A edificação da antiga sede da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – Sudene, em Recife PE, se destaca como um marco da arquitetura modernista e como exemplo de aplicação de estratégias bioclimáticas para o clima da região: tropical litorâneo quente e úmido. Atualmente, o edifício encontra-se em processo de integração ao patrimônio da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.
Sua concepção ocorreu em duas etapas. Uma primeira proposta foi coordenada pelo arquiteto Glauco Campello, em 1968, com a participação de Armando de Holanda e de Luiz Lacerda Nilo. No entanto, o trabalho foi interrompido e o projeto final, que foi construído, foi elaborado por uma outra equipe, formada pelos arquitetos Maurício Castro, Paulo Roberto Silva, Pierre Reithler e Ricardo Couceiro, contando também com um jardim projetado por Roberto Burle Marx, em 1972. O prédio foi inaugurado em 1974. Segundo Ênio Eskinazi, a nova equipe ”manteve o sabor composicional com lâminas de atividade arqueadas atendendo à orientação Leste/Oeste e lastreadas pelo programa térreo em desenho solto. As lâminas possuem estruturas em concreto armado na modulação de 6,00m e atenção especial ao conforto ambiental” (1).
Ao se observar a situação atual do prédio, destacam-se o caráter moderno da edificação, a sua imponência e o seu caráter de marco na paisagem do Recife, o que leva à defesa de sua conservação. O conjunto segue princípios modernistas, quais sejam, pilotis, planta livre, fachada livre, janela em fita e terraço jardim. Raquel Ferreira, Jônatas Silva e Natália Vieira de Araújo (2) destacam que “o pensamento da planta de modo racional e reversível, a utilização de materiais de produção rápida e de alto custo-benefício, como a convergência das necessidades a fim de reduzir o programa e otimizar as atividades, se tornam uma constante no pensar arquitetônico”. Os autores salientam que o conjunto arquitetônico “trata-se de um exemplar do modernismo pernambucano, integrado a importantes edifícios do entorno, como os edifícios da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, que engloba os centros acadêmicos da universidade e o Hospital das Clínicas, este último localizado em frente à Sudene”.
O conjunto arquitetônico formado por oito edificações se destaca pelas suas grandes dimensões, pela disposição de dois blocos alongados na direção Norte-Sul, expostos à ventilação Sudeste, predominante na região. São marcantes os elementos arquitetônicos que amenizam a radiação solar e que permitem a ventilação natural, tais como, janela guilhotina e vidros com micropersianas, peitoril ventilado, brises, cobogós e painel cerâmico. Localiza-se à margem da rodovia BR 101. Assim, justifica-se o objetivo de avaliar o prédio da antiga Sudene, no sentido de fornecer um parecer quanto ao conforto ambiental – térmico, lumínico e acústico, em especial, quanto à possibilidade de trabalho nas suas salas, sem a obrigatoriedade de depender de condicionamento artificial.
O bioclimatismo é uma área de conhecimento que estuda a adequação do espaço construído às características climáticas da região e às necessidades metabólicas dos indivíduos, de maneira a proporcionar conforto ambiental e eficiência energética. Este termo não é novo, mas ganhou notoriedade quando Victor Olgyay (3) publicou a Carta Bioclimática, em 1963. Freitas (4) afirma que conforto ambiental é um “estado de bem-estar, sentido no tempo e no espaço, em que condicionantes ambientais, morfológicos e econômicos proporcionam satisfação física e psicológica”.
As exigências de conforto variam conforme aspectos climáticos, culturais, grau de avanço tecnológico e enfoque disciplinar, sendo de suma importância ser avaliado em edificações para se ter noção da viabilidade ou não de uso das mesmas, com menor consumo possível de energia. Apesar de ter sido concebido com condições de funcionar segundo os princípios bioclimáticos, nas últimas décadas, o Edifício da Sudene funcionou a partir de condicionamento artifical. No momento em que está prestes a passar por uma requalificação ambiental alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS da Agenda 2030 (5) e para uma mudança de uso, é de suma importância comprovar se tem condições de funcionar sem a dependência de meios artificiais para a promoção do conforto ambiental.
A avaliação do edifício da Sudene ocorreu sob os parâmetros térmico, lumínico e acústico. As medições ocorreram entre 09 e 11-01-2019, manhãs e tardes, datas próximas ao solstício de verão, no Hemisfério Sul, período que se caracteriza pelas altas temperaturas e pela alta iluminância. Em relação à avaliação térmica, houve medições de variáveis climáticas: temperatura do ar, umidade relativa do ar e direção predominante e velocidade dos ventos. Para a avaliação lumínica, houve medições do nível de iluminamento. Para a avaliação acústica, medições do nível de pressão sonora. As avaliações ocorreram no pavimento térreo e em três salas de cada um dos seguintes andares: 1°, 6° e 13°, sendo, a primeira, na extremidade Norte da lâmina Norte, a segunda, no centro da lâmina Norte e a terceira, na extremidade Norte da lâmina Sul.
Avaliação térmica
Observando-se a implantação solta no lote, a forma alongada na direção Norte Sul, expondo-se aos ventos predominantemente vindos de Sudeste e Leste, como também, os brises e os cobogós, filtrando os excessos da radiação solar e permitindo a passagem dos ventos, foi desenvolvida a pesquisa no sentido de validar as expectativas de que, de fato, o projeto atingiu os seus objetivos de se valorizar o conforto ambiental. Assim, utilizou-se metodologia precisa e objetiva.
Foram utilizados os seguintes instrumentos digitais – termohigrômetros, marca Minipa MTH 1300, para o registro da temperatura do ar e da umidade relativa do ar; e anemômetros, marca Instrutherm TAD–500, para a velocidade dos ventos. Além disso, houve a utilização de uma bússola, para a direção dos ventos dominantes. Todos os instrumentos foram posicionados à altura aproximada de 1,50m do chão e afastados do corpo, a essa mesma distância. Houve a utilização de quatro conjuntos de instrumentos (termohigrômetros e anemômetros) em quatro pontos de medição, simultaneamente: a. no exterior Leste, próximo à entrada da janela; b. no centro da sala; c. no corredor, limítrofe à sala; d. no exterior Oeste.
Em cada bateria, as medições de térmica duraram cinco minutos, em cada sala e ambientes limítrofes. Ao final desse tempo, houve a leitura dos instrumentos, que registraram os valores de temperatura do ar e de umidade relativa do ar. Os valores referentes à velocidade dos ventos foram registrados a cada 30 segundos, totalizando dez anotações. A entrada (através das janelas) e a saída dos ventos (através das portas) foram controladas em relação às respectivas áreas de abertura. A área total de abertura das janelas e das portas variou de acordo com a sala e com o andar. Os dados das medições de térmica foram comparados aos dados disponibilizados pelas Estações Meteorológicas de Referência do Instituto Nacional de Meteorologia – Inmet, para os mesmos dias e horários. Ressalta-se que todos os valores apresentados correspondem às médias das medições dos quatro períodos: duas manhãs e duas tardes, ocorridas em período próximo ao solstício de verão, ou seja, no período de maior desconforto ao longo do ano.
Para a análise dos valores, tendo em vista o conforto ambiental passivo, considerando a possibilidade de uso do espaço, contando com aberturas nas extremidades Leste e Oeste de cada sala que permitam a ventilação natural, tomou-se como referência a zona de conforto térmico, para Recife, em clima tropical litorâneo quente e úmido – valores de temperatura entre 24°C e 28°C e valores de umidade relativa do ar entre 50% e 70%. Quando o valor de temperatura for um pouco superior ao limite citado, a velocidade do vento para proporcionar a inserção em zona de conforto seria a partir de 0,5m/s, correspondendo a trocas de ar, no mínimo, de 15m³/h, dependendo das dimensões dos ambientes e do espaço disponível por pessoa. Esses valores são fruto de pesquisas desenvolvidas por autores diversos, que já se tornaram clássicos, tais como Olgyay, Koenigsberger, Szokolay, Givoni e Lamberts, Dutra e Pereira (6), até pesquisas mais recentes e no contexto da cidade de Recife, tal como, Freitas, Azerêdo e Freitas (7).
Considerando-se a possibilidade de ventilação natural nos ambientes, utilizaram-se cálculos específicos, baseados em Toledo (8) e Lamberts, Dutra e Pereira (9), para se chegar ao parecer quanto à viabilidade de uso dos espaços. Para o cálculo do número de trocas de ar, foi utilizada a equação n = Q . 3600 / V, onde: n = número de trocas de ar por hora; Q = fluxo de ar (m³/h); e, V = volume do ambiente ventilado (m³).
Foram elaboradas diversas tabelas, referentes a cada um dos pavimentos onde ocorreram as medições. Como exemplo, apresenta-se a tabela com os valores médios registrados para cada uma das três salas no 13° andar, por ponto de medição, além das respectivas áreas de abertura (entrada e saída dos ventos). Observou-se que os maiores valores referentes à temperatura do ar foram registrados nos espaços externos à edificação, em decorrência da exposição à insolação em horários alternados, manhã e tarde. Também há que ser considerado o fato de que as estações meteorológicas se localizam em ambientes com condições próximas ao natural, enquanto que, em locais com influência das vias pavimentadas e de intenso fluxo de automóveis, como ocorre ao longo da rodovia BR-101, a Oeste da edificação, há a formação de microclimas urbanos. Ou seja, comprovou-se o acúmulo de calor no entorno do edifício da Sudene, em relação aos dados provenientes da estação meteorológica.
Os valores mais baixos de temperatura do ar foram registrados nos ambientes internos, em virtude da proteção da edificação, em relação à incidência solar, bem como devido à sua permeabilidade aos ventos dominantes. Na sala 2, foi registrada a maior diferença entre valores internos e externos, igual a 4°C. Os pontos localizados a Oeste encontravam-se a sotavento, o que fortemente contribuiu com os altos valores de temperatura. Houve a comprovação da relação de inversabilidade entre as variáveis temperatura do ar e umidade relativa do ar.
Os maiores valores da velocidade do ar foram registrados nos pontos de entrada, a barlavento, não havendo quaisquer barreiras que funcionassem como empecilhos à sua circulação, o que fortemente contribuiu com a diminuição da temperatura no interior das salas. Apesar de nos pontos internos às salas terem sido registrados os menores valores, ressalta-se que existe a possibilidade de circulação. Durante a pesquisa, como nem todas as janelas e portas puderam ser abertas, houve a dificuldade da circulação dos ventos no interior das salas. Na sala 3, registrou-se o valor médio de 2,8m/s, superior aos valores das Estações Meteorológicas. Observando-se o posicionamento da sala 3, tem-se que as suas aberturas de entrada encontram-se a Sudeste, direção predominante dos ventos em Recife. Lembra-se que quanto maior a altura da abertura, maior tende a ser a velocidade dos ventos, em virtude da ausência de barreiras. As Estações Inmet localizam-se em zonas com características naturais e as medições ocorrem à altura de 1,5m.
A sala 1, no 13° andar, possui 73,55m² e encontra-se na extremidade Norte da lâmina Norte. Esta sala registrou temperatura de 28,7°C em seu interior, um pouco acima do limite da zona de conforto, e umidade relativa do ar de 68,6%, ou seja, dentro dos limites do conforto termoambiental. Considerando a ventilação de entrada de 2,3m/s, a área de entrada de ventos igual a 1,2m² e a área de saída de ventos igual a 2,1m², observou-se uma velocidade interna do vento, no ponto central da sala, muito baixa, de 0,1m/s, necessitando melhor distribuição das aberturas ao longo das vedações e, consequentemente, melhor distribuição da ventilação em todos os pontos da sala, para que se melhore a promoção da ventilação cruzada. Nessas condições, os cálculos demonstraram um fluxo de ar de 1,8m³/s e a ocorrência de 34 trocas de ar por hora - dentro dos valores recomendados. Assim, conclui-se que a sala 1 do 13° andar é passível de funcionar com conforto para seus usuários, sem condicionamento artificial de ar.
A sala 2, que se encontra no centro da lâmina Norte e a sala 3, que se encontra no setor Norte da lâmina Sul, no 13° andar, registraram temperaturas um pouco acima do limite da zona de conforto e umidade relativa do ar dentro dos limites do conforto ambiental térmico. Considerando a ventilação de entrada, a área de entrada de ventos e a área de saída de ventos, observou-se uma velocidade interna do vento no centro da sala muito baixa, necessitando melhor distribuição das aberturas ao longo das vedações e, consequentemente, melhor distribuição da ventilação em todos os pontos da sala, para melhoria da ventilação cruzada. Nessas condições, os cálculos demonstraram fluxo de ar e número de trocas de ar por hora dentro dos valores recomendados. Assim, concluiu-se que as salas 2 e 3 do 13° andar são passíveis de funcionar com conforto para seus usuários sem condicionamento artificial de ar.
Para o 6° andar e para o 1° andar, foram utilizados os mesmos procedimentos metodológicos e a mesma linha de análise como para as salas localizadas no 13° andar. Em relação aos dados relativos à temperatura do ar, tem-se que os maiores valores foram registrados nos espaços externos à edificação, voltados a Oeste. Em relação aos ventos, os maiores valores da velocidade foram registrados nos pontos de entrada, a barlavento, como já havia sido observado no 13° andar, não havendo quaisquer barreiras, que funcionassem como empecilhos à sua circulação, o que fortemente contribuiu com a diminuição da temperatura no interior das salas. Concluiu-se que as salas do 6° andar e do 1° andar também são passíveis de funcionar com conforto para seus usuários sem condicionamento artificial de ar. Ressalta-se que as salas do 1° andar recebem influência mais direta do entorno circundante, o que pode contribuir para o aumento da temperatura do ar e para a diminuição da velocidade dos ventos.
Além das medições das variáveis climáticas, no período da manhã de 11-01-19, foram realizadas medições a partir da variação das áreas de aberturas de entrada (janelas) e de saída (porta), na sala 1 do 13° andar. Foram consideradas três possibilidades de abertura de entrada dos ventos e duas possibilidades de saída, totalizando seis variações. Concluiu-se que, em todas as situações, a sala apresentou condições para a realização de atividades com conforto natural, sem a necessidade de condicionamento artificial. À medida que se aumentou a área das aberturas, houve uma tendência ao aumento da velocidade dos ventos e ao aumento do número de renovações de ar por hora. O menor valor de trocas de ar (40) coincidiu com a menor abertura de entrada (1,2m²) e de saída (2,1m²) e o maior valor de trocas de ar (146) coincidiu com a maior abertura de entrada (3,6m²) e a menor abertura de saída (2,1m²). Recomenda-se manter a área de entrada de ventos superior à área de saída e que as aberturas sejam distribuídas por toda superfície de vedação Leste e Oeste, promovendo a ventilação cruzada em pontos diversos da sala.
Além das medições realizadas nas salas dos 1°, 6° e 13° andares, foram feitas medições em dois pontos, no pavimento térreo. O maior valor médio de temperatura do ar foi registrado no ponto próximo à rodovia BR 101, igual a 31,6°C, a Noroeste da edificação. A diferença entre a média de temperatura registrada aqui e a registrada no ponto localizado no pilotis foi de 3,1°C. O ponto localizado no pilotis encontrava-se à sombra, confirmando-se este fator como amenizador das condições ambientais, em especial, da diminuição de temperatura do ar. No térreo, também houve a comprovação da relação de inversabilidade entre as variáveis temperatura do ar e umidade relativa do ar, como também, entre temperatura do ar e velocidade dos ventos. Em relação aos ventos, a maior média foi anotada no pilotis, a barlavento (confirmando a ocorrência do fenômeno aerodinâmico chamado efeito pilotis), sem barreiras que funcionassem como empecilhos à sua circulação, alcançando média de 3,9m/s e pico de 7,7m/s, valores superiores aos valores disponibilizados pelas Estações Meteorológicas. Ressalta-se que a média de temperatura, no centro das salas analisadas nos 1°, 6° e 13° andares foi de 29°C, ou seja, um pouco superior àquela verificada no Pilotis (28,5°C) e bem inferior àquela verificada nas proximidades da BR 101 (31,6°C), confirmando também a influência do ambiente construído na conformação de climas urbanos e sobre o conforto ambiental no interior das edificações.
Avaliação lumínic
Dentre os princípios da arquitetura moderna, o sistema de estrutura independente das vedações possibilitou o pavimento em pilotis, como também, os pavimentos tipo com planta livre, fachada livre e grandes aberturas. Essas aberturas, por sua vez, possibilitaram maior visão da paisagem e maior iluminação dos ambientes internos, comparando-se com épocas anteriores. Assim, estavam preparadas as condições para se proporcionar o conforto lumínico, ao aliar aspectos quantitativos e qualitativos, relativos à luz.
Foram escolhidas para as medições dos níveis de iluminância, três salas, localizadas no centro das lâminas dos andares 1°, 6° e 13°, da torre Norte, sendo denominadas salas 2. Todas elas recebem iluminação natural, lateralmente. A radiação direta ocorre apenas no período da manhã. Por questões de viabilidade de abertura das janelas (em função das medições de térmica), foram escolhidas salas com dimensões diferentes, por pavimento.
As medições foram realizadas nos períodos da manhã e da tarde, sob diferentes ângulos de inclinação do sol: manhã (entre 8h30 e 10h30) e tarde (entre 14h30 e 16h30). O equipamento utilizado nas medições do nível de iluminamento foi o luxímetro digital, marca Minipa. Ressalta-se que todas as medições se referiram exclusivamente à iluminação natural, portanto, não houve medições relativas ao conjunto iluminação natural e artificial. Nos dias de medição, a abóbada celeste encontrava-se parcialmente encoberta por nuvens e sem pancadas de chuva, situação recorrente na cidade de Recife).
Como a sala de trabalho encontrava-se vazia, considerou-se, hipoteticamente, a altura da mesa de trabalho igual a 0,76m. Desse modo, em todas as medições, como critério de precisão de altura do sensor, houve a necessidade de utilização de uma trena métrica. A partir das medições dos níveis de iluminamento nos pontos específicos das salas de trabalho, foi possível realizar a comparação entre os valores encontrados e aqueles recomendados em norma, de acordo com o tipo de tarefa realizada no ambiente. Considerou-se Ambiente de escritório, com as seguintes possibilidades de desenvolvimento de atividades: “escrever, teclar, ler, processar dados” / “salas de reunião e conferência”. Para tais ambientes, a norma ABNT NBR ISO CIE 8995-1/2013 recomenda a iluminância de 500 lux.
Os níveis de iluminamento das salas 2 tendem a ser maiores próximos às janelas, localizadas a Leste e menores, à medida que se aproximam do fundo da sala, nos dois períodos medidos. Lembra-se que, a Oeste, a sala é contígua ao corredor.
A sala de trabalho 2, localizada no 13° andar, possui aproximadamente as seguintes dimensões: 8,30m (largura) x 6,60m (profundidade). No período manhã, a maior média foi de 2.125 lux, anotada no ponto 6 e a menor média, de 316,5 lux, no ponto 35. No pedíodo da tarde, a maior média foi de 941,5 lux, registrada no ponto 1 e a menor média de 262 lux, também no ponto 35. Os valores médios registrados no período da manhã foram bem maiores do que os valores médios registrados no período da tarde, o que possibilita o conforto lumínico, com facilidade, nesse período. No entanto, ressalta-se que, muitos desses valores se apresentaram muito acima do requerido pela norma, o que também não é confortável, pois pode causar ofuscamento, cujo controle pode ocorrer atráves de persianas. O mesmo não acontece no período da tarde, cuja maioria de pontos apresentou valores médios abaixo dos 500 lux, necessitando de complemento de iluminação artificial, em alguns pontos, nesse período.
O corredor de acesso às salas, situado a Oeste, é iluminado naturalmente através de cobogós de concreto. Há, portanto, o filtro da iluminação direta. A vedação que delimita a sala, limítrofe ao corredor, impede a passagem da iluminação oriunda do corredor. Ressalta-se que as salas 2, no período da tarde, recebem exclusivamente iluminação indireta, oriunda da orientação Leste.
Todas as salas possuem o mesmo tipo de fechamento, janelas com duas lâminas, em vidro aramado e vidro transparente, com sistema de abertura tipo guilhotina duplo. É importante lembrar que os princípio modernistas da planta livre e da janela em fita favorecem a iluminação natural, beneficiando os usuários internamente à edificação.
Ressalta-se que o tipo de vidro aramado não permite tanta passagem de radiação luminosa, quando comparado a um vidro comum, transparente, portanto, os pontos, com mais iluminação (ou menos), dependem do tamanho de abertura da janela. Assim, há que se considerar o conjunto térmica e lumínica quando dessa escolha, por parte dos usuários do ambiente.
Visando à comparação de valores, foram feitas também medições nos espaços externos, sendo obtidos valores de 52.000 lux (a Leste), período da manhã, e de 23.300lux (a Oeste), à tarde, em dia nublado, o que indica o alto nível de iluminamento, podendo esse ser aproveitado para a iluminação da sala, justificando o seu uso, por todos os seus benefícios, além de, consequentemente, a diminuição do custo energético. Recomendam-se a manutenção das esquadrias, a distribuição dos circuitos elétricos independentes e paralelos às aberturas, a disposição do mobiliário na sala, concentrado na área próxima às aberturas, e cores claras nas divisórias, inclusive, também, para as salas 2 do 6° e do 1° andares.
Avaliação acústica
Apesar de as condições acústicas não serem diretamente relacionadas ao bioclimatismo, muitas vezes, fecham-se janelas e portas para se evitar a transmissão de ruídos, impedindo a ventilação natural, por exemplo. Com esses fechamentos, passa-se então a depender de aparelhos de ar condicionado e até de iluminação artificial. Ou seja, o desconforto acústico pode levar à busca pelo conforto térmico e lumínico, de maneira artificial, aumentando o consumo de energia elétrica.
Foram feitas medições do nível de pressão sonora, utilizando-se um decibelímetro / sonômetro digital, na curva de ponderação (A), em resposta lenta (‘slow’), marca Minipa. O equipamento foi posicionado a aproximadamente 1,50m de altura do solo e afastado do corpo e de quaisquer superfícies refletoras, à mesma distância aproximada.
Foram escolhidos dois pontos: um, no centro da sala 2 e outro no corredor. Em cada ponto, foi registrado o nível de ruído equivalente (LAeq) a cada 30 segundos, durante cinco minutos, totalizando 10 valores por ponto, em cada período (manhã e tarde). Como em cada ponto houve 40 medições, houve o registro de 80 medições. Lembra-se, aqui, que as medições ocorreram com as salas vazias e desocupadas. Os dados foram coletados por duas equipes formadas por três voluntários, cada. Ressalta-se que a equipe de pesquisadores permaneceu em silêncio durante as medições, de modo a não interferir nos resultados registrados pelo instrumento. Para a sistematização dos 80 valores de intensidade sonora utilizou-se uma planilha no programa Excel, de modo a facilitar o cálculo das médias logarítmicas para cada ponto, tanto por dia, quanto por período. Houve a comparação dos resultados aos níveis recomendados pela norma NBR 10152/1987 – Níveis de ruído para conforto acústico (10).
Observou-se que a maior média foi anotada no térreo, igual a 68,6 dB(A), em função da proximidade com a BR 101. A menor média foi de 52,8 dB(A), no centro da Sala 2, no 1° andar. Nos andares mais baixos, obstáculos, tais como, edificações e árvores, dificultam a propagação das ondas sonoras, confirmando que os maiores valores são verificados nos andares mais altos dos edifícios. Constata-se que todas as médias logarítmicas obtidas nos corredores foram maiores que as médias obtidas no interior das salas, independente do andar em que se estava (13°, 6°, 1°) e do período de medição (manhã ou tarde). Houve registros isolados que corresponderam à passagem de veículos pesados – caminhões, igual a 77db(A), sirene de ambulância, igual a 80 dB(A) e moto, igual a 91,5 dB(A). Tais registros corresponderam aos valores máximos (picos).
Todos os valores registrados foram superiores ao que é recomendado pela Norma 10152/1987, que apresenta para ambientes de Escritório valores entre 30-40 dB(A), em se tratando de “Salas de reunião”, 35-45dB(A), para “Salas de gerência, Salas de projetos e administração”, e valores entre 45-65dB(A), para “Salas de computadores”. A NBR 10152/1987 (11) afirma que o “valor inferior da faixa representa o nível sonoro para conforto, enquanto que o valor superior significa o nível sonoro aceitável para a finalidade”.
Lembra-se que atividades antrópicas de manuseio de equipamentos e conversações comuns em ambiente de trabalho podem produzir ruído em torno de 60 dB, ou seja, acima do ruído de fundo, verificado durante as medições. Conclui-se que não há necessidade de tratamentos especiais de isolamento acústico, no máximo, uma maior atenção quanto ao uso de materiais absorventes no interior das salas, visando à diminuição do tempo de reverberação e da amplificação do ruído.
Considerações finais
Considerando-se todas as avaliações feitas, em nove salas e no entorno do Edifício da SUDENE, concluiu-se que, no processo de concepção do edifício, foram valorizadas as estratégias bioclimáticas para o clima tropical quente e úmido. Essas estratégias são fundamentais para que seus ambientes possam ser utilizados de maneira natural, sem dependência de aparelhos de ar condicionado e de iluminação artificial, ou seja, com eficiência no uso dos recursos.
As salas 1, 2 e 3 do 13°, do 6° e do 1° andares apresentaram temperaturas um pouco acima da zona de conforto, em torno de 29°C, no período mais quente do ano, porém, apresentaram umidade relativa do ar dentro da zona de conforto, neste mesmo período, em torno de 65%.
Nessas condições de clima tropical quente e úmido, a ventilação é fundamental para promover condições de conforto. Considerando a existência de aberturas de entrada e de saída dos ventos e a ocorrência de ventilação cruzada, mesmo que com baixa velocidade, notou-se que essas salas apresentaram mais de 15 trocas de ar por hora, ou seja, valores superiores aos recomendados, chegando ao máximo de 146 trocas, quando as aberturas de entrada atingiram 3,6m2 e as áreas de saída atingiram 2,1m². Por ocasião de possível requalificação do edifício, recomenda-se a manutenção de aberturas amplas e uniformemente distribuídas, favorecendo a ventilação cruzada. Recomenda-se que as aberturas de saída estejam um pouco distanciadas da altura média de 1,50m do solo, ou melhor, que sejam altas ou baixas, evitando a convergência dos ventos à altura das mesas de trabalho.
As salas 2 do 13°, do 6° e do 1° andares apresentaram iluminamentos intermediários, quanto aos níveis de conforto lumínico para o desenvolvimento de tarefas em escritórios. Ou seja, na maioria das horas, sobretudo no período da manhã e nos locais mais próximos das aberturas, há condições de conforto compatíveis com o trabalho, sem necessidade de iluminação artificial, durante o dia. Nos locais mais distantes das aberturas e, sobretudo, no período da tarde, há necessidade de iluminação artificial, mesmo durante o dia. Recomendam-se a manutenção das esquadrias, inclusive conservando os vidros transparentes e limpos, a distribuição dos circuitos elétricos independentes e paralelos às aberturas, a disposição do mobiliário na sala de trabalho, concentrado na área próxima às aberturas e a utilização de móveis e de divisórias com cores claras.
As salas 2 do 13°, do 6° e do 1° andares apresentaram-se como receptoras de ruído urbano, em níveis um pouco acima daqueles ditados pela norma para o confortável desenvolvimento de atividades de trabalho. Considerando-se que as atividades antrópicas de manuseio de equipamentos e conversações comuns em ambiente de trabalho podem produzir ruído em torno de 60 dB(A), ou seja, acima do ruído de fundo, conclui-se que não há necessidade de tratamentos especiais de isolamento acústico climático. No máximo, deve-se ter uma maior atenção quanto ao uso de materiais absorventes no interior das salas, visando à diminuição do tempo de reverberação e minimizando a possibilidade de amplificação do ruído. Salienta-se que todas as medições ocorreram com as portas abertas.
Assim, tomando-se como referência a avaliação integrada de conforto ambiental, térmico, lumínico e acústico, desenvolvida em diferentes ambientes do edifício da SUDENE, em janeiro de 2019, pode-se afirmar que é possível o uso das salas pesquisadas, para atividades típicas de escritório, sem necessidade de climatização artificial, desde que observadas as recomendações aqui desenvolvidas.
Como consideração maior, fica a recomendação de que haja respeito ao ambiente natural no processo de concepção do ambiente construído e de que pesquisas como esta possam ser replicadas para outros edifícios e em outros contextos, considerando as estratégias bioclimáticas como um caminho para o conforto ambiental, a eficiência energética e para a sustentabilidade ambiental.
notas
1
ESKINAZI, Ênio. Concebido em dois momentos, edifício reflete modernidade. Revista INCampus, n. 209, Recife, 2018, p. 5.
2
FERREIRA, Raquel; SILVA, Jônatas; VIEIRA DE-ARAÚJO, Natália. A sede da Sudene: desafios à conservação de um marco modernista na paisagem recifense. Anais do Simpósio Icomos. Belo Horizonte, 2018, p. 2678.
3
OLGYAY, Victor. Arquitectura y clima. Barcelona, Gustavo Gili, 1963.
4
FREITAS, Ruskin. O que é conforto. Anais do VIII Encontro Nacional e IV Encontro Latino Americano Sobre Conforto no Ambiente Construído. Maceió, 2005.
5
NAÇÕES Unidas no Brasil. 11 Cidades e Comunidades Sustentáveis: tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Brasil: ONUBR, 2015. <https://nacoesunidas.org/pos2015/ods11/>.
6
OLGYAY, Victor. Op. cit.; KOENIGSBERGER, Otto et al. Viviendas y edifícios em zonas cálidas y tropicales. Espanha, Paraninfo, 1977; SZOKOLAY S. V. Thermal design of buildings. Red Hill, Austrália, RAIA, Education Division, 1987; BARUCH, Givon. Energy and building. Lausanne, Elsevier Sequoia, 1991; LAMBERTS, Roberto; DUTRA, Luciano Pereira. Eficiência energética na arquitetura. Rio de Janeiro, Procel/Eletrobrás, 2014.
7
FREITAS, Ruskin; AZERÊDO, Jaucele; FREITAS J. Conforto térmico em Recife PE. Anais do Encontro Nacional de Conforto no Ambiente construído. Balneário Camboriú, 2017.
8
TOLEDO, Eustáquio. Ventilação natural das habitações. Maceió, Edufal, 1999.
9
LAMBERTS, Roberto; DUTRA, Luciano Pereira. Op. cit.
10
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152. Acústica — Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. São Paulo, ABNT, 2017, p. 2.
11
Idem, ibidem.
sobre os autores
Ruskin Freitas é arquiteto (UFPE, 1988), mestre em Geografia (UFPE, 1995), doutor em Arquitetura (UFRGS, 2005). Atualmente é professor associado do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco. Publicou Entre mitos e limites (Editora UFPE, 2008).
Jaucele Azerêdo é arquiteta (UFPE, 2000), mestre em Desenvolvimento Urbano (UFPE, 2011), doutora em Desenvolvimento Urbano (UFPE, 2017). Atualmente é professora adjunta do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco. Publicou capítulo sobre bioclimatismo no livro Coronavírus e as cidades no Brasil (Outrasletras, 2020).
Carlos Falcão é arquiteto (UFPE, 1993), especialista em Gestão de Projetos (UFPE, 2007), Mestre em Design (UFPE, 2016). Atualmente é Superintendente de Infraestrutura da Universidade Federal de Pernambuco.