)·. A partir dessa constatação ele critica a priorização “elitista” da arquitetura como suporte da memória e da técnica construtiva da “pedra e cal” como critério de identificação, hierarquização e proteção no Brasil. Argumento com o qual concorda Mariza V. Motta Santos: “a predominância desses profissionais (arquitetos) no quadro geral da instituição vai permanecer até a década de 70, quando, senão em número de técnicos, mas pelo menos em termos de idéias, o discurso antropológico adquire hegemonia” (22).

No Brasil, as tentativas de fazer prevalecer a hegemonia da antropologia no campo da preservação e do restauro, na contramão da transdisciplinaridade inerente ao campo, localiza e conforma o corpo das idéias com as quais interessa dialogar para contrapor um Sphan criado a partir do Anteprojeto elaborado por Mario de Andrade que é definido como “revolucionário” pelo fato contemplar uma visão abrangente de cultura, antropológica avant la lettre, a outro Sphan que se consolidou a partir do texto do advogado “conservador” Rodrigo Melo Franco de Andrade, responsável pela redação do Decreto finalmente promulgado em 1937. Sempre segundo estes pesquisadores, comprometido com a política do Estado Novo, Rodrigo Melo Franco teria deixado de lado a abrangência das considerações de Mario de Andrade a favor de um instrumento legal restritivo, montado “para defender um patrimônio de classe”. Ainda, a ação desenvolvida pelo Sphan, amparada pelo Decreto lei n. 25, estaria voltada preferencialmente ao tombamento dos monumentos mais representativos da história e da arte brasileiras, trabalhando segundo critérios de atribuição de valor inseridos na tradição europeia, e assim legitimando “o desenho de um Brasil elitista”, cujo “vanguardismo” estaria principalmente na adoção dos conceitos para a área dos Monumentos Históricos expressos na Carta de Atenas de 1931 (23).

Ora, a Carta de Atenas foi a primeira carta internacional de princípios para a restauração de monumentos, sendo publicada após a reunião ocorrida em Atenas em 1931, promovida pelo Escritório Internacional dos Museus / Sociedade das Nações. Esse documento internacional de compromisso para a restauração e a preservação dos bens patrimoniais, como se sabe, não discutia critérios de valorização dos monumentos para efeito de proteção, decisões estas sempre situadas no âmbito da cada nação participante – como todas as chamadas Cartas Patrimoniais, a primeira delas não é uma cartilha, não define regras ou leis a serem obedecidas, não protege através de legislação. O fato de Rodrigo Melo Franco de Andrade citar a Carta de Atenas, apenas cinco anos após a sua assinatura, deveria ser visto menos como “uma atitude ideológica de compromisso com as elites europeias e seu patrimônio deixado no Brasil”, e mais como uma demonstração de rigor conceitual e atualização no trato das questões patrimoniais do Brasil, conforme seu próprio depoimento: “Recentemente se reuniu uma conferência internacional para assentar, na órbita mundial, as mesmas e oportunas medidas que o nosso serviço objetiva e sob o alto e inspirado sentido de que os patrimônios históricos a artísticos nacionais transcendem e são de interesse da comunidade universal” (24).

Ideias e práticas solidárias

A revisão sistemática da correspondência entre Mario de Andrade e Rodrigo Melo Franco de Andrade e a releitura de textos produzidos na época, foram o ponto de partida para ampliar o campo de debate e problematizar esse crítica ao Sphan que foi se consolidando a partir dos anos 1980. A primeira conclusão propiciada por essa volta às fontes é que o Anteprojeto tinha, para o seu autor, o caráter de uma proposta aberta a ajustes e complementação, ajustes que de fato ocorreram não só no texto final como no cotidiano de trabalho: “Meu caro Rodrigo, Li seu projeto de lei que achei, pelos meus conhecimentos apenas, ótimo. Aliás, preliminarmente é preciso que eu lhe diga com toda a lealdade que dado o anteprojeto a Capanema, eu bem sabia que tudo não passava de anteprojeto. Vocês ajudem com todas as luzes possíveis a organização definitiva, façam e desfaçam à vontade, modifiquem e principalmente acomodem às circunstâncias, o que fiz e não tomou em conta muitas circunstâncias porque não as conhecia. Não sou nem turrão nem vaidoso de me ver criador de coisas perfeitas. Assim não tema por mudanças ou acomodações feitas no meu anteprojeto” (25).

Da mesma forma, essa correspondência esclarece as circunstâncias que teriam levado à reestruturação do Anteprojeto encomendado a Mario de Andrade, circunstâncias de ordem jurídica e operativa: “Mário, Não há lei nenhuma, por enquanto, instituindo o Serviço do Patrimônio Histórico Nacional. O que há é apenas uma exposição de Capanema ao presidente da república (...) e a autorização de Getúlio para se iniciar o serviço na conformidade do plano que Você traçara (...) entretanto, na reforma do Ministério que se acha em terceira discussão na Câmara, ou melhor, no respectivo projeto foi incluída uma disposição criando definitivamente o Sphan (...). E, ao mesmo tempo, aquele anteprojeto que elaborei, baseado no seu trabalho, deverá ser também submetido em breve à Câmara” (26). Argumento confirmado pela palestra noticiada no jornal Diário da Noite do dia 19 de maio de 1936, onde Rodrigo Melo Franco confirma os contornos e atribuições do recém-criado Serviço de Defesa “do patrimônio histórico e artístico dos brasileiros”, definindo-os na amplitude conceitual de Mario de Andrade, mas preocupando-se naquele momento principalmente com o tombamento dos monumentos que corriam perigo de desaparecimento, uma operação que não foi de forma nenhuma excludente em relação à preservação da “arte popular”: “Nosso trabalho compreenderá, de acordo com o projeto, aliás já divulgado na imprensa, arqueologia, etnografia e arte popular, iniciando-se, antes de tudo, o tombamento para se saber e avaliar o que existe. As bases para realizá-lo exigem um estudo atento, porque logo ressaltam a sua complexidade, a sua extensão e profundidade” (27).

Ainda com base nessa documentação, é possível concluir que as diferenças que se poderia apontar nos textos do Anteprojeto e do Decreto foram sendo resolvidas na prática cotidiana da Instituição através de uma ação conjunta e abrangente que incluía muita discussão e muito estudo, indispensáveis à consolidação de um campo de conhecimento e de um campo de trabalho novos no país. O Sphan contava com um ativo corpo técnico de colaboradores inseridos com destaque nos embates culturais do seu tempo, a maior parte deles defendendo posições artísticas de vanguarda. Em torno do Sphan e de Rodrigo Melo Franco de Andrade – seu diretor desde a criação, em 1936, e durante seus primeiros trinta anos de existência – o trabalho obedecia a rigorosos critérios científicos, contando com a adesão de técnicos e colaboradores, funcionários, interlocutores e amigos, correspondentes assíduos ou freqüentadores dos cursos especialmente organizados, dos debates e até das reuniões de final de tarde promovidas na Repartição, entre eles Mario de Andrade, Gilberto Freire, Prudente de Morais Neto, Afonso Arinos de Melo Franco, Manuel Bandeira, Joaquim Cardoso, Carlos Drummond de Andrade, além dos arquitetos Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Luiz Saia, Ayrton Carvalho, Sylvio de Vasconcellos, José de Souza Reis, Paulo Thedim Barreto, Renato Soeiro, Alcides da Rocha Miranda. Lembrando-se que o Sphan foi criado às vésperas da Segunda Grande Guerra, e que teve que desenvolver sua prática durante os primeiros dez anos de funcionamento, confrontando a doutrina com a realidade brasileira quase sem interlocução com o centro de discussão sobre patrimônio, a Europa Ocidental, onde, naquele momento, mais se destruía do que restaurava e protegia os monumentos.

Segundo Maria Cecilia Londres da Fonseca, no Sphan trabalhava-se de acordo com uma “ética do saber” – compromisso irrestrito com a autenticidade dos objetos e a verdade do conhecimento produzido sobre eles – aliada a uma “ética do fazer” – defesa do interesse público acima de interesses particulares e mesmo de um governo –, na mais absoluta honestidade e transparência na gestão dos recursos públicos, e na devoção completa e desinteressada de uma equipe ao trabalho na instituição (28). E, reconhecidamente, no Sphan trabalhava-se também produzindo conhecimento, seja nos canteiros de obra e nas oficinas, seja pesquisando e inventariando, seja teorizando sobre esse trabalho. Mas não exatamente nos moldes de uma Academia, se esta for entendida como uma comunidade fechada e dogmática, uma corporação de ofícios na forma de transmissão da sua herança e na formação de “discípulos” que viessem a constituir “pequenas linhagens”, “cultuando os mesmos totens, ou seja, as mesmas concepções sobre as mesmas categorias simbólicas” (29). Desde a sua criação e até o final da década de 1970, o Sphan começa a ensaiar uma metodologia de trabalho essencialmente dialética, em que as pesquisas, os estudos e os inventários se combinavam à execução de obras de conservação e restauração para criar novos instrumentos operativos, formuladores dos conceitos que iriam realimentar a prática da Instituição, como de resto vinha sendo caracterizado o processo cíclico de produção de conhecimento no campo da preservação em nível internacional (30).

De acordo com essa tradição, o trabalho de campo, a prática, adquire uma dimensão particular: “Somos de um estamento diferente. Se eu estivesse numa universidade, continuaria fazendo a minha pesquisa, publicaria meu livro e daria minhas aulas, eu poderia especular sobre o que eu quisesse. No nosso caso dependemos do Estado para viabilizar nossa experiência, porque a nossa produção intelectual é em cima de uma prática, nós precisamos ter uma prática, para podermos elaborar e teorizar sobre ela. A condição da nossa sobrevivência produtiva é a existência de uma prática para trabalhar; sem ela, não produzimos” (31). Na dinâmica dessa relação, prática e teoria estavam tão intimamente associadas que, no ano de 1949, o arquiteto Lucio Costa chegou a propor a paralisação da Divisão de Estudos de Tombamento do Sphan, pela qual era responsável, e que cuidava tanto das obras de restauração e consolidação em andamento como dos estudos de tombamento, para que se pudesse realimentar a Divisão de informações e reelaborar os fundamentos sobre os quais deveriam se assentar as iniciativas do Sphan (32).

Ao privilegiar o conteúdo de textos sobre a ação cotidiana do Sphan como fontes de pesquisa – atas, correspondências, memorandas e pareceres, ou os dados e informações sob a guarda dos arquivos da Instituição –, foi possível constatar que de fato esta ação extrapolava o trabalho com o tradicional patrimônio histórico e artístico, ultrapassava largamente a ação de tombar, para abranger praticamente todo o universo cultural, sendo entendida de maneira ampla por aqueles que dela participavam como uma ação política, que se poderia até reconhecer como “ministerial”: seria como se o Sphan respondesse pela área cultural na estrutura do Ministério da Educação e Cultura ao qual estava vinculado.

A análise dos primeiros inventários realizados por Mario de Andrade, primeiro responsável pela Regional do Sphan em São Paulo, trabalho no qual se lança na sequência da elaboração do Anteprojeto, ilustram bem a construção e a continuidade dessa opção de caráter conceitual, mas também prático de gestão. O arquiteto José Pessoa, na introdução do livro Lucio Costa: documentos de trabalho, refletindo sobre essa importante iniciativa – organizar e divulgar os pareceres e estudos de tombamento elaborados pelo arquiteto Lucio Costa durante os quase quarenta anos em que ocupou a direção da Divisão de Estudos e Tombamento do Sphan – confirma que “o inventário significa o registro das informações sobre determinado bem no Arquivo Central, que por isso dispõe de um variado panorama fotográfico da arte popular e arquitetura vernácula ainda existentes nos anos iniciais do Sphan. Isto, contudo, não invalidava a preocupação com a preservação daquelas obras menores, que fugiam da definição de obra de arte excepcional constante da legislação, mas que eram testemunhos da evolução arquitetônica brasileira, sendo, em muitos casos, a sua parte mais significativa. O interesse histórico, isto é, o interesse para a história da nossa arquitetura civil, era o artifício usado para proteger os elementos regionais ameaçados de desaparecimento” (33).

Assim, não é de se estranhar que Rodrigo Melo Franco de Andrade, advogado de formação, ao elaborar o texto do Decreto, compreendesse imediatamente que seria oportuna “uma restrição ligada ao interesse público nas suas atribuições funcionais, principalmente à vista das graves implicações jurídicas que fatalmente surgiriam no tocante ao direito de propriedade relativo aos bens móveis que, com certeza, iriam sobrepujar sobremaneira em quantidade os bens imóveis” (34). Ademais, como a proteção legal só pode incidir sobre “coisas”, bens móveis ou imóveis, ficou evidente que o instrumento do tombamento não era adequado para proteger manifestações da cultura popular “intangíveis” como lendas, danças, rituais, entre outras, como de resto sempre esteve claro no texto do Anteprojeto. Sendo previsível que, pelo fato de restringir o direito de propriedade, mesmo o respeitando, o tombamento acabaria por se contrapor a diferentes interesses econômicos e políticos, tornou-se imperativo que toda a ação do Sphan fosse baseada em critérios reconhecidos, bem fundamentados na história e na teoria da arte e do restauro, “juridicamente defensáveis e socialmente aceitáveis” (35).

Portanto, com base na discussão sobre a ação patrimonial do Sphan no momento da sua criação, é possível afirmar que Mario de Andrade e Rodrigo Melo Franco de Andrade não seriam as duas faces opostas do patrimônio nascente no Brasil, separadas ideologicamente a partir dos textos de seus projetos para a preservação do patrimônio, e sim as duas faces solidárias da mesma ação patrimonial, unidas por um ideal e, sobretudo, por um compromisso de trabalho. Antes de contrapor concepções diversas de patrimônio, eles trabalharam solidariamente, pensando e agindo de forma dialética e complementar, mesmo que aparentemente contraditória, como soe acontecer em qualquer processo de construção de conhecimento. Situar estes dois protagonistas no seu momento histórico é reconhecer que participaram de um debate que extrapolava em muito o limite das cartilhas do Estado Novo ou a projeção do edifício-sede do MEC sobre a área de pilotis, para incluir uma rede de muitos interlocutores, inclusive aqueles que se recusaram a frequentar as salas modernas onde se discutia a história e a tradição, como José Marianno Filho e Gustavo Barroso.

Ademais, caso a priorização da arquitetura de pedra e cal no processo de preservação tivesse sido excludente – e é preciso sempre ter claras as idéias básicas que orientam o trabalho no campo da preservação e restauro, estabelecendo a diferença entre preservação, conservação e restauração – toda a arquitetura colonial de terra disseminada pelo Brasil, exatamente aquela arquitetura que foi minuciosamente estudada, protegida e restaurada desde os primeiros anos pela Instituição, particularmente em São Paulo, teria sido deixada em segundo plano, como bem esclarece Lucio Costa: “esse complexo de inferioridade dos antigos de certo período, obrigados pelas circunstâncias, a ainda servirem de uma técnica reputada menos nobre, já não tem sentido. Importa é a maneira franca e pura pela qual cada uma das diferentes técnicas se traduz” (36).

Estudar alguns aspectos da história e dos primeiros trabalhos da representação regional paulista do Sphan, como já tem sido feito por alguns pesquisadores, aquela que está entre as quatro primeiras unidades desconcentradas surgidas quando da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, é uma forma de esclarecer e confirmar a prática de preservação abrangente disseminada a partir da direção central. Em São Paulo, desde a “fase heróica”, e até o final dos anos 90 do século XX (e diferentemente do que tem ocorrido desde então e do que ocorre hoje), a ação permanente de preservar e proteger prevaleceu na forma preconizada por Mario de Andrade, em que pesem os entraves da burocracia e os revezes sofridos pela Instituição ao longo dos anos: levando em conta a indissociabilidade entre patrimônio material e patrimônio imaterial; valorizando a cultura de raiz popular (ou etnográfica, ou folclórica); não discriminando saberes eruditos e populares e defendendo a necessidade de proteger sem necessariamente tombar (37).

Post scriptum – sobre a série de painéis “Fundação pró-Memória em extinção”

Os desenhos dos cinco painéis que ilustram este artigo foram realizados pelo Janjão, o arquiteto Antonio Luiz Dias de Andrade (1949–1997), entre os anos 1990 e 1991. Nesse período o presidente Fernando Collor de Mello transformou o Ministério da Cultura em Secretaria da Cultura vinculada à Presidência da República, extinguindo a Sphan – Pró-Memoria (que havia substituído o Iphan) e criando o IBPC – Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural, que passou por um longo período de indefinição e desmandos como “Fundação pró-Memória em extinção”, comandado por um inventariante (lembrando que o Ministério da Cultura foi criado apenas em 1985).

Dentre uma série de manifestações de protesto dos servidores da Cultura contra o desmonte em andamento também nessa área, foi organizada uma exposição na sede da Cinemateca, em São Paulo, com a participação dos funcionários da "Fundação pró-Memória em extinção", dos museus e de várias entidades culturais. Recém destituído da coordenação da Regional de São Paulo, cargo que assumira em 1978 sucedendo Luis Saia, Janjão se juntou aos outros funcionários insatisfeitos do IBPC-SP para elaborar este retrato crítico da trajetória do tradicional Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional rumo à decadência e à extinção. Trata-se de um retrato com o traço característicos dos preciosos desenhos do Janjão, ao mesmo tempo erudito, sarcástico e bem humorado.

A partir de um roteiro coletivo discutido pelos colegas, Janjão fez o primeiro desenho da série, o mais elaborado, inspirado pela fotografia do Germano Graeser (fotógrafo da Regional que trabalhara com Mario de Andrade e Luis Saia desde 1937). Representou a sala de Mario e Andrade (autor do Anteprojeto para criação do Iphan, e primeiro coordenador da regional do Iphan em São Paulo) na sua casa à Rua Lopes Chaves, não como uma cópia fiel da fotografia do Germano, mas como uma recriação, uma espécie de síntese das obras e dos objetos significativos da coleção pessoal de Mario de Andrade, como as telas O Japonês (Anita Malfatti, 1916, Coleção Mario de Andrade, IEB-USP), e Colona sentada (Portinari, 1935, Coleção Mario de Andrade, IEB-USP); peças como o oratório, o crucifixo, a mesinha e a banqueta que constavam da fotografia da sala; e o sofá, que nunca estivera ali, mas pertencera ao primeiro escritório do Iphan em São Paulo, na Rua Marconi, e que acompanhou toda a história dessa Regional; o sofá foi transformado pelo Janjão, nessa mesma época, numa espécie de metáfora da resistência Institucional, dos seus princípios e conceitos e da sua integridade, explicitada no texto apresentado por Victor Hugo Mori e publicado nessa edição de Arquitextos (38).

O anjinho barroco, companheiro e interlocutor de Mario de Andrade, estava sempre presente nas inúmeras caricaturas com as quais o Janjão criticava os descaminhos institucionais a partir de situações da Regional de São Paulo e seus dirigentes. Anjinho que também pode ser visto como a voz da consciência institucional, sempre associada a Mario de Andrade seu idealizador, ou como a caricatura de um desastrado anjo protetor da Instituição, necessariamente barroco, que se distraíra perigosamente do seu dever. Enquanto Janjão copiava, por transparência, a base do primeiro desenho para elaborar os seguintes, introduzindo os detalhes que denotam a lenta decadência da Instituição até o atropelo final – quando seus princípios, seus idealizadores e até seus suportes materiais são atropelados pelo trator da política e da burocracia – o arquiteto Victor Hugo Mori coloria os desenhos com aquarela, pincel atômico, nanquim e guache para que, depois de secos, fossem esticados sobre bases de madeira, e protegidos por um plástico transparente.

Quando sugeri a publicação e a divulgação desta série ainda inédita de painéis, descobri que eles tinham se perdido. Localizei as fotografias, porém inadequadas para a publicação, e finalmente consegui autorização e orientação dos coautores para que as fotos fossem “restauradas” no Photoshop e adaptadas para publicação, quando os painéis se revelaram para mim como eles me foram apresentados pelo próprio Janjão, há dezoito anos, quando assumi a Superintendência do Iphan em São Paulo. Porém, revendo hoje os painéis, não é sem um certo pesar que me vejo obrigada a reconhecer a surpreendente atualidade dessa crítica ferina e bem humorada ao Iphan; mesmo se referindo a acontecimentos de mais de vinte anos atrás, essa crítica se aplicaria perfeitamente à situação de uma Instituição hoje agonizante, completamente perdida de si mesma, dos seus princípios e da sua história.

notas

NA - Artigos elaborado a partir do seguinte trabalho: SANTOS, Cecilia Helena Godoy Rodrigues dos. Mapeando os lugares do esquecimento: idéias e práticas na origem da preservação do patrimônio no Brasil. Tese de doutorado. Orientador Carlos Alberto Cerqueira Lemos. São Paulo, FAU USP, 2007.

NE – Sob coordenação editorial de Abilio Guerra (editor Arquitextos), número traz dez artigos sobre o tema “Patrimônio histórico”, tendo como inspiração artigo de Clara de Andrade sobre vida e obra de seu pai, o intelectual Rodrigo Melo Franco de Andrade, falecido no dia 11 de maio de 1969. Os artigos do número especial sobre patrimônio histórico são os seguintes:

ALVIM, Clara de Andrade. Rodrigo Melo Franco de Andrade, meu pai. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.00, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4526>.

SANTOS, Cecília Rodrigues dos. A noção de patrimônio e a origem das ideias e das práticas da preservação no Brasil. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.01, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4528>.

COSTA, Lucio. Museu do Ouro. Sabará. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.02, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4532>.

ANDRADE (JANJÃO), Antonio Luiz Dias de. O discurso do sofá. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.03, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4534>.

TORELLY, Luiz Philippe. Patrimônio cultural. Notas sobre a evolução do conceito. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.04, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4539>.

CALIL, Carlos Augusto. Sob o signo do Aleijadinho. Blaise Cendrars, precursor do patrimônio histórico. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.05, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4540>.

GUIMARAENS, Cêça. Rodrigo Melo Franco de Andrade e a paisagem hiperreal do patrimônio. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.06, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4543>.

ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Brasília-patrimônio. Cidade e arquitetura moderna encarando o presente. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.07, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4547>.

ALCÂNTARA, Antonio Pedro de. Aspectos do espaço barroco na arquitetura civil dos séculos XIX e XX. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 149.08, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4550>.

PROZOROVICH, Fernando Alvarez. El patrimonio histórico como punto de vista. Notas sobre la asignatura “Intervención en el patrimonio histórico”. Arquitextos, São Paulo, año 13, n. 149.09, Vitruvius, oct. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4537>.

1
Bernadete Gatti aborda aspectos que interferem na identificação do campo da educação enquanto campo científico do conhecimento, e os problemas que ainda enfrenta para ser reconhecido enquanto tal. O paralelo com o campo da preservação, que também procura a melhor qualificação das suas áreas atinentes para afirmar sua unidade, pode ser ilustrativo. Em ambos a diversidade disciplinar e a necessária inter ou transdisciplinaridade fazem levantar a questão da multiplicidade de abordagens, como também a urgência de se definir a especificidade associada ao campo e a sua circunscrição. Particularmente em relação à preservação, seria fundamental que o debate deixasse de ser caracterizado como “disputas pelo poder, de caráter corporativo ou ideológico, entre campos disciplinares concorrentes”, conforme se tem observado desde a década de 1980. GATTI, Bernadete A. Questões metodológicas e práticas em pesquisas em educação. Cadernos de Pesquisa, vol. 2, n. 3, Curitiba, Mestrado e doutorado em Educação, Universidade Tuiuti do Paraná, jan./jun. 2007 <http://www.utp.br/Cadernos_de_Pesquisa/pdfs/cad_pesq3/4_questoes_cp3.pdf>.

2
KUHL, Beatriz. História e ética na conservação e na restauração de monumentos históricos. Revista CPC, São Paulo, USP, n. 1, nov. 2005/abr. 2006 <www.usp.br/cpc/v1/php/wf07_revista_interna.php?id_revista=2&id_conteudo=6&tipo=5>.

3
Ver: SANTOS, Cecilia Helena Godoy Rodrigues dos. Mapeando os lugares do esquecimento: idéias e práticas na origem da preservação do patrimônio no Brasil. Tese de doutorado. Orientador Carlos Alberto Cerqueira Lemos. São Paulo, FAU USP, 2007.

4
Essa questão é tratada em NORA, Pierre. Les Lieux de Mémoire. Paris, Gallimard, 1997 (3 volumes, 4751 páginas).

5
Ver: SANTOS, Cecilia Rodrigues dos. Patrimônio Cultural: documentação e reflexão necessárias. In: CUREAU, Sandra et al. (org.). Olhar multidisciplinar sobre a efetividade da proteção do patrimônio cultural. Belo Horizonte, Fórum, 2011.

6
Ver: DI MEO, Guy. Processus de patromonialisation et construction des territoires. ADES – Aménagement, Développement, Environnement, Santé et Sociétés <www.ades.cnrs.fr/IMG/pdf/GDM_PP_et_CT_Poitiers.pdf>.

7
Idem, ibidem.

8
Ver: DOMINGUES, Álvaro. A paisagem revisitada <www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/2001-72/72_05.pdf>.

9
Notas de aula, 2006.

10
SANTOS, Cecilia Helena Godoy Rodrigues dos. Op. cit.

11
Texto consultado: Anteprojeto para criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional, fac-símile do documento datilografado encaminhado do texto principal : Discussões ; Organismo do S.P.A.N; Plano Qüinqüenal de Montagem e Funcionamento do S.P.A.N, assinado por Mario de Andrade como diretor do Departamento de Cultura e Recreação de São Paulo, e enviado ao ministro Gustavo Capanema, datado de 24 / III / 36 – FGV/CPDOC; arq. GCc 36.03.24/2. In: Revista do Patrimônio, Iphan, n. 30, 2002, p. 271-288. Fazem parte do documento, além do texto principal: Discussões ; Organismo do S.P.A.N; Plano Qüinqüenal de Montagem e Funcionamento do S.P.A.N.

12
A recente incorporação dos museus nacionais ao Instituto Brasileiro de Museus – Ibram, criado pela Lei nº 11.904/2009 com o intuito de “pensar numa estrutura capaz de gerir políticas públicas fundamentais para o desenvolvimento das instituições museológicas brasileiras( http://www.cultura.gov.br/site/2009/01/21/presidente-lula-sanciona-criacao-do-instituto-brasileiro-de-museus-ibram/), ou seja, criado por razões sobretudo político-administrativas, não sendo precedida de uma reflexão que lhe desse um embasamento à altura do Anteprojeto, ou de uma discussão, ampla, sobre o significado e as consequências para o sistema de preservação no Brasil desse isolamento dos museus em relação à sua área histórica de origem.

13
Nomes pelos quais é conhecida a Instituição: Sphan – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1937 – 1946); Dphan – Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1946 – 1970); Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1970 – 1979); Sphan – Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1979 – 1990); IBPC – Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (1990 – 1994); Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (desde 1994). Nas correspondências aparece também PHAN – Patrimônio Artístico Nacional.

14
No âmbito da tese de doutorado na qual se apóia este trabalho, dialogamos especialmente com os autores: Antonio Nogueira (NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos. Por um inventário dos sentidos. Tese de doutorado em história, PUC-SP, 2002 – interpreta as concepções de Mario de Andrade, tentando definir um novo instrumento de trabalho para a área da preservação do patrimônio imaterial, aquele que considera legítimo, que batiza de “inventário dos sentidos”); Silvana Rubino (RUBINO, Silvana. O mapa do Brasil passado a limpo. Revista do Patrimônio, Rio de Janeiro, n. 24, 1996, artigo elaborado a partir de: RUBINO, Silvana. As fachadas da história: os antecedentes , a criação e os trabalhos do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Dissertação de mestrado. Campinas, Departamento de Antropologia/IFCH Unicamp, 1991 – análise da atuação o Sphan a partir da classificação da listagem dos 689 bens tombados durante a gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade, concluindo que “ o conjunto dos bens tombados desenha um mapa de densidades discrepantes nas diversas regiões, períodos e tipos de bens, formando conjuntos fechados e finitos”); Mariza Veloso Motta Santos (SANTOS, Mariza Veloso Motta. “Nasce a Academia Sphan”. Revista do Patrimônio, Rio de Janeiro, n. 24, artigo elaborado a partir de: SANTOS, Mariza Veloso Motta. O tecido do tempo: a idéia de patrimônio cultural no Brasil, Tese de Doutorado. Brasília, Departamento de Antropologia / UnB, 1992 – trabalha a partir do conceito de formação discursiva, identificando o Sphan com uma Academia, a “institucionalização de um lugar da fala”, e privilegiando as atas do Conselho Consultivo – criado em 1938 para deliberar sobre tombamentos – como fonte de pesquisa, tomando o tombamento como atividade central, um rito social “através do qual se supõe a transferência geracional dos valores históricos e estéticos, que o grupo selecionou como expressivos da nação”); Lauro Cavalcanti (CAVALCANTI, Lauro (org.). Modernistas na repartição. Rio de Janeiro, UFRJ/MinC-Iphan, 2000).

15
RUBINO, Silvana. O mapa do Brasil passado a limpo (op. cit.), p. 97.

16
NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos. Por um inventário dos sentidos. Tese de doutorado. São Paulo, História/PUC-SP, 2002, p. 190.

17
ANDRADE, Antonio Luiz Dias de. Um estado completo que pode jamais ter existido. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 1993, p. 4-5.

18
CAMPOFIORITO, Ítalo. As primeiras árvores. Revista do Patrimônio. Rio de Janeiro, n. 26, p. 18, 1997.

19
CAVALCANTI, Lauro (org.). Modernistas na repartição. Rio de Janeiro, UFRJ/MinC-Iphan, 2000, p. 23.

20
Carta de Rodrigo Melo Franco de Andrade a Mário de Andrade, 11 jun. 1937. In: ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e o Sphan, coletânea de textos sobre patrimônio cultural. Rio de Janeiro, MinC/SPHAN/Pró-Memória, 1987, p. 129.

21
CAVALCANTI, Lauro (org.). Op. cit., p. 21.

22
SANTOS, Mariza Veloso Motta. Op. cit., p. 86.

23
Sobre a Carta de Atenas e seu conteúdo ver: CHOAY, Françoise (org.). La Conférence d’ Athènes sur la conservation artistique et historique des monuments (1931). Paris, Les Éditions de I’ Imprimeur, 2002.

24
Depoimento de Rodrigo Melo Franco de Andrade ao jornal Diário da Noite, 19 maio 1936. In: ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e o Sphan (op. cit.), p. 25.

25
Carta de Mário de Andrade a Rodrigo Melo Franco de Andrade, 29 jul. 1936. In: ANDRADE, Mário de. Mario de Andrade: cartas de trabalho. Brasília, MEC/Sphan /Pró-Memória, 1981, p. 60.

26
Carta de Rodrigo Melo Franco de Andrade a Mário de Andrade, 25 set. 1936. In: ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e o Sphan (op. cit.), p. 121.

27
ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e o Sphan (op. cit.), p. 24.

28
Idem, ibidem, p. 114.

29
SANTOS, Mariza Veloso Motta. Op. cit., p. 86.

30
Sobre os conceitos como instrumentos operativos ver: SYNDER, James; CATANESE, Anthony (org.). Introdução à arquitetura. Rio de Janeiro, Campus, 1984.

31
Entrevista com José Silva Quintas – que teve importante participação no CNRC e da Fundação Pró-Memória – realizada em 1988. In: Iphan – memória oral. Rio de Janeiro, n. 6, 1994. Deve-se observar que a partir da década de 1990 o Iphan começou a terceirizar projetos e obras de restauro, limitando-se hoje à aprovação de projetos.

32
Plano de trabalho para a Divisão de Estudos de Tombamento do Dphan. In: PESSOA, José (org.). Lucio Costa: Documentos de trabalho. Rio de Janeiro, Iphan, 1998, p. 83-91.

33
PESSOA, José (org.). Op. cit., p. 17.

34
LEMOS, Carlos. O que é patrimônio? São Paulo, Brasilense, 1981, p. 43.

35
Cf.: FONSECA, Maria Cecília Londres. Op. cit., p. 114.

36
Parecer de Lucio Costa a propósito da restauração da Casa de Câmara e Cadeia de Atibaia, reproduzido in: ANDRADE, Antonio Luiz Dias de. Op. cit.

37
Esta prática ainda foi mantida pelos arquitetos que sucederam Mario de Andrade à frente da Regional do Iphan de São Paulo – Luiz Saia e Antonio Luiz Dias de Andrade – desaparecendo por completo junto com tantas outras, no final dos anos 1990, quando se concluiu o “processo oficial” de burocratização e politização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, perdendo-se a Instituição de sua história, da sua prática e do seu compromisso intelectual. A autora foi superintendente regional do Iphan em São Paulo, na gestão do presidente Glauco Campelo, entre os anos 1994 e 1999, sucedendo o arquiteto Antonio Luiz Dias de Andrade.

38
MORI, Victor Hugo. O Iphan e o sofá de Mário de Andrade – introdução explicativa. In ANDRADE (JANJÃO), Antonio Luiz Dias de. O discurso do sofá. Arquitextos, São Paulo, n. 13.149.03, Vitruvius, out. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4534>.

sobre a autora

Cecilia Rodrigues dos Santos é arquiteta, com mestrado pela Universidade de Paris X-Nanterre/França, e doutorado pela FAU-USP, professora adjunta e pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tem como principais temas de especialização e trabalho a arquitetura moderna e contemporânea e a preservação do patrimônio cultural.

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