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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O benchmarking de consumo de energia é uma ferramenta que permite a comparação do consumo de energia em edificações, fomentando o desenvolvimento de metas para o setor.

english
Energy benchmarking is a largely used tool for comparing energy consumption in buildings, enhancing the development of goals for the sector.

español
El uso de puntos de referencia de consumo de energía es una herramienta de comparación de consumo de energía en edificaciones, que puede fomentar el desarrollo de metas para el sector.


how to quote

VELOSO, Ana Carolina de Oliveira; SOUZA, Roberta Vieira Gonçalves de. Implantação dos processos de benchmark de consumo de energia em edifícios não residenciais no Brasil. Arquitextos, São Paulo, ano 21, n. 250.07, Vitruvius, mar. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/21.250/8031>.

O presente trabalho visa apresentar as principais inciativas mundiais de classificação das edificações por seu consumo comparando-as com a situação brasileira. Tal se faz quando estão em andamento inciativas governamentais e de pesquisa para a entrada do Brasil neste novo paradigma: o de classificar suas edificações não pelo potencial consumo de energia como fazem das Etiquetas de Eficiência Energética, mas por seu consumo efetivo de energia criando benchmarks. Com isso se faz necessário conhecer outras iniciativas e analisar o aprendizado que estas trazem ao caso brasileiro.

De acordo com a Agência de Proteção Ambiental (1), os edifícios em que vivemos, trabalhamos e brincamos protegem-nos dos extremos da natureza, mas também afetam a nossa saúde e ambiente de inúmeras formas. À medida que o impacto ambiental dos edifícios se torna mais aparente, análises de desempenho energético ganham cada vez mais espaço no mundo e também no Brasil. Dentre as iniciativas existentes a rotulagem de produtos e edifícios pretende fornecer aos consumidores, usuários e stakeholders informações úteis e comparativas de desempenho. Permite também que os consumidores considerem investir em aparelhos ou edifícios de melhor desempenho que tenham impactos e custos de funcionamento reduzidos e que permitam realizar economias que compensem a diferença de preço. Estimulam assim, a competitividade da indústria, que deve apresentar produtos mais eficientes (2).

A implantação de estratégias de eficiência energética nos edifícios não só reduz o pico de demanda de energia, como também reduz o uso de energia em global e o seu consequente impacto dos edifícios no meio ambiente (3). O princípio básico para melhorar a eficiência energética de um edifício é utilizar menos energia para aquecimento, refrigeração e iluminação sem prejudicar a saúde e o conforto dos seus ocupantes (4). Mas a falta de conhecimento sobre os fatores que determinam o uso de energia nas edificações é uma das barreiras mais expressivas para a eficiência energética e para o controle da demanda de energia. Isso por que os sistemas que consomem energia nos edifícios são complexos e afetados por diferentes variáveis como condições climáticas, comportamento do usuário, operação da edificação etc. (5).

Segundo Lombard Perez-Lombard, José Ortiz, Rocío González e Ismael Maestre (6), no setor comercial, os edifícios de escritório e os de varejo são aqueles que têm o maior consumo de energia elétrica e as maiores emissões de CO2. Os edifícios de escritório nos EUA são responsáveis por 19% da energia consumida no país (7), já na Austrália, os edifícios comerciais são responsáveis pelo consumo de 8,1% do total de energia consumida no país (8) e no Brasil, segundo o Balanço Energético Nacional – BEN (9), os setores comercial e público consomem 21,3% do total de energia elétrica.

Há atualmente um esforço para se avaliar a eficiência energética das edificações em uso, através da criação de classificação a partir das características físicas das edificações (tipo de parede, cobertura, volume, área, sistema de iluminação etc.). Mas o que se percebe, é que os edifícios são sistemas complexos influenciados principalmente por seis fatores: 1. clima; 2. envoltória; 3. sistemas e equipamentos; 4. operação e manutenção; 5. comportamento do usuário e 6. qualidade ambiental interna; e o entendimento desses fatores é importante para identificar oportunidades de economia de energia (10).

Em países cujas regulamentações de eficiência energética já se mostram consolidadas ou em fase de consolidação, um importante parâmetro a ser levantado é o consumo de energia elétrica de acordo com as tipologias das edificações. Assim, o benchmarking é definido como sendo um processo usado para medir algo semelhante de acordo com um ponto de referência previamente determinado (11).

Para William Chung (12), o benchmarking é um processo que compara o uso da energia em um edifício ou grupo de edifícios com características semelhantes ou analisa a forma como o uso de energia varia de acordo com um nível estabelecido. Essa ferramenta pode indicar aos proprietários os pontos fortes e fracos de sua edificação em relação àqueles de melhor desempenho e prática. Para tal, é preciso desenvolver um sistema de avaliação comparativa a partir de uma amostra significativa de edifícios de referência (13). Consequentemente, permite verificar, caso necessário, a possibilidade de implementar medidas de conservação de energia, permitindo identificar a rentabilidade de medidas para redução dos custos com o consumo de energia. Facilita a melhoria contínua, fornecendo medidas para se estabelecer metas de conservação de energia em edifícios.

Fases de um processo de Benchmarking
Adaptado de Tim Stanpenhurst, The Benchmarking Book [Butterworth-Heinemann]

De acordo com a literatura, uma forma de se agrupar as edificações para sua classificação dentro de um processo de benchmarking é através de um indicador de eficiência, normalizando o consumo de energia em relação à área do edifício e fornecendo um valor de consumo de energia anual por área analisada (kWh/m²/ano) (14). Para que sejam estabelecidos marcos de eficiência para as edificações, estas devem ser agrupadas por atividade comum, para que se possa comparar se uma edificação é mais eficiente do que outra (15).

Para Xuefeng Gao e Ali Malkawi (16) e Perez-Lombard et al. (17), um processo de benchmarking deve conter, pelo menos, as seguintes fases: 1. manter ou desenvolver um banco de dados com informações sobre o desempenho energético de um número significativo de edifícios e esta informação deve ser classificada, no mínimo, por tipo e área de construção; 2. obter de informações relevantes para a avaliação do desempenho de energia do edifício; 3. analisar comparativamente o desempenho energético do edifício com as amostras do banco de dados, em relação ao seu uso de energia; 4. desenvolver recomendações de medidas de eficiência energética viáveis a partir de perspectivas técnicas e econômicas.

A partir do exposto, o objetivo desse trabalho é apresentar uma análise e comparação dos processos de benchmarking para edificações não residenciais desenvolvidos em alguns países e mostrar a importância da implementação desse índice para o Brasil.

Experiências internacionais

Nos últimos anos, há uma pressão significativa para a melhoria contínua do desempenho energético das edificações, sendo identificado que uma parte crítica do processo de projeto é conseguir fazer previsões realísticas do desempenho energético do edifício em uso. Visto isso, o benchmarking se tornou uma ferramenta útil para avaliar o comportamento de energia dos edifícios e ajudar na identificação de eventuais ineficiências na operação das edificações (18). Autoridades municipais e gestores de políticas públicas adotaram o benchmarking de energia como um meio de entender a eficiência energética de seu estoque de edifícios e identificar oportunidades para reduzir o uso de energia (19). A seguir são apresentadas as principais inciativas internacionais desenvolvidas na implementação de processos de benchmarking do consumo de energia em edificações.

Reino Unido

No Reino Unido, o benchmarking de edificações é definido como a relação entre os consumos de energia típicos e as melhores práticas em diferentes tipos de construção. Atualmente existem no país benchmarkings para 29 categorias de grupos representativos de edificações e 237 tipologias de edifícios (20). O consumo de energia das novas edificações deve ter como alvo os valores determinados como sendo os de boas práticas. Os valores de referência são expressos em kWh/m² e em kgCO2/m².

A escala de consumo varia de A a G e é baseada no consumo operacional da edificação. Os valores de referência determinados estabelecem uma medida do consumo de energia das edificações em geral e separa o consumo de combustíveis fósseis e de eletricidade, uma vez que estes têm custos e emissões de CO2muito diferentes (21). A emissão de dióxido de carbono é calculada a partir de dados reais de consumo de energia.

Etiqueta de consumo de energia do Reino Unido
Imagem divulgação [Synergy Buildign Services]

A classificação operacional da edificação é baseada na sua operação diária, para a qual é feita a leitura dos medidores de energia durante um período de doze meses. Neste caso a classificação operacional é afetada pelo cronograma de operação e pelo comportamento do usuário (22). Além do consumo dos últimos doze meses, a etiqueta também mostra o consumo dos dois anos anteriores. Essa foi a forma encontrada para mostrar a evolução do consumo da edificação e a maneira como ele está sendo gerenciado.

A ferramenta de benchmarking criada para o país pode ser acessada através de uma plataforma online (https://www.cibse.org/Knowledge/Benchmarking) e o consultor ou proprietário pode verificar o consumo típico da sua edificação e a boa prática. A partir de outubro de 2008 (23), todos os prédios públicos com área total útil acima de 1.000m² foram obrigados a obter o Certificado de Energia de Exibição (Display Energy Certificate – DEC). Essa certificação é sempre acompanhada por um Relatório Consultivo que lista medidas para melhorar a classificação do edifício. Os DEC’s são válidos por um ano e o Relatório Consultivo é válido por sete anos.

Hong Kong

Em 1994 o governo de Hong Kong através do Departamento de Serviços de Elétrica e Mecânica – EMSD criou um conjunto de códigos de construção, Building Energy Codes – BEC, para promover as melhores práticas de eficiência energética (24). Estes códigos de energia têm como objetivo fornecer requisitos mínimos de eficiência energética para os edifícios (25). Nos BEC, existem dois métodos de avaliação: o método prescritivo e o de simulação. Pelo método de simulação, deve-se comparar o consumo de energia do edifício proposto com o edifício de referência. O edifício de referência é simulado com características semelhantes ao edifício projetado, em relação à orientação, ao número de pisos, à área útil, ocupação e uso, mas seguindo aos padrões mínimos estabelecidos nos BEC (26).

Em 2007 foram implantadas as melhores práticas dos edifícios. Essa implantação foi feita pela criação de benchmarks de consumo aplicados principalmente a edifícios existentes. Esses indicadores foram desenvolvidos pelo Electrical & Mechanical Services Department – EMSD o seu objetivo foi o de aumentar a consciência de construtores e proprietários sobre o consumo de energia em edifícios existentes com a finalidade de promover medidas de economia de energia nos edifícios. Para a comparação dos edifícios, foi desenvolvida uma plataforma eletrônica, de acesso online (27), em que o proprietário e/ou construtor pode consultar a performance de energia da sua edificação.

Etiqueta de consumo de energia de Hong Kong
Imagem divulgação [Electrical and Mechanical Services Department]

Essa ferramenta é utilizada para avaliar o desempenho do consumo de energia de acordo com os seus sistemas de utilização final de energia e equipamentos, em comparação com outros indivíduos no mesmo grupo de consumo de energia. Para os edifícios comerciais, por exemplo, os dados que o usuário deve registar são: o período de consumo, o total de consumo por tipo de energia (eletricidade, gás natural, LPG, diesel), a área útil da edificação, a idade da edificação, as horas de operação, o número de computadores, a temperatura de set point e dados do sistema de ar condicionado. Com esses dados, a plataforma compara a edificação com outras da mesma categoria e apresenta o consumo anual de energia em MJ/m²/ano.

De acordo com o Hong Kong Energy End-use Data de 2018 (28), 43% do total de energia consumida no país vai para o setor comercial e 21% para o setor residencial. No setor comercial, os edifícios de escritório representam 11% do total de energia consumida e destes 24% são consumidos pelos sistemas de condicionamento de ar, 14% por cozinhas, 12% por sistemas de iluminação. Assim, promover a eficiência energética em edificações é considerada uma medida eficaz de economia de energia e essa promoção é impulsionada em Hong Kong por medidas tais como a divulgação do consumo de energia, certificações e benchmarking (29).

Austrália

Na Austrália, existe uma variedade de ferramentas para avaliar o desempenho ambiental e o efeito estufa dos edifícios, tanto na concepção quanto na fase operacional. O National Australian Built Environment Rating System – Nabers – é um sistema de classificação baseado no desempenho da edificação real que mede o impacto ambiental durante a fase de operação e uso. A avaliação do Nabers (30) incorpora quatro componentes: energia, água, resíduos e qualidade ambiental interna – IEQ. A classificação é feita através do número de estrelas, que varia de uma a seis estrelas (com intervalos de meia estrela). Quanto maior o número de estrelas, menores são as emissões dos gases de efeito estufa. O número de estrelas é calculado pela avaliação comparativa do consumo de energia do edifício com um edifício base da mesma categoria e no mesmo Estado, devido as diferenças climáticas de cada um. Para garantir uma comparação dos valores de consumo, os fatores área da construção, horas de uso, clima, densidade dos equipamentos e a intensidade do efeito estufa das fontes de energia podem ser ajustados.

Etiqueta de consumo de energia da Austrália
Imagem divulgação [Environarc PTY LTD]

Os dados de consumo de energia são retirados diretamente das contas de eletricidade em um período de 12 meses e a classificação da edificação é válida por apenas um ano e por isso, pode variar de ano para ano (31). No ano de 2018 foram emitidos 1743 certificados, um aumento de 20,3% do número de certificados emitidos em 2017 e destes, 570 obtiveram a classificação acima de cinco estrelas, um aumento de 21,8% em relação à 2017. A média de classificação das edificações em 2018 foram de 4,4 estrelas, a melhor média de classificação dos últimos nove anos.

Panorama no Brasil

A política nacional de eficiência energética no Brasil tem um marco importante em outubro de 2001, quando foi sancionada a Lei nº 10.295 que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia que visa à alocação eficiente de recursos energéticos e a preservação do meio ambiente. Em dezembro do mesmo ano, o decreto nº 4.059 regulamenta a Lei n° 10.295 e estabelece no Art. 1:

“Os níveis máximos de consumo de energia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia fabricados ou comercializados no País, bem como as edificações construídas, serão estabelecidos com base em indicadores técnicos e regulamentação específica a ser fixada nos termos deste Decreto, sob a coordenação do Ministério de Minas e Energia” (32).

Para que estudos fossem desenvolvidos, foi criado dentro do Programa Brasileiro de Conservação de Energia Elétrica – Procel, a vertente que trata especificamente das edificações, o Procel-Edifica. Entre suas principais ações está o desenvolvimento do Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos – RTQ-C (33), que foi lançado em 2009 e revisto em 2010 (Portaria n. 372 do Inmetro).

A classificação das edificações varia de acordo com cinco níveis, sendo o “A” o mais eficiente e “E” o menos eficiente. A avaliação da edificação pode ser feita por dois métodos: método prescritivo e método de simulação. O método prescritivo utiliza pré-requisitos e equações que resultam em parâmetros que devem alcançar valores determinados para cada nível da classificação. Já o método de simulação deve utilizar um programa computacional de simulação termo-energética.

A etiqueta de eficiência energética pode ser fornecida para o edifício completo ou para parte dele (envoltória apenas ou conjugada com iluminação ou com condicionamento de ar). A classificação geral do edifício pode ser obtida quando todos os sistemas individuais forem avaliados. A pontuação final é estabelecida considerando pesos que são distribuídos em 30% para envoltória, 30% para iluminação e 40% para o condicionamento de ar. Além disso, a edificação pode receber até 1 ponto em bonificação pelo uso de equipamentos que racionalizem o consumo de água, sistemas de cogeração, inovações técnicas e sistemas ou fontes renováveis de energia. Até dezembro de 2019, já foram emitidas 246 etiquetas no país, sendo 143 de projeto e 103 de edifício construído. A região do Brasil que apresenta o maior número de prédios certificados é a região sudeste, seguido de sul e nordeste. Dessas edificações que receberam as etiquetas, 28 receberam a de Projeto e a Edifício Construído. Apenas 39 do total receberam somente a etiqueta de edifício construído e 8 perderam a etiqueta de projeto pois passaram os cinco anos em que ela foi emitida e não houve a emissão da etiqueta de edifício construído.

Percentual de etiquetas emitidas de projeto e de edifício construído
Imagem divulgação [Inmetro, 2020]

Total de etiquetas emitidas por região do país
Imagem divulgação [Inmetro, 2020]

Em 2018 entrou em consulta pública o novo método de avaliação do PBE Edifica, que visa sanar as limitações existentes do método atual de avaliação das edificações. Essa nova avaliação para edifícios não residenciais, utiliza a metodologia de metamodelo e treinamento de redes neurais artificiais (34). Essa nova metodologia irá prever o consumo de energia primária final da edificação em kWh/ano e os sistemas avaliados não se alteraram da versão em vigor, sendo avaliados o consumo de energia dos sistemas de condicionamento de ar, iluminação artificial, equipamento e aquecimento de água. A avaliação da envoltória é resultado do valor de carga térmica anual de resfriamento. Além disso, serão estimados o consumo do uso racional de água, a geração local de energia renovável e as emissões de dióxido de carbono (CO2). A análise poderá ser feita por um método simplificado e/ou por simulação computacional.

A nova atualização do RTQ-C já passou por consulta pública, mas não se divulgou a data de início da vigência. Ressalta-se que a Ence fornece um valor preditivo e não é baseado no consumo medido da edificação. Verifica-se que com essa atualização, a etiqueta de eficiência energética brasileira segue na mesma direção das etiquetas apresentadas de Hong Kong, Reino Unido e Austrália, pois passará a apresentar ao consumidor o consumo de energia da edificação, mesmo que esse seja um consumo previsto.

Etiqueta de eficiência energética atual e proposta
Imagem divulgação [Centro Brasileiro de Eficiência Energética em Edificações]

Com relação à análise de consumo das edificações em uso e operação, a primeira inciativa brasileira se deu em 2013 quando foi criado um Comitê Temático de Energia do Conselho Brasileiro de Sustentabilidade – CBCS e um projeto de Desempenho Energético Operacional – DEO. Este tinha como objetivo de entender as diferenças encontradas entre o consumo previsto e o consumo real das edificações e fomentar a criação de benchmarkings. Como piloto desse projeto foi estudada a tipologia de Agências Bancárias (35). Cabe ressaltar que no Brasil o consumo de energia elétrica e os projetos da edificação são considerados dados privados, portanto a criação de um benchmarking nacional é um processo moroso e que necessita do estabelecimento de parcerias com empresas privadas e públicas para a obtenção de dados.

A metodologia de benchmarking de consumo de energia elétrica para as Agências Bancárias foi desenvolvida através de análise de regressão linear utilizando dados de consumo de energia elétrica, auditorias energéticas, e correções climáticas (36). Para essa análise foram utilizados dados de 7980 observações contendo área útil, consumo de energia e localização das agências de três bancos diferentes. Neste projeto não foi possível obter dados como operação, usuários, características arquitetônicas das edificações. A partir deste projeto é possível verificar-se o nível de eficiência de uma agência em relação às demais a partir de uma plataforma implantada no site do CBCS (37).

Plataforma de cálculo do benchmarking para as agências bancárias no Brasil
Imagem divulgação [Conselho Brasileiro de Construção Sustentável]

O CBCS também desenvolveu um benchmarking para escritórios corporativos. A tipologia foi definida como possuindo área condicionada próxima a 100% de sua área útil da torre, com predominância de sistemas centrais de ar-condicionado utilizando água gelada e VRFs (38).

Plataforma de cálculo do benchmarking para os edifícios corporativos no Brasil
Imagem divulgação [Conselho Brasileiro de Construção Sustentável]

Outro trabalho desenvolvido para o país foi um benchmarking de consumo de energia elétrica de torres de escritório para a cidade de Belo Horizonte – Brasil. Na análise foram utilizadas 101 edificações com área bruta superior a 1.000 m² e com o mínimo de 3 andares. Para o desenvolvimento deste benchmarking, foram utilizados dados medidos de consumo de energia dos anos de 2012 a 2014 obtidos da concessionária de energia elétrica e os projetos arquitetônicos das edificações. Na metodologia desenvolvida se dividiu o consumo da torre e das garagens, utilizando para análise somente a parte correspondente à torre. Os valores encontrados no benchmarking para torres condicionadas artificialmente são apresentados na Tabela 1 (39). É importante ressaltar que os autores levaram mais de três anos para reunir os dados de consumo de energia da Concessionária pois foi necessário que a mesma retirasse a identificação de cada unidade de consumo da amostra antes de repassar o dado aos pesquisadores que foram necessários 2 meses para um pesquisador ir todos os dias à Prefeitura para fazer o download de documentos (40). Tem-se ainda que este processo começou após um ano de negociações com a Prefeitura local. Verificam-se assim tipos de barreiras existentes para a implementação de benchmarkings no Brasil. No entanto, espera-se que a partir destas primeiras iniciativas o país inicie a implementação destes.

Tabela dos limites do consumo de EUI (Intensidade de Uso de Energia) para torres de escritórios em Belo Horizonte
Elaboração das autoras

O mais recente projeto nessa área no Brasil é o convênio de cooperação entre a Eletrobras e o CBCS, intitulado “Estruturação do setor de edificações por meio de estudos e desenvolvimentos de base de dados com indicadores”, que tem como objetivo desenvolver benchmarks e indicadores de desempenho energético para 15 tipologias de edificações não residenciais em uso e operação, sendo elas privadas e públicas. O resultado desse projeto, iniciado em 2019, está previsto para 2021 (41).

Considerações finais

Este trabalho teve como objetivo apresentar algumas experiências internacionais e a atual situação do Brasil frente ao desenvolvimento de mecanismo de avaliação de eficiência energética em edificações. Atualmente o consumo de energia em edifícios tem sido responsável por uma grande parte do uso final de energia em todo mundo. Como os edifícios são sistemas complexos e o consumo de energia nestes é afetado por vários fatores, metas de redução de consumo de energia podem passar a ser estabelecidas através da análise do projeto, do acesso a dados medidos de consumo de energia e de informações sobre a operação das edificações, pois assim, será possível obter um maior entendimento das variáveis que influenciam o seu consumo de energia e se poderá desenvolver ferramentas mais eficazes para auxiliar projetistas e stakeholders a tomar decisões mais assertivas tanto nas fases iniciais de projeto, que é quando alterações tem uma possibilidade maior de acontecer quanto nas fases de operação quando ajustes e renovações podem ser feitos.

A partir do apresentado fica evidente a necessidade em se entender o consumo energético das edificações em uso e operação, criando um banco de dados integrado de consumo energético assim como apresentado nas certificações de Hong Kong, Reino Unido e Austrália. Informações tanto das características arquitetônicas, equipamentos, uso e consumo energético devem estar disponíveis para o desenvolvimento de um benchmarking confiável para o país. Para que isso aconteça, as políticas de compartilhamento de dados devem ser implementadas de maneira mais efetiva. A lei que garante o acesso à informação, Lei 12.527 de 18 de novembro de 2011, deveria ser mais aplicada no país. Com esse entendimento será possível desenvolver políticas focadas no setor da construção civil mais robustas e com o objetivo de melhoria contínua das edificações no sentido de otimizar o consumo energético deste setor.

No Brasil, a etiquetagem de eficiência energética para edificações completou 10 anos em 2019 e o que se percebe é uma evolução, com a melhoria do método de avaliação e com o desenvolvendo benchmarkings para diversas áreas, apresentando a mesma evolução de outros países que já possuem métodos consolidados.

notas

NA – Os autores gostariam de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais — Fapemig pelos recursos financeiros investidos nesta pesquisa.

1
Green Building. Environmental Protection Agency <https://bit.ly/2PNWXyC>.

2
Revha. Federation of European Heating, Ventilation and Air Conditioning Associations <https://bit.ly/30qZfpx>; Organismos de Inspeção Acreditados. Inmetro <https://bit.ly/2N0ILRG>.

3
KNEIFEL, Joshua. Life-cycle carbon and cost analysis of energy efficiency measures in new commercial buildings. Energy and Buildings, v. 42, n. 3, 2010, p. 333-340; NIKOLAOU, Triantafyllia; KOLOLOTSA, Dionysia; STRAVRAKAKIS, George; APOSTOLOU, Apostolos; MUNTEANU, Corneliu. Managing Indoor Environments and Energy in Buildings with Integrated Intelligent Systems. Switzerland, Green Energy and Technology, 2015, p. 261.

4
NIKOLAOU, Triantafyllia; KOLOLOTSA, Dionysia; STRAVRAKAKIS, George; APOSTOLOU, Apostolos; MUNTEANU, Corneliu. Op. cit., p. 261.

5
NIKOLAOU, Triantafyllia; KOLOLOTSA, Dionysia; STRAVRAKAKIS, George; APOSTOLOU, Apostolos; MUNTEANU, Corneliu. Op. cit., p. 261.

6
PÉREZ-LOMBARD, Lombard; ORTIZ, José; GONZÁLEZ, Rocío; MAESTRE, Ismael. A review of benchmarking, rating and labelling concepts within the framework of building energy certification schemes. Energy and Buildings, v. 41, n. 3, 2009, p. 272-278.

7
American Council for an Energy-Efficient Economy – ACEEE. Commercial Sector <https://aceee.org/sector/commercial>.

8
Department of the Environment and Energy, Australian Energy Update 2018, Ago. 2018, Canberra.

9
MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA. Balanço Energético Nacional. Brasília, MME, 2019, <http://www.epe.gov.br>.

10
Energy in Buildings and Communities. International Energy Agency. Total energy use in buildings. Analysis and evaluation methods. Sendai, EBC/IEA, 14 nov. 2013 <https://bit.ly/3ceAlPn>.

11
GAO, Xuefeng; MALKAWI, Ali. A new methodology for building energy performance benchmarking: An approach based on intelligent clustering algorithm. Energy and Buildings, v. 84, 2014, p. 607-616.

12
CHUNG, William; HUI, Y. V.; LAM, Y. Miu. Benchmarking the energy efficiency of commercial buildings. Applied Energy, v. 83, n. 1, 2006, p. 1-14.

13
CHUNG, William. Review of building energy-use performance benchmarking methodologies. Applied Energy, v. 88, n. 5, 2011, p. 1470-1479.

14
NIKOLAOU, Triantafyllia; KOLOLOTSA, Dionysia; STRAVRAKAKIS, George; APOSTOLOU, Apostolos; MUNTEANU, Corneliu. Op. cit., p. 261; BORGSTEIN, Edward H.; LAMBERTS, Roberto; HENSEN, Jan L. M. Evaluating energy performance in non-domestic buildings: A review. Energy and Buildings, v. 128, 2016, p. 734-755; MEIER, Alan; OLOFSSON, Thomas; LAMBERTS, Roberto. What Is an Energy-Efficient Building? Anais do IX Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Foz do Iguaçu – Paraná – Brasil, 2002.

15
MEIER, Alan; OLOFSSON, Thomas; LAMBERTS, Roberto. Op. cit.

16
GAO, Xuefeng; MALKAWI, Ali. Op. cit., p. 607–616.

17
PÉREZ-LOMBARD, Lombard; ORTIZ, José; GONZÁLEZ, Rocío; MAESTRE, Ismael. Op. cit., p. 272-278.

18
LIU, Jiangyan; CHEN, Huanxin; LIU, Jiahui; LI, Zhengfei; HUANG, Ronggeng; XING, Lu; WANG, Jiangyu; LI, Guannan. An energy performance evaluation methodology for individual office building with dynamic energy benchmarks using limited information. Applied Energy, v. 206, 2017, p. 193-205; FILIPPÍN, Celina. Benchmarking the energy efficiency and greenhouse gases emissions of school buildings in central Argentina. Building and Environment, v. 35 (5), 2000, p. 407-414.

19
WONG, Ing Liang; KRÜGER, Eduardo. Comparing energy efficiency labelling systems in the EU and Brazil: Implications, challenges, barriers and opportunities. Energy Policy, v. 109, 2017, p. 310-323.

20
CIBSE – Chartered Institution of Building Services Engineers, CIBSE TM46. 2008.

21
CIBSE. Guide F: energy efficiency in buildings, 3rd ed. London: The Chartered Institution of Building Services Engineers, 2012.

22
WONG, Ing Liang; KRÜGER, Eduardo. Op. cit., p. 310-323.

23
COHEN, Robert; BORDASS, Bill. Mandating transparency about building energy performance in use. Building Research & Information, v. 43(4), 2015, p. 534-552.

24
MA, Zhenjun; WANG, Shengwei. Building energy research in Hong Kong: A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 13, 2009, p. 1870-1883.

25
EMSD – ELECTRICAL & MECHANICAL SERVICES DEPARTMENT, H. K. Hong Kong Energy Efficiency Registration Scheme for Buildings, 2007.

26
EMSD – ELECTRICAL & MECHANICAL SERVICES DEPARTMENT, H. K. Op. cit.

27
Energy Consumption Indicators and Benchmarks <
https://ecib.emsd.gov.hk/index.php/en/>.

28
Hong Kong Energy End-use Data. The Energy Efficiency Office – Electrical & Mechanical Services Department (EMSD). 2018.

29
CHUNG, William; YEUNG, Iris. Benchmarking by convex non-parametric least squares with application on the energy performance of office buildings. Applied Energy, v. 203, 2017, p. 454-462.

30
Nabers <https://www.nabers.gov.au/>.

31
BURROUGHS, Steve. Improving office building energy-efficiency ratings using a smart-engineering–computer-simulation approach: an Australian case study. Advances in Building Energy Research, v. 12(2), 2017, p. 217-234.

32
BRASIL. Lei n. 10.295, de 17 de outubro de 2001. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 out. 2001. Diário Oficial da União – Seção 1 – 18/10/2001, p. 1.

33
BRASIL. Regulamento Técnico da Qualidade para Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos – RTQ-C. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Portaria n. 372, de 17 de setembro de 2010, 2010.

34
BAVARESCO, Mateus; MAZZAFERRO, Leonardo; MELO, Ana Paula; LAMBERTS, Roberto. Análise de sensibilidade do metamodelo da etiquetagem brasileira: edificações comerciais. Anais do XVII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído – Desafios da Inovação no Ambiente Construído, Foz do Iguaçu, 2018.

35
BORGSTEIN, Edward; LAMBERTS, Roberto. Developing energy consumption benchmarks for buildings: Bank branches in Brazil. Energy and Buildings, v. 82, 2014, p. 82-91

36
Idem, ibidem, p. 82-91

37
http://benchmarkingenergia.cbcs.org.br/).

38
Benchmarking de escritórios corporativos. Conselho Brasileiro de Construção Sustentável <https://bit.ly/3l2KOl2>.

39
VELOSO, Ana Carolina de Oliveira; SOUZA, Roberta Vieira Gonçalves, SANTOS, Felipe Nunes. Energy benchmarking for office building towers in mild temperate climate. Energy and Buildings, v. 222, 2020, p. 110059.

40
Idem, ibidem, p. 110059.

41
CONSELHO BRASILEIRO DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL. Atividades em andamento. CBCS <https://bit.ly/3l2TcAE>.

sobre as autoras

Ana Carolina de Oliveira Veloso é arquiteta e urbanista, mestre e doutora em Engenharia Mecânica pela UFMG, com período sanduíche na University of California, San Diego. Atualmente é professora na Pós Graduação em Arquitetura Bioclimática da PUC Minas e da graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UMA, Belo Horizonte.

Roberta Vieira Gonçalves de Souza é arquiteta pela UFMG e doutora em Engenharia Civil pela UFSC. Professora Associada da Escola de Arquitetura da UFMG, onde leciona no curso de Arquitetura e Urbanismo e na Pós Graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável.

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