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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Este artigo apresenta reflexões sobre dois experimentos de projeto desenvolvidos por equipes de acadêmicos e profissionais em duas universidades, com o objetivo de identificar o impacto da construtibilidade e da parametrização nos processos de projeto.

english
This paper presents reflections on two design experiments developed by teams of academics and professionals in two universities, aiming to identify the impact of constructability and parameterization in the design processes.

español
Este artículo traz reflexiones sobre dos experimentos de diseño desarrollados por equipos de académicos y profesionales de dos universidades, con el objetivo de identificar el impacto de la constructibilidad y la parametrización en los procesos de diseño.


how to quote

MONTEIRO, Verner; VELOSO, Maisa; JANUÁRIO, Pedro. Construtibilidade e parametrização em projetos colaborativos. Desafios para o ensino e a prática profissional em Arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 21, n. 249.00, Vitruvius, fev. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/21.249/8004>.

Walt Disney Concert Hall, Los Angeles, 2003. Arquiteto Frank O. Gehry
Foto Verner Monteiro

Um modelo paramétrico consiste na representação computacional de um objeto construído com entidades, cujos atributos podem ser fixos ou variáveis. Os atributos variáveis podem ser representados por parâmetros e regras, de forma a permitir que objetos sejam automaticamente ajustados de acordo com o controle do usuário e a mudança de context (1). Ao possibilitar a parametrização de formas arquitetônicas pela manipulação de algoritmos computacionais, esse recurso proporcionou aos arquitetos liberdades de concepção formal sem precedentes (2).

A combinação de diversos parâmetros possibilita a criação de formas de maior complexidade, fazendo com que a parametrização traga consigo novos desafios de construtibilidade do projeto. A integração dessas duas variáveis de projeto trouxe novos paradigmas ao processo de concepção arquitetônica. A combinação da dificuldade de lidar com o meio paramétrico e a construtibilidade desses projetos passou a exigir uma sistematização particular do processo de projeto, demandando integração de conhecimento por equipes trabalhando em contextos colaborativos.

Projetos baseados em computador comumente parecem negligenciar a dimensão material da arquitetura e a sua relação com propriedades como peso, elasticidade e resistência. Na tela do computador, formas parecem flutuar livremente, sem restrições além daquelas existentes na ferramenta computacional e na imaginação do projetista (3). Nesse sentido, a introdução de tecnologias digitais ao projeto impulsiona mudanças que começam a interferir no canteiro de obras da arquitetura contemporânea (4). Exemplos pioneiros dessa arquitetura, o Museu Gugghenhein de Bilbao e o Walt Disney Concert Hall, demonstram que a forma arquitetônica necessita nascer concomitantemente a uma proposta de estrutura para que não haja risco de inexequibilidade, especialmente quando a forma define a própria arquitetura (5).

Ferramentas como a modelagem paramétrica “proporcionam novos caminhos projetuais a arquitetos por meio da quebra de relações previsíveis entre forma e representação, em favor das complexidades geradas computacionalmente” (6). Nesse sentido, o meio paramétrico é complexo, “talvez mais do que qualquer já utilizado na história do projeto” (7).

Apesar de exigir muito esforço de aprendizagem, após domínio, “o algoritmo é mais fácil de manusear do que um conjunto de desenhos” (8). A mudança para a plataforma, no entanto, implica em um custo: leva energia na forma de consumo de ações cerebrais para se acompanhar um algoritmo inteligente. Esse desenvolvimento é transformativo na medida em que ocorre um envolvimento do projetista com a era da informação, cuja tecnologia leva a maiores possibilidades de criação, onde as ideias passam a romper as barreiras tecnológicas, levando ao surgimento de inovação e exploração (9). Entretanto, “esses métodos formam parte de um kit de ferramentas mais abrangente para o projeto de arquitetura, que também inclui modos tradicionais de criação e representação como os esboços, desenhos, modelagem física e pintura”.

Projetar formas que fogem à tradicionalidade, seja com ou sem auxílio de computador, exige ir além da criação de geometrias complexas nas fases conceituais: a construtibilidade do edifício deve ser também introduzida no processo de projeto. Ela acontece quando há a integração entre três campos de conhecimento: construção, planejamento e projeto (10).

A difícil tarefa de materialização da arquitetura contemporânea fez surgir no mercado empresas especializadas na integração entre projetos de geometrias complexas e processos construtivos. Alguns autores (11) indicam que a inserção dessas empresas ocorre em fases distintas do processo de projeto. Enquanto algumas delas se inserem desde as fases iniciais, outras entram na conversão de protótipos de projeto de escala reduzida em edifícios de escala 1:1.

Esse fenômeno de mercado vai contra o que defende o manifesto do Novo Estruturalismo (12). Ele define que estrutura, programação computacional e fabricação de sistemas materiais se tornaram área de estudo comum a arquitetos e engenheiros calculistas. O manifesto reforça que os processos de projeto devem retornar às suas fontes materiais, o que remete a pensar, colaborativamente, a construtibilidade desde as fases iniciais de concepção do projeto.

“A construtibilidade dialoga com sistemas de gerenciamento de projeto que usam conhecimento construtivo otimizado e experiência para potencializar o resultado da obra” (13). Para os autores, à medida que o processo projetual está vias de considerar aspectos de construtibilidade, as relações entre os elementos físicos e digitais ganham novas formas. A integração preocupa-se menos com o estudo da forma das representações digitais, e mais com questões de construtibilidade. Nesse sentido, o uso de protótipos físicos em escala 1:1, os chamados mock-ups, com os sistemas do edifício produzidos por fabricação digital, promovem informações valiosas para o desenvolvimento do projeto (14).

É a partir da articulação apropriada entre o conhecimento em construtibilidade e habilidades com o meio digital que a agenda para o futuro dos cursos de arquitetura deve ser estruturada (15). E essa diretriz pode ser também conduzida para o meio profissional, para aqueles que decidam pela adoção da tecnologia, ainda que tardiamente.

A partir deste contexto, pergunta-se: Como a integração entre construtibilidade e parametrização interfere no processo de projeto colaborativo de arquitetura, tanto em nível de formação como de atuação profissional? Lançamos a hipótese de que a construtibilidade do edifício, enquadrada como restrição prática (16), assume caráter de restrição radical (aquela que guia ou constitui a base essencial de determinados processos de projeto), e deve ser integrada à geração paramétrica da forma (restrição formal) durante todas as fases do processo de projeto. Ou seja, a parametrização deve dialogar constantemente com soluções construtivas potencialmente conhecidas pelos projetistas.

Para testar essa hipótese, foram realizados experimentos de projeto com grupos de estudantes e profissionais, com o objetivo de analisar, através do mapeamento das ações projetuais adotadas, como a construtibilidade e a parametrização integraram-se no processo de projeto. Mais especificamente, buscou-se averiguar principalmente duas situações distintas: 1) quando o estudo da forma paramétrica é priorizada em detrimento das soluções técnicas construtivas, sendo a restrição formal a guia do processo de projeto; e 2) quando as soluções técnicas construtivas são consideradas para subsidiar a criação das alternativas paramétricas, tornando-se a restrição radical do projeto.

Metodologia

A metodologia do estudo consistiu na realização de experimentos de projeto em dois níveis distintos: na formação acadêmica de graduação com equipes de estudantes e na formação pós-graduada profissional com equipes de arquitetos e engenheiros. Os experimentos com acadêmicos ocorreram com uma turma de estudantes de arquitetura de diversas nacionalidades, na Universidade de Lisboa. Os experimentos com profissionais, por sua vez, ocorreu na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, envolvendo arquitetos e engenheiros civis brasileiros com experiência profissional variando entre cinco e trinta e quatro anos.

O estudo realizado na Universidade de Lisboa – UL, Portugal (17), foi conduzido durante o ano acadêmico de 2019-2020, durante a disciplina Modelação Geométrica e Generativa, que faz parte do programa de mestrado integrado da Faculdade de Arquitetura da UL. Oito estudantes, de cinco diferentes nacionalidades, foram divididos em dois grupos e supervisionados por três professores. É importante destacar que nenhum dos participantes tinha experiência profissional como projetistas, uma vez que o tratado de Bolonha dá a possibilidade de o mestrado ser feito de modo imediatamente subsequente à graduação.

O experimento com profissionais envolveu projetistas que participaram de uma ação integrada de ensino, pesquisa e extensão, que foi sediada na UFRN em Natal RN (18). Era requisito básico ter experimentado a prática profissional, além do interesse em se capacitar em ferramenta projetual paramétrica, especificamente com o plug-in Grasshopper, e os add-ons Karamba3D e Kangaroo, do software Rhinoceros.

Durante a realização de ambos os experimentos (com estudantes e profissionais), duas fases foram bem definidas: treinamento e concepção, que foram subdivididas em estágios específicos. A fase de treinamento envolveu a capacitação em ferramenta computacional de modelagem paramétrica, uma vez que tanto os estudantes como os profissionais não possuíam habilidades nesse meio projetual, seja atuando na academia ou no meio profissional. Foram realizados exercícios que envolveram desde a mais simples até a mais complexa manipulação da forma. Na fase de concepção, que durou quatro semanas, os envolvidos nos experimentos tinham que elaborar um projeto paramétrico em colaboração com seus pares, normalmente formando grupos de quatro pessoas. Foi na fase de concepção que foram observados e analisados os processos de projeto, uma vez que a fase de treinamento não envolveu concepção.

Os grupos de estudantes foram nomeados como colaborativo ensino 1 (CE1). Os dois grupos de estudantes envolvidos (G1-E e G2-E) conceberam propostas para um pavilhão de estadia e contemplação em uma pequena área do Jardim do Estoril, situado na região metropolitana de Lisboa. Os seis grupos de profissionais (G1-P a G6-P) desenvolveram uma passagem coberta para interligar dois edifícios do Departamento de Arquitetura da UFRN, em Natal, Brasil. Os grupos G1-P a G3-P foram compostos apenas por arquitetos, e os grupos G4-P a G6-P mesclou arquitetos e engenheiros civis. Isso fez surgir duas subcategorias: colaborativo profissional 1 (CP1) e colaborativo profissional 2 (CP2).

Para ambas as categorias, tanto estudante como profissional, um enunciado projetual determinou que as propostas deveriam obrigatoriamente observar restrições projetuais de pré-existência do local, mas sobretudo, restrições construtivas relativas à lista de materiais e quantidades fornecidas. Para o experimento com estudantes em Portugal, ficou estabelecido que o material principal seria palete de madeira, e para o experimento com os profissionais no Brasil, peças de madeira de seções retangulares distintas.

Além destas restrições, também foi exigido que o projeto apresentasse complexidade geométrica, e que um dos meios de concepção fosse a modelagem paramétrica, para que o projeto surgisse a partir da geração de alternativas originadas pela manipulação de parâmetros. O projeto alvo do experimento no Brasil teve uma peculiaridade: a possibilidade de uma das seis propostas desenvolvidas ser executada, escolhida por um júri composto por professores e representantes da Universidade em um concurso interno de ideias.

Os processos projetuais no ensino e na prática

Foi sugerido que todos os grupos adotassem quatro ações projetuais: 1) elaboração de plano de atividades e cronograma do processo projetual; 2) definição da modalidade colaborativa; 3) estudo de referências projetuais; e 4) definição do partido arquitetônico. A partir destas ações, os grupos ficariam livres para adotar outras estratégias, de acordo com a sua interpretação do problema projetual.

Os projetos da categoria CE1 (grupos com quatro estudantes cada) tiveram processos que percorreram caminhos relativamente distintos. Enquanto o primeiro grupo pensou que o módulo básico seria o palete dividido em quatro partes quadradas, em vista superior, o segundo grupo pensou em segmentar cada palete em fatias (correspondentes a uma faixa do ripado de madeira). A partir dessa definição, os estudantes do G1-E definiram uma forma geométrica orgânica cujo interior seria preenchido pelos ¼ de paletes, fazendo coincidir os apoios centrais para dar sustentação estrutural por sobreposição. Essa análise de viabilidade construtiva feita pelo grupo foi um fator decisivo para a viabilidade da proposta. O G2-E, por sua vez, teve a intenção de criar uma forma que pudesse gerar alternativas de contração e expansão por meio da movimentação das fatias de paletes. O estudo da materialidade do módulo, desde a segunda semana, usando modelos físicos, foi fundamental para que os estudantes conseguissem abstrair o que pensaram em criar. Os intervalos numéricos de contração e expansão dos módulos, percebidos durante o estudo de materialidade, foram a base fundamental para que a modelagem paramétrica fosse desenvolvida.

Na categoria CP1, composta por quatro arquitetos cada, os grupos G1-P e G2-P desenvolveram propostas relativamente semelhantes, mas com processos também distintos. Ambos consideraram as restrições construtivas desde a geração da forma.

O primeiro grupo buscou focar, com grande ênfase, na análise de viabilidade construtiva e a sua incorporação ao modelo paramétrico desenvolvido. Isso envolveu diversos ciclos de análise, síntese e avaliação (19), por meio da exploração de multimeios e multidomínios projetuais (20). A análise de alternativas paramétricas os ajudou a alterar dramaticamente a forma, a uma semana do fim do prazo de entrega dos resultados.

Os profissionais do segundo grupo pensaram na sua proposta projetual de maneira altamente integrada a questões construtivas, inclusive com o planejamento de racionalização geométrica de cada encaixe e rotação do módulo básico do projeto. Contudo, poucos usaram a modelagem paramétrica para auxiliá-los, devido ao fato de a ferramenta ter se tornado uma forte restrição aos participantes. Isso comprometeu a criação de uma gama de alternativas que poderiam possivelmente ser escolhidas.

O grupo G3-P explorou bastante a modelagem paramétrica e a criação de alternativas, desde a segunda semana de trabalho. Isso envolveu a remodelação da proposta projetual algumas vezes. Apesar da riqueza na exploração da ferramenta, a análise de viabilidade construtiva ficou para o final do processo, gerando inconsistências de adaptabilidade dos detalhes típicos projetados.

A categoria CP2, que tiveram grupos com um engenheiro civil e três arquitetos cada, desenvolveram propostas de resultados formais bastante distintos. As três equipes tiveram um ponto em comum: analisaram a viabilidade construtiva de possíveis soluções concomitantemente à criação da forma, desde os estágios iniciais, sempre com intensa participação do engenheiro civil. Foi dessa categoria que saíram os dois primeiros lugares no concurso interno de ideias lançado pela UFRN.

O grupo G4-P desenvolveu uma proposta baseada na pré-existência da cobertura de um dos edifícios cuja nova cobertura iria interligar, usando os triângulos das treliças como embrião conceitual. Analisaram como viabilizariam a fixação da nova estrutura àquela existente desde as primeiras semanas do processo. Depois da resolução da forma potencial e de suas consequentes implicações construtivas, planejaram e desenvolveram a modelagem paramétrica, que sempre esteve articulada à idealização de um encaixe estrutural universal. A criação de um modelo estrutural e a posterior análise estrutural serviram também de base para esses encaixes, tendo reflexão direta na geração das alternativas paramétricas. Desse modo, os requisitos técnicos acompanharam o desenvolvimento da forma arquitetônica a todo momento.

Projeto do grupo G4-P
Elaboração dos projetistas

Processo de projeto do grupo G4-P
Elaboração a partir de acervo dos projetistas

Os profissionais da equipe G5-P idealizaram uma proposta considerando especialmente uma restrição simbólica, baseando a volumetria no formato de ocas indígenas brasileiras. As ações projetuais iniciais vieram acompanhadas do pensamento construtivo, que embasaram cada tipo de solução adotada. Em peculiar, destacam-se os estudos de materialidade desenvolvidos nas duas últimas semanas, que serviram para confirmar e validar as análises de viabilidade construtiva feitas nos estágios mais precoces do processo. Isso incluiu até o desenvolvimento de um mock-up.

Projeto do grupo G5-P
Elaboração dos projetistas

Processo de projeto do grupo G5-P
Elaboração a partir de acervo dos projetistas

Apesar de tomarem partido de uma série de ações projetuais distintas, os projetistas do grupo G6-P escolheram caminhos mais simplificados para a geração da forma, sem testar alternativas nem em ferramentas convencionais, nem em paramétricas. A primeira ideia já serviu de base para que fossem feitas as análises de viabilidade construtiva, a criação do modelo estrutural e a análise estrutural. Ao final, criaram um código paramétrico com uma quantidade de informações incompatível com a simplicidade geométrica proposta. A preocupação excessiva com a busca de soluções técnicas triviais para o projeto e o receio de inexequibilidade limitou a liberdade criativa dos projetistas.

Análise dos resultados

Para a análise dos resultados, foi feito o mapeamento das principais ações projetuais adotadas ao longo das quatro semanas dos experimentos de projeto por cada uma das oito equipes envolvidas. Complementarmente, foi feita a identificação temporal da ordem dessas ações, elegendo as quatro principais ações projetuais semanais de cada grupo. A junção dessas duas maneiras de analisar os dados permitiu identificar como a construtibilidade e a parametrização dialogaram ao longo dos processos de projeto. Apesar de os oito experimentos estarem presentes no mesmo estudo, as equipes envolvidas foram separadas em três categorias, uma vez que a diferença na composição dos grupos não permite a comparação direta dos resultados.

Ao todo, foram detectadas 14 ações projetuais distintas, distribuídas de modo variado ao longo do tempo por cada equipe. As ações projetuais combinaram não apenas habilidades em ferramentas de projeto, mas foram o meio pelo qual os profissionais puderam amadurecer os dilemas projetuais que emergiram durante o processo de projeto.

As principais ações que foram levadas em conta para apreciação do quesito construtibilidade foram análise de viabilidade construtiva (ação 06), criação de modelo estrutural (ação 10), análise estrutural (ação 11) e estudo de materialidade (ação 12).

Foi considerado como análise de viabilidade construtiva (ação 06) um subconjunto de ações mais específicas como: elaboração de detalhes construtivos, quantificação de materiais, orçamentação e estudo de propriedades físicas e de resistência dos materiais. A criação do modelo estrutural tratou da elaboração de um esquema resumido mostrando como os elementos estruturais básicos iriam se interligar e se relacionar. Já a análise estrutural considerou cálculos mais detalhados, realizados manualmente, assim como análises paramétricas das seções, deslocamento, esforço normal e momento fletor.

As ações relacionadas à parametrização foram o planejamento da modelagem paramétrica (ação 07), a Modelagem Paramétrica (ação 08) e a análise de alternativas paramétricas (ação 09). A primeira envolveu o modo pelo qual a lógica do código paramétrico seria criada; a segunda, a parametrização propriamente dita; e a terceira, a análise e escolha de uma das alternativas criadas pelo código, que dependeram diretamente da maneira pela qual a modelagem paramétrica foi concebida, possibilitando variações dentre as quais a mais adequada poderia ter sido escolhida.

Para efeito de separação da natureza das ações, o estudo volumétrico não incluiu a geração paramétrica de alternativas, considerado aqui como um estudo volumétrico “dinâmico”, quando várias possibilidades de resultados são apresentadas praticamente de modo simultâneo.

Nos grupos das categorias CE1 e CP1, as principais ações de construtibilidade adotadas foram as de número 06 e 12, uma vez que não existiam engenheiros civis nessas equipes, tampouco arquitetos ou estudantes que tivessem competência para aplicar as ações 10 e 11, específicas da engenharia estrutural.

Os estudantes tiveram mais facilidade para romper a barreira da adoção da nova tecnologia, ocorrida na fase de treinamento, e, assim sendo, conseguiram dedicar mais tempo para a resolução do problema de projeto, apesar de não possuírem prática como projetistas no mercado. Isso fez com que a parametrização se sobrepusesse à construtibilidade.

Já nos grupos G4-P e G5-P, houve uma forte integração entre a construtibilidade e a parametrização, com um alto balanceamento das ações projetuais desses dois quesitos ao longo de todo o processo. O grupo G6-P, por outro lado, priorizou a construtibilidade em detrimento da parametrização, em um processo que não apresentou muitas alternâncias entre ações projetuais dos dois quesitos.

No caso concreto das equipes da categoria CP2, todas as quatro ações relacionadas à construtibilidade foram adotadas (ações 06, 10, 11 e 12), diferindo em intensidade e momento. O mesmo aconteceu com a parametrização do projeto. A articulação entre construtibilidade e parametrização, em cada equipe, fica mais latente quando observada ao longo das semanas em que o projeto foi desenvolvido.

Tabela com ações projetuais adotadas pelos grupos colaborativos
Elaboração a partir dos dados da pesquisa

A categoria CE1 mostrou, ao longo do tempo, semelhança em relação ao percurso das ações em função do tempo, com exceção de estudos de materialidade realizados pelo grupo G2-E, que precisou compreender, materialmente, como a expansão e a contração poderiam interferir em sua proposta e nas regras a serem criadas na modelagem paramétrica. Adicionalmente, o levantamento mostrou que o G2-E investiu mais tempo em análises de viabilidade construtiva, realizando uma alta integração entre construtibilidade e parametrização.

Ações projetuais da categoria CE1 ao longo das semanas
Elaboração a partir dos dados da pesquisa

Também mostrando certa similaridade nas ações, a categoria CP1 pensou a construtibilidade por meio da análise de viabilidade construtiva em momentos distintos. Os dois primeiros grupos assim o fizeram entre a segunda e terceira semanas, enquanto o terceiro grupo tomou partido dessas ações na iminência da documentação do projeto (produção das representações técnicas). No quesito parametrização, cada grupo trabalhou de modo diferente: o primeiro, dedicando praticamente uma semana inteira, o segundo, utilizando parcialmente a ferramenta, e o terceiro, planejando e modelando parametricamente por uma semana. A combinação que parece ter harmonizado mais no processo de projeto, trazendo menos retrabalhos, foi a do grupo G1-P, que analisou a viabilidade construtiva do edifício em estágio mais precoce, para então partirem para a parametrização.

Ações projetuais da categoria CP1 ao longo das semanas
Elaboração a partir dos dados da pesquisa

Os grupos que compuseram a categoria CP2 foram os que apresentaram o maior número de ações adotadas. O momento, a intensidade e a alternância de cada ação, no entanto, foi o que mostrou as diferentes maneiras de lidar com o projeto.

O grupo G4-P foi o que mais se antecipou em discutir as soluções construtivas possíveis, quando na primeira semana já discutiam formas de apoio e encaixe de suas estruturas em um projeto que nem forma definida tinha. Isso perdurou ao longo das quatro semanas. O grupo G5-P iniciou as análises de viabilidade construtiva a partir da segunda semana, com uma forte alternância entre outras ações e a de número 06. O grupo G6-P, por sua vez, analisou a viabilidade construtiva com maior ênfase apenas na segunda semana, visto que a sua proposta não sofreu alterações desde então. Todos os três grupos tomaram partido da criação de um modelo estrutural e da análise estrutural. Já o estudo de materialidade, surgiu em fase precoce no grupo G5-P, e na última semana, no grupo G4-P, e não foi adotado pelos profissionais do G6-P. De um modo geral, o gráfico chama a atenção em dois momentos: o da adoção precoce da análise de viabilidade construtiva pelo grupo G4-P e o dos constantes estudos de materialidade do grupo G5-P, já presentes a partir da terceira semana.

A parametrização dos três grupos desta categoria apareceu de maneiras distintas. Os profissionais do G4-P combinaram a expertise da engenheira civil em programação com o poder de abstração de um dos arquitetos, desenvolvendo um código altamente integrado às questões construtivas já presentes e àquelas que apareciam ao longo do processo. Isso os permitiu analisar as diferentes alternativas paramétricas com mais confiança, uma vez em que todas as questões construtivas cruciais do projeto eram preservadas. Assim como o grupo anterior, o grupo G5-P desenvolveu um código quando já estavam desenvolvidas muitas questões de viabilidade construtiva. Além disso, foi durante o desenvolvimento do modelo paramétrico que os estudos de materialidade foram feitos, dando ainda mais subsídio ao projeto desenvolvido no meio computacional. O último grupo desta categoria usou a parametrização de maneira menos efetiva, apesar de resolverem bem a questão construtiva. Por terem proposto um projeto menos complexo, desenvolveram a parametrização de seu projeto com uma quantidade de algoritmos bem maior que a média dos outros grupos, em processo pouco automatizado, que não contribuiu muito com o produto projetual final.

Ações projetuais da categoria CP2 ao longo das semanas
Elaboração a partir dos dados da pesquisa

No que diz respeito à integração de construtibilidade e parametrização dos processos de projeto analisados, a quantidade de ações relacionadas à construtibilidade e à parametrização nos permitiu identificar três padrões, ao invés dos dois lançados como hipótese: 1) pouca integração, com maior ênfase na construtibilidade; 2) muita integração, com construtibilidade e parametrização plenamente articuladas; e 3) pouca integração, com maior ênfase na parametrização.

Integração entre construtibilidade e parametrização
Elaboração a partir dos dados da pesquisa

Os grupos G2-E, G1-P, G4-P e G5-P foram os que tiveram integração entre construtibilidade e parametrização, confirmando a hipótese lançada. Essa relação equilibrada fez fluir melhor o processo de projeto e gerou um produto projetual mais viável construtivamente equilibrando também a complexidade da forma. Nos demais grupos, a falta de integração trouxe consequências como inviabilidade construtiva, ou pouca exploração de alternativas projetuais, minimizando a possibilidade de encontrar alternativas paramétricas de forma mais complexa.

Considerações finais

Mostrando os desafios de integração em ambientes de graduação e profissional, os resultados desta investigação trazem aplicações de projetos paramétricos em três diferentes âmbitos de colaboração: acadêmico, profissional unidisciplinar e o profissional multidisciplinar (entre arquitetos e engenheiros civis, no caso estudado). De modo geral, a riqueza de informações dos processos de projeto e dos produtos foi crescente de CE1 a CP2. Apesar da riqueza desse fluxo ser indicada consensualmente por muitos autores, a relevância deste estudo está em trazer como esses resultados foram apresentados: mapeando e categorizando as ações projetuais ao longo do processo de projeto. Isso possibilita um melhor entendimento de como cada uma das ações relativas à construtibilidade e à parametrização interferem em todo o processo de projeto, contribuindo para futuros estudos de indicação de diretrizes metodológicas para projetos paramétricos no âmbito profissional.

O estudo indica ainda o impacto da multidisciplinaridade nos projetos paramétricos, indicando a necessidade de inseri-la desde o âmbito educacional, para que sejam criados cenários em que os estudantes estejam mais próximos da realidade profissional. Nesse sentido, experiências que integrem Departamentos de Arquitetura, Engenharia Civil e da Indústria devem ser encorajados, alavancando uma mudança no cenário da formação dos jovens projetistas.

Outra constatação importante do estudo diz respeito ao papel de arquitetos experientes em projetos paramétricos colaborativos. Esses profissionais foram fundamentalmente importantes para a análise de viabilidade construtiva e nos estudos de materialidade presentes nos processos de projeto dos grupos G4-P e G5-P. A postura desses arquitetos foi, por vezes, mais segura que as dos engenheiros civis, assegurando a construtibilidade sem abrir mão da complexidade gerada pelo modelo paramétrico.

Nesse sentido, independentemente da categoria de colaboração, ficou evidente que estudos de materialização e/ou análises de viabilidade construtiva devem ser adotadas desde os estágios iniciais.

Complementarmente às ações de estudo de materialidade e análise de viabilidade construtiva, as ações lideradas pelos engenheiros civis dos grupos G4-P a G6-P tiveram papel significativo para validar as primeiras formas propostas. As principais foram: 1) criação do modelo estrutural; 2) análise estrutural; 3) análise de viabilidade construtiva, especificamente a concepção de encaixes estruturais entre os subelementos do projeto; e 4) modelagem paramétrica, uma vez que os engenheiros civis tem formação em disciplinas de programação computacional, ainda não presente em currículos dos cursos de arquitetura brasileiros e portugueses.

A integração entre construtibilidade e parametrização traz novos desafios tanto para o contexto acadêmico quanto para o profissional em Arquitetura. O caminho para lidar com essa maneira relativamente recente de projetar exige muita integração entre diferentes áreas do conhecimento, em no âmbito do projeto em colaboração, como defende o manifesto do Novo Estruturalismo. Essa integração pode ser traduzida mais detalhadamente, por meio deste estudo, pela adoção ações projetuais específicas, de modo variado e cíclico, ao longo do processo de projeto, como apresentado especialmente nos grupos que confirmaram a hipótese lançada.

notas

1
ANDRADE, Max Lira; RUSCHEL, Regina Coeli. BIM: Conceitos, cenário das pesquisas publicadas no Brasil e tendências. Anais do SBQP 2009 – Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído. São Carlos, Rima Editora, 2009, p. 602-613.

2
KOLAREVIC, Branko. Manufacturing/material/effects. In KOLAREVIC, Branko; KLINGER, Kevin R. (Org.). Manufacturing Material Effects: Rethinking Design and Making in Architecture. Nova York, Routledge, 2008. p. 5-24.

3
PICON, Antoine. Architecture and the virtual: towards a new materiality. Praxis: Journal of Writing+ Building, n. 6, 2004, p. 114-121.

4
IWAMOTO, Lisa. Digital Fabrications: Architectural and Material Techniques. Nova York, Princeton Architectural Press, 2009.

5
CORDEIRO, Aristóteles Lobo de Magalhães; ROCHA, Germana Costa. Conceber arquitetura com modelos virtuais: a relevância dos sistemas estruturais. In CORDEIRO, Aristóteles Lobo de Magalhães; ROCHA, Germana Costa (Org.), Modelos em Arquitetura: Concepção e Documentação. João Pessoa, Editora UFPB, 2017, p. 314.

6
AGKATHIDIS, Asterios. Generative Design. London, Laurence King Publishing, 2015. E-book.

7
WOODBURY, Robert. Elements of Parametric Design. Nova York, Routledge, 2010. E-book.

8
SCHEURER, Fabian. Materialising Complexity. Architectural Design, Londres, v. 80, n. 4, 2010, p. 86–93.

9
DUNN, Nick. Digital Fabrication in Architecture. Londres, Laurence King Publishing, 2012. E-book.

10
MENDELSOHN, Roy. The Constructibility Review Process: A Constructor’s Perspective. Journal of Management Engeneering, v. 13, n. 3, 1997, p. 17-19.

11
CELANI, Gabriela. Uma nova era para a arquitetura. In CELANI, Gabriela; SEDREZ, Maycon (Org.). Arquitetura Contemporânea e Automação: prática e reflexão. São Paulo, ProBooks, 2017, p. 17-20; MEHRTENS, Peter. Do projeto à fabricação. In CELANI, Gabriela; SEDREZ, Maycon (Org.). Op. cit., p. 182–188.

12
OXMAN, Rivka; OXMAN, Robert. Introduction-The new structuralism: Design, Engineering and Architectural Technologies. Architectural Design, v. 80, n. 206, 2010, p. 14–23 <http://books.google.com/books?id=yPaAQgAACAAJ&pgis=1>.

13
EZZAT OTHMAN, Ayman Ahmed. Improving Building Performance through Integrating Constructability in the Design Process. Organization, Technology and Management in Construction: An International Journal, [S. l.], v. 3, n. 2, 2011, p. 333–347 <https://doi.org/10.5592/otmcj.2011.2.6>.

14
SHELDEN, Dennis. Digital Surface Representation and the Constructability of Gehry’s Architecture. Cambridge, Massachusetts Institute of Technology, 2002.

15
EZZAT OTHMAN, Ayman Ahmed. Improving Building Performance through Integrating Constructability in the Design Process. Organization, Technology and Management in Construction: An International Journal, [S. l.], v. 3, n. 2, 2011, p. 333–347 <https://doi.org/10.5592/otmcj.2011.2.6>.

16
LAWSON, Bryan. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo, Oficina de textos, 2011.

17
MONTEIRO, Verner; VELOSO, Maísa; JANUÁRIO, Pedro. Design collaboration towards constructibility in parametric design process: a design experiment with architecture students. Anthropologic: Architecture and Fabrication in the cognitive age - Proceedings of the 38th eCAADe Conference. Volume 1. Berlin, ECAADE, 2020, p. 305-314.

18
MONTEIRO, Verner; VELOSO, Maísa; ANDRADE, Heitor. Oficina de Projeto Paramétrico com ênfase na construtibilidade: uma experiência de pesquisa, ensino e extensão. Revista Projetar – Projeto e Percepção do Ambiente, v. 4, n. 11, 2019, p. 77–93.

19
LAWSON, Bryan. Op. cit.

20
LEBAHAR, Jean-Charles. Analyse cognitive de la conception et de sa pédagogie. Approche didactique de l’enseignement du projet en architecture. Marselha, École d’Architecture de Marseille-Luminy, 1999. E-book.

sobre os autores

Verner Monteiro é arquiteto e urbanista (2006) e mestre em arquitetura (2012) pelo PPAPMA UFRN. Doutorando pelo PPGAU UFRN e pela Faculdade de Arquitetura de Lisboa. É Professor Assistente do Departamento de Arquitetura da UFRN e do IFRN.

Maísa Veloso é arquiteta e urbanista (1985) e mestre em Desenvolvimento Urbano (1989) pela UFPE. Doutora em Urbanismo, Geografia e Ordenamento do Território pela Universidade de Paris III (1997). Professora titular do Departamento de Arquitetura e do PPGAU PPAPMA, da UFRN. Editora-chefe da Revista Projetar.

Pedro Januário é arquiteto e urbanista (1994) pela Universidade de Lisboa e doutor em Arquitetura (2008) pela Universidad Politécnica de Madrid. Professor assistente da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e da pós-graduação no Ciaud. Coordenador do Laboratório de Prototipagem Rápida.

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