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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
A partir do cenário vulnerável da Habitação Social, a pesquisa busca implementar e potencializar a resiliência desses Conjuntos através de Avaliação Pós-Ocupação e Coprodução. O artigo mostra a contribuição positiva das coproduções em um estudo de caso.

english
From the Social Housing vulnerable scenario, the research seeks to implement and enhance the resilience of these Complexes through Post-Occupancy Evaluation and Co-production. The article shows the positive contribution of co-productions in a case study.

español
A partir del escenario vulnerable de Vivienda Social, la investigación busca implementar y mejorar la resiliencia de Conjuntos con Evaluación Post-Ocupación y Coproducción. El artículo muestra la contribución positiva de coproducciones en estudio de caso.


how to quote

VILLA, Simone Barbosa; STEFANI, Ana Carolina de Oliveira; PEZZATO, Leila Maria; VASCONCELLOS, Paula Barcelos. Ampliando resiliência em habitação social através da coprodução. Um estudo de caso na cidade de Uberlândia. Arquitextos, São Paulo, ano 21, n. 250.08, Vitruvius, mar. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/21.250/8033>.

A partir do atual cenário mundial e suas mudanças climáticas e sociais, as estratégias de organização urbana devem ser urgentemente revistas de modo a se adaptarem às novas exigências do ambiente, de modo que possam reduzir os impactos ambientais, desenvolver a capacidade de se adaptar ao espaço em que estão inseridos e às diferentes necessidades de cada morador. Os projetos e obras em andamento passam por uma série de dificuldades ao atingir esses objetivos, tais como: encontrar técnicas e materiais de qualidade e funcionais; adaptar as construções para resistir a comportamentos climáticos e ambientais – tudo isso somado ao grande desafio de descobrir formas mais acessíveis para construir, buscando diminuir o grande déficit habitacional que existe na maioria dos países em desenvolvimento (1).

Como consequência, alguns programas governamentais tentam melhorar a qualidade de vida daqueles que não tem acesso à moradia e vivem em condições precárias, a partir da construção de conjuntos habitacionais. No entanto, o que se observa são obras com baixa qualidade construtiva e projeto arquitetônico pouco flexível, obrigando diferentes tipologias familiares a fazerem mudanças em edifícios pouco resilientes, que não estão necessariamente preparados para a adaptação, o que leva ao desperdício de materiais e ineficiência de recursos. Considerando a produção habitacional pública nacional, após o Banco Nacional de Habitação – BNH, o Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV demonstrou um esforço do Governo Federal com a tentativa de minimizar o déficit habitacional e dinamizar a economia de um mercado aquecido, tendo enfrentado várias críticas desde então (2). Os problemas associados a essa produção são evidentes e, quando se trata das classes de renda mais baixas, o problema é ainda maior (3). Nesse sentido, cada vez mais esses conjuntos reforçam o caráter de vulnerabilidade social dessas comunidades devido à falta de qualidade das habitações e de um desenho urbano que os integre à cidade (4). Logo, se faz necessário compreender e analisar esse caráter vulnerável, as mudanças e adaptações ocorridas após a construção das habitações, identificando, a partir desses dados e análises, indicadores de resiliência e adaptabilidade que podem ser potencializados através da prática colaborativa.

O conceito de edifício resiliente pode ser entendido como aquele que é capaz de se adaptar ou recuperar a partir de diferentes impactos (naturais, sociais, físicos). Tal significado foi adaptado para a área de arquitetura, entretanto seu conceito tradicional se associa à capacidade de um sistema em absorver distúrbios e reorganizar-se quando sujeito a alterações, e, ao mesmo tempo, ser capaz de manter as suas funções essenciais (5). De acordo com Vital (6), “desenvolver o grau de resiliência de um sistema urbano significa aprimorar o seu processo de superação de adversidades por meio de uma condição de adaptação que, inicialmente, reflete a capacidade do ambiente em administrar conflitos para manter-se em equilíbrio nas duas dimensões, social e ecológica.” – de forma que o termo ‘sistema urbano’ pode ser substituído por ‘Habitação de Interesse Social – HIS, nesse caso.

Ainda dentro do conceito de resiliência, reforça-se o papel das interações sociais nos ambientes e seu impacto nas dimensões econômicas, políticas, espaciais, institucionais e sociais (7). É importante ressaltar que, a partir dessas interações sociais, uma comunidade resiliente tem capacidade de responder a eventos ou mudanças de forma positivas, ao mesmo tempo em que mantém suas características e funções essenciais. Sendo assim, se faz necessário compreender não só essas interações sociais, mas também as interações entre comunidade e ambiente (8). Daí sua relação direta com a Coprodução, uma técnica de ações colaborativas onde o pesquisador atua como facilitador no processo de produção e gerenciamento do espaço por parte dos usuários envolvidos. Aqui, a mediação do pesquisador (pesquisadores, arquitetos, planejadores) permite mais parcerias e uma participação mais ampla e eficaz da comunidade. Os projetos, mais do que simplesmente buscarem um resultado específico de transformação física, conseguem, durante o processo, contribuir para a emancipação social e política dos usuários atuantes nesse espaço (9).

A partir desse cenário, a pesquisa “[RES_APO 2 e 3] Resiliência e Adaptabilidade em Conjuntos Habitacionais Sociais através da Coprodução” tem como objetivo principal implementar e potencializar a resiliência e a adaptabilidade de Conjuntos Habitacionais de Interesse Social através de técnicas de Avaliação Pós-ocupação e Coprodução em estudo de caso localizado em Uberlândia. O tema abordado vai de encontro com as proposições das principais agendas urbanas globais: a Nova Agenda Urbana – NUA – Habitat III de 2017 (10), os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2015 e a Agenda 2030 (11); os quais posicionam a resiliência como força de atuação no combate à vulnerabilidade urbana e social. Dos objetivos apresentados pelas agendas, destaca-se aqui o “Objetivo 11 – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” (12). Nesse sentido, o presente artigo mostra o impacto positivo das coproduções no estudo de caso analisado e como elas podem contribuir para um maior índice de resiliência nos conjuntos habitacionais, justificando suas execuções com base nos resultados obtidos em levantamentos de APO feitos na pesquisa. Espera-se promover uma diferença real e prática aos residentes no bairro de modo a responder às situações existentes de modo efetivo e, futuramente, garantir a formação de comunidades cada vez mais empoderadas e resilientes, já que as coproduções ajudam a conscientizar a comunidade sobre a importância do projeto resiliente e a capacitar a população para desenvolver estratégias mais elaboradas de adaptação das casas.

A problemática da HIS no Brasil

A falta de qualidade do que se é ofertado, bem como a ineficiência das políticas públicas fazem com que o déficit habitacional ainda seja um problema nacional (13). De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, o PMCMV entregou, no período de 2009 a 2019, cerca de 4,4 milhões de unidades. Entretanto, após dez anos do programa, o déficit habitacional passou de 6 milhões para 7,7 milhões em 2018 (14). O problema se torna mais alarmante quando se leva em consideração a qualidade das habitações já existentes, caracterizadas pela baixa qualidade construtiva e espacial, a qual negligencia as transformações dos perfis familiares e suas reais necessidades; além da periferização dos conjuntos habitacionais e falta de infraestrutura (15).

Resultados do Programa Minha Casa Minha Vida
Elaboração Paula Barcelos Vasconcellos, 2019

Dado esse cenário, é preciso buscar novas óticas e aprimorar ferramentas avaliativas para buscar, de fato, mudanças positivas no cenário habitacional nacional. Entende-se também a necessidade de estudar e desenvolver estratégias para melhorar a qualidade de vida das famílias que já residem nesses conjuntos. Nesse sentido, a resiliência se apresenta como uma resposta no combate a esse cenário vulnerável.

Resiliência: uma resposta à vulnerabilidade

Resiliência é atualmente um conceito popular e importante objetivo no planejamento das cidades, principalmente no que diz respeito a desastres ambientais e mudanças climáticas (16), como colocado nas novas agendas urbanas, como a UN-Habitat – World Cities Report 2016 (17), que coloca a resiliência como força motriz de atuação no combate ao estado vulnerável proporcionado pelo rápido crescimento dos centros urbanos, principalmente nas cidades médias e pequenas com menos de um milhão de habitantes – as quais representam 59% da população urbana mundial.

Em linhas gerais, o sistema resiliente combate o estado vulnerável, o que implica, portanto, na necessidade de análise e compreensão aprofundada das vulnerabilidades desse espaço e/ou sistema, identificando as ameaças incidentes e fatores locais específicos (18). O conceito de resiliência aqui utilizado está ligado a uma perspectiva mais dinâmica, ligado à capacidade de adaptação ou recuperação de diferentes impactos (naturais, sociais, físicos), elemento indispensável quando o assunto é produzir HIS de qualidade. Esta definição, estabelecida por Maguire e Cartwright (19), apresenta um conceito mais positivo, identificando os possíveis recursos e capacidade de adaptação que podem ser utilizados por uma comunidade para sanar problemas que resultam da mudança. Chega-se então a um conceito de resiliência social que, ao invés de se firmar em fatores externos para solucionar as vulnerabilidades, se estrutura nas capacidades inerentes de uma comunidade em lidar com problemas/alterações e constantemente se adaptar (20).

Dentro do conceito de resiliência social, reforça-se o papel das interações sociais nos ambientes e seu impacto nas dimensões econômicas, políticas, espaciais, institucionais e sociais (21). A partir dessas interações sociais, uma comunidade resiliente tem capacidade de responder a eventos ou mudanças de forma positivas, ao mesmo tempo em que mantém suas características e funções essenciais. Logo, objetiva-se compreender não só as interações sociais, mas também interações entre comunidade e ambiente (22).

Evolução do conceito de Resiliência
Elaboração Paula Barcelos Vasconcellos, 2019

APO: avaliando a resiliência

A Avaliação Pós-Ocupação – APO é uma ferramenta já consolidada, no que se diz respeito à qualidade do projeto, tanto em cenário nacional como internacional (23). Ela se mostra importante também na função de revelar as relações entre o comportamento humano e sua relação com o espaço construído, estabelecendo índices de satisfação e desempenho que contribuem para a melhoria dos projetos (24).

Como visto anteriormente, os conjuntos de HIS são geralmente localizados em regiões periféricas, marcados pela segregação espacial e social resultante de uma prática econômica guiada pelo lucro (25). Se faz necessária a avaliação para compreender como se dão as relações destas comunidades, de modo a descobrir formas de atuação que ampliem seu nível de resiliência, impactando positivamente o ambiente construído.

Coprodução: envolvendo a comunidade

A Coprodução é uma técnica de ações colaborativas que trata o pesquisador como facilitador no processo de produção e gerenciamento do espaço por parte dos usuários envolvidos. Aqui, a mediação do mesmo permite mais parcerias e uma participação mais ampla e eficaz da comunidade, contribuindo para a emancipação social e política dos usuários atuantes nesse espaço (26).

Considerando-a como uma prática de exercer o direito à cidade, entende-se como direito à cidade o acesso à terra urbana, bem como o direito à participação nas decisões sobre seu desenvolvimento, uso e gerenciamento (27). Na pesquisa, ela permite o estabelecimento de uma relação forte com a comunidade já que, para identificar resiliência e seus indicadores, é necessário se conectar com aqueles que a exercem empiricamente (28). A abordagem bottom-up da Coprodução, ao não apresentar hierarquia, possibilita ilimitadas formas de atuação (29), garantindo uma tomada de decisão mais coesa de acordo com os reais problemas enfrentados pela comunidade. Além disso, o trabalho colaborativo entre residentes e acadêmicos pode aumentar o capital social dos bairros, contribuindo para a aprendizagem social através de processos e produtos de pesquisa colaborativa (30).

Entendendo a metodologia

O projeto RES_APO 2 e 3 faz parte de uma pesquisa composta por três etapas: Etapa 1 – Avaliando. Levantamento geral da área com APO, análise de desempenho e diagnóstico, e início das atividades de Coprodução junto à comunidade com indicativo para as etapas seguintes; Etapa 2 – Agindo. Coprodução enfocando a unidade habitacional de uma quadra em específico na área de estudo; Etapa 3 – Empoderando. Consolidação da Coprodução enfocando a unidade habitacional de uma quadra em específico na área de estudo. População assume a frente das ações.

O presente projeto de pesquisa trata das etapas 2 e 3 que versa sobre os dados já coletados com instrumentos de APO junto às ações de Coprodução na área de estudo, tendo como foco a capacidade de adaptação e resiliência do ambiente construído no atendimento às necessidades de seus moradores e o impacto ambiental decorrente dessas transformações em curso. Para o atendimento dos objetivos propostos será realizada:

Metodologia e Referências
Elaboração das autoras, 2019

A pesquisa de modo geral, busca formas de avaliar a resiliência neste cenário, a partir dos métodos estabelecidos. Para tanto, a metodologia abrange 3 esferas: o ambiente, a instituição e os moradores. Tal contextualização é identificada a seguir:

Contextualização geral da pesquisa
Elaboração das autoras, 2019

A APO é responsável por conceber um banco de dados com informações que verificam a qualidade habitacional, e, para isso, adotam-se métodos mistos, classificados em quantitativos e qualitativos (31), como exemplificados no quadro a seguir:

Resumo dos métodos utilizados
Adaptado pelas autoras a partir de Avaliação Pós-Ocupação (APO) na Arquitetura, no Urbanis

Já a Coprodução irá se centrar em três elementos: 1. Ambiente Construído – conjunto edificado contemplando as escalas do bairro, vizinhança e unidade, e relações de impacto entre o ambiente construído e natural; 2. Agentes – agentes que interferem na dinâmica social do lugar; 3. Usuários – moradores do conjunto. Para verificação, as técnicas de Coprodução serão aplicadas em um estudo de caso.

Estudo de caso: o Residencial Sucesso Brasil

A área de estudo pertence ao maior empreendimento de HIS da cidade de Uberlândia, MG. Localizado na região sul, o bairro Shopping Park abriga 3000 UHs térreas do PMCMV, dentro da faixa de renda 1, construídas entre 2010 e 2013. O empreendimento é composto por 12 residenciais, sendo o Residencial Sucesso Brasil a área de estudo da pesquisa. Apesar da grande iniciativa, o local apresenta diversos problemas sociais, construtivos e de infraestrutura que impedem uma qualidade de vida adequada.

À esquerda, setorização dos residenciais no bairro Shopping Park; à direita, vista geral da quadra padrão
Adaptado pelas autoras a partir de [Resapo_stage 1]

Tratam-se de casas geminadas dispostas de duas a duas em um quarteirão de 200 m², com unidades de 36 m², construídas com alvenaria de tijolo cerâmico sobre radier de concreto, e compostas por sala, cozinha, dois quartos, banheiro e uma lavanderia externa. Contudo, os materiais e a execução de baixa qualidade, somadas ao layout inflexível, dificultam a adaptação por parte dos moradores. E, quando reformas e ampliações são de fato realizadas, devido à falta de orientação técnica, acabam por comprometer a qualidade espacial da casa e o sistema construtivo já existente, chegando a gerar, por exemplo, graves problemas estruturais.

Tipologia padrão do Residencial Sucesso Brasil
Adaptado pelas autoras a partir de Bortoli(2018)

A partir dos levantamentos e análises feitas na pesquisa, foi possível observar as fragilidades e potencialidades que condicionam, de modo geral, a resiliência no Residencial Sucesso Brasil. Foram concebidos instrumentos de avaliação com base na organização das informações obtidas na fase anterior em forma de uma Matriz de impactos, vulnerabilidades e capacidades adaptativas – que auxiliaram na estruturação dos novos instrumentos de análise, direcionados para aspectos de interesse apontadas pela matriz. Esses aspectos, por sua vez, foram organizados a partir das 4 ordens de análise elencadas e seus aspectos, de modo a auxiliar na organização geral dos estudos feitos pela equipe e a nortear as futuras coproduções.

Matriz de impactos, vulnerabilidades e capacidades adaptativas
Adaptado pelas autoras a partir de Bortoli (2018)

As coproduções e seus impactos positivos no Residencial Sucesso Brasil

Desde 2016, o grupo de pesquisa já realizou sete coproduções e duas atividades colaborativas, todas com enfoque em algum problema analisado previamente através dos levantamentos de APO e das conclusões feitas a partir deles.

Linha cronológica de coproduções já realizadas pela pesquisa
Catarse

No levantamento em campo mais recente, feito no final do ano de 2018, foi determinado um universo amostral de 40 residências para a aplicação do questionário. Para o walkthrough, a amostra foi reduzida a 7 unidades, devido à própria receptividade dos usuários e os demais prazos da pesquisa em curso. Os resultados obtidos serviram para definir 5 principais problemas a serem enfrentados:

Principais problemas identificados com o levantamento realizado
Adaptado pelas autoras

Após um longo período de coleta de dados e análise de resultados, o grupo precisava reatar o engajamento da comunidade a partir da realização de uma atividade colaborativa, definida na pesquisa como todas as ações e workshops com o intuito de dar apoio às coproduções e potencializar a participação dos moradores. Logo, foi proposto que a temática da atividade englobasse um dos problemas identificados: a falta de áreas verdes e altas taxas de impermeabilização do solo, tanto na escala da UH quanto seu entorno imediato – as calçadas. Diante disso, a atividade foi denominada “Oficina de plantio de mudas”.

De acordo com os resultados obtidos previamente, 87,5% dos residentes possuíam alguma planta em casa, porém 60% ainda sentia falta de áreas verdes. Além disso, 47,5% produzia algum tipo de horta em casa, contudo, a parcela majoritária evita qualquer tipo de plantio em sua residência devido à manutenção e dificuldade de limpeza da casa. Por isso, quase 100% das casas analisadas possuíam terrenos praticamente impermeáveis, apresentando consequências ambientais e sensitivas para o próprio morador – como abafamento do ar e aumento da sensação térmica.

A oficina consistiu no plantio de mudas de diversas espécies nas calçadas dos moradores que se habilitavam e concordavam em cuidar da planta a longo prazo. Foram previamente escolhidas algumas residências que manifestaram interesse em participar através do contato feito durante a aplicação dos questionários. Além disso, outras mudas foram plantadas no interior das residências e distribuídas aos moradores que se interessavam durante a realização da oficina. Percebeu-se também um possível interesse de duas moradoras para a participação para a próxima coprodução.

Residências pré-destacadas para oficina
Adaptado pelas autoras

Após a oficina, foi preciso organizar e comparar os resultados existentes até o momento, buscando comprovar ou não a melhoria da resiliência da comunidade analisada. Para isso, o estudo de caso foi contextualizado em 3 diferentes cenários: 1. Cenário 1 (2013) – Quando a casa foi entregue (2013); 2. Cenário 2 (5 anos depois) – Atualmente, antes da realização da Coprodução; 3. Cenário 3 (2018-2019) – Após a realização da Coprodução.

Cenários da pesquisa
Adaptado pelas autoras a partir de Villa (2017)

A partir daí, foi decidido que a próxima coprodução seguiria a mesma linha temática da atividade colaborativa – utilizando a presença de áreas verdes como potencial para a melhoria de qualidade de vida dos moradores e melhor desempenho térmico da parte externa das residências.

Cenário atual – a coprodução “Renovando meu quintal”

A partir desse quadro, a coprodução ganhou nome de “Renovando meu Quintal”, que visa difundir a importância da presença dos espaços verdes (seja jardim, hortas), bem como a organização de todo o arranjo do ambiente externo, melhorando a estética e a funcionalidade do espaço em sua totalidade. Para fundamentar a ação, foram considerados as seguintes informações: Excesso de lixo e entulho nos quintais; Problemas de estocagem de materiais de construção e equipamentos/produtos cotidianos; Falta de permeabilidade; Falta de espaços adequados para realização de atividades de extensão da casa- como receber visita, cozinhar, área de estar, descanso, entre outros.

A partir disso foi realizada uma reunião com as duas moradoras, a fim de traçar seus anseios e necessidades a serem representadas no projeto, discutidos a partir de uma dinâmica que consistia em duas questões-chave: “eu gostaria que meu quintal fosse...” e “o que me impede” (de atingir tal objetivo).

Cartazes feitos em conjunto com as moradoras em reunião
Foto das autoras, 2019

A partir das respostas foi possível traçar as primeiras ideias para elaboração dos projetos individuais. Isto, em associação com as informações técnicas já levantadas pela equipe de pesquisa, permitiram o desenvolvimento dos projetos de forma horizontal, sempre considerando todas as opiniões, limitações e vontades das participantes. As propostas visaram a melhoria da qualidade de vida dos residentes através da organização geral do ambiente externo, retirada dos entulhos existentes, finalização de muros incompletos e a pintura do espaço, bem como o design e montagem de mobiliários em pallet.

Comparação: fotos situação atual das residências (esquerda) e projetos propostos (direita)
Elaboração das autoras, 2019

Os projetos incentivam a reutilização de materiais, a produção de móveis exequíveis (de baixo custo e adaptáveis) e impulsiona o plantio com a intenção de melhorar o baixo índice de áreas permeáveis e verdes nas residências. E, apesar de tratar-se de uma coprodução pontual, as estratégias têm potencial para serem replicadas na vizinhança – tornando-se bons exemplos de soluções palpáveis e funcionais para melhoria dos ambientes externos.

Uma vez que a primeira etapa de busca presencial por doações e parcerias com lojas de construção não deu certo, a equipe decidiu partir para um plano B – a criação de uma campanha de financiamento coletivo online na plataforma Catarse (32).

Página inicial do site de financiamento Catarse
Catarse

Para tanto, seria necessário a busca por recompensas para incentivar as doações – o que deu origem à ideia de convocar artistas locais para participarem da coprodução e também forneceram algumas de suas obras para serem colocadas como recompensas, de modo a chamar um maior número de pessoas interessadas em ajudar o projeto. Tais iniciativas resultaram em uma parceria positiva entre a universidade, a comunidade e os artistas, permitindo troca de conhecimentos, e empoderamento dos moradores com todos executando papeis necessários para a realização da ação.

Algumas das recompensas disponibilizadas na plataforma Catarse
Catarse

A subdivisão destacada em vermelho na fotomontagem acima mostra o resultado da segunda atividade colaborativa – um mobiliário confeccionado junto à comunidade. O grande objetivo foi divulgar a coprodução em andamento e despertar a comunidade quanto a sua capacidade em desenvolver estratégias para lidar com certos problemas do dia a dia, como a falta de espaço para estocagem, como já mencionado. Nesse sentido, o grupo de pesquisa, junto a um aluno voluntário do curso de Design, elaborou um mobiliário personalizado aparador, passível de ser executado pelos próprios moradores com a utilização de ferramentas simples. Ao final da produção, o mobiliário confeccionado foi sorteado entre os participantes, e outro mobiliário idêntico foi produzido para ser disponibilizado na plataforma Catarse.

Considerações finais

O presente trabalho destacou os principais resultados da aplicação da metodologia de Avaliação Pós-Ocupação, associada a técnicas de Coprodução, os quais possibilitaram identificar os impactos incidentes, de que forma afetam a comunidade local e quais as abordagens ideais para que a comunidade se engaje e busque mitigar/solucionar os efeitos negativos existentes. Apesar de todos os impactos adversos vividos pelos moradores, eles continuam se adaptando e buscando alternativas para melhorar o ambiente construído. No entanto, pouco é feito para desenvolver soluções genuinamente sustentáveis e replicáveis, devido à falta de uma assessoria adequada que possa auxiliar o morador a superar as fragilidades de maneira paliativa. No entanto, por meio da Coprodução, foi possível confirmar o papel da prática colaborativa como chave para a resiliência, melhorando a ação dos residentes por meio da orientação e troca de conhecimentos dos mediadores do grupo de pesquisa, capacitando os moradores e ampliando a motivação dos mesmos em participar e promover a resolução de problemas individuais e coletivos. O investimento em processos de práticas participativas propicia, aos arquitetos, informações verdadeiras sobre as reais necessidades e valores dessas comunidades, considerando suas capacidades inerentes, relações sociais e culturais, e comportamento perante mudança. Tudo isso pode ser traduzido em projetos de qualidade que possam reforçar os fatores positivos encontrados, empoderar o usuário em questão e permitir adaptabilidade a futuras mudanças e impactos. Neste sentido, a coprodução auxilia não só, na prática profissional existente, refletindo em novas formas de projetar que reestabeleçam o diálogo com o usuário, mas também como produtora de novo conhecimento que pode ser direcionado ao campo acadêmico, repensando a forma como o arquiteto enxerga o cliente/usuário nas etapas de projeto. De modo mais amplo, essa experiência pode promover uma diferença real e prática para os residentes brasileiros e proteger o futuro, auxiliando na melhora desse cenário de tantas casas produzidas já existentes, preenchendo as lacunas deixadas pela falta de qualidade existente no campo da habitação social nacional, não somente fornecendo orientações detalhadas para o projeto habitacional mais adaptável e resiliente no contexto local, mas também dando voz ao usuário e à comunidade.

notas

1
VILLA, Simone Barbosa; GARREFA, Fernando; STEVENSON, Fionn; SOUZA, Aline Ribeiro; BORTOLLI, Karen Carrer Ruman de; ARANTES, Juliana Silva; VASCONCELOS, Paula Barcelos; CAMPELO, Vanessa Araújo. [Resapo_stage 1] Method of analysis of the resilience and adaptability in socialhousing developments through post occupancy evaluation and co-production. Final Research Report. Uberlândia, Federal University of Uberlândia/University of Sheffield, 2017 <https://bit.ly/3l1sxo1>; RUFINO, Maria Beatriz Cru; KLINTOWITZ, Danielle Cavalcanti; MENEGON, Natasha Mincoff; UEMURA, Margareth Matiko; FERREIRA, Ana Cristina; FRIGNANI, Carolina; BARRETO, Filipe. A Produção do Programa PMCMV na Baixada Santista: habitação de interesse social ou negócio imobiliário? In CARVALHO, Caio Santo Amore de; SHIMBO, Lúcia Zanin; RUFINO, Maria Beatriz Cruz (Org.). Minha casa... e a cidade? Avaliação do programa minha casa minha vida em seis estados brasileiros. Rio de Janeiro, Letra Capital, 2015, p. 103-130.

2
TRAMONTANO, Marcelo. Novos Modos de vida, novos espaços de morar. São Carlos, EES USP, 1993.

3
CABRITA, António M. Reis. O homem e a casa. Definição individual e social da qualidade da habitação. Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 1995.

4
VILLA, Simone Barbosa; OLIVEIRA, Juliano Carlos Cecílio Batista; SARAMAGO, Rita de Cássia Pereira. Respostas ao problema habitacional brasileiro. O caso do projeto Mora. 2º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono: Habitação, Cidade, Território e Desenvolvimento. Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, v. 1, 2013, p. 186-187.

5
WALKER, Brian; HOLLING, C.S.; CARPENTER, Stephen; KINZIG, Ann. Resilience, adaptability and transformability in social: ecological systems. Ecology and Society, v. 9, n. 2, art. 5, 2004; THACKARA, J. City Eco Lab: thing-design to-do list. Conference Doors of Perception, 5 dez. 2008 <https://bit.ly/3exZh6W>.

6
VITAL, G. T. D. Arquitetura e cidade na obra de Rino Levi. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2012.

7
ADGER, W. Neil. Social and ecological resilience: are they related? Progress in Human Geography, n. 24, 2000, p. 347-364.

8
MAGUIRE, Brigit; CARTWRIGHT, Sophie. Assessing a community’s capacity to manage change: A resilience approach to social assessment. Canberra, AustralianGovernment Bureau of Rural Sciences, 2008.

9
TROGAL, Kim; PETRESCU, Doina. Architecture and Resilience on the Human Scale: Ethical and political concerns, agencies, co-production and socio-technological strategies in research and practice. Architecture and Resilience on a Human Scale Conference 2015, v. 1, Sheffield, 2015, p. 13-23.

10
New Urban Agenda. Habitat III. Quito, jan. 2018 <http://habitat3.org/wp-content/uploads/NUA-English.pdf. 2017>.

11
General Assembly: Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. Sustainable Development Goals, United Nations, 2015 <https://bit.ly/2PQiQNL>.

12
Idem, ibidem.

13
VILLA, Simone Barbosa. A APO como elemento norteador de práticas de projeto de HIS. O caso do projeto [Mora]. 1º Congresso Internacional Habitação no Espaço Lusófono. Lisboa, 2010; VILLA, Simone Barbosa; VASCONCELLOS, Paula Barcellos. Como viabilizar unidades habitacionais de baixo custo sob a ótica da flexibilidade para o programa Minha Casa Minha Vida? O caso do Projeto Mora [2]. 3° Colóquio de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo e Design Brasil-Portugal: UFU e UTL, v. 1, Lisboa, 2015, p. 303-313.

14
BOHM, Thais. Minha Casa Minha Vida não reduziu déficit habitacional, afirma estudo. Jornal do Senado, ano 24, n. 4843, 20 fev. 2018. Especial Cidadania, ano 14, n. 622 <https://bit.ly/38rcSJo>.

15
TRAMONTANO, Marcelo. Op. cit.

16
MEEROW, Sara; NEWELL, Joshua P.; STULTS, Melissa. Defining urban resilience: A review. Landscape and Urban Planning, v. 147, 2016, p. 38-49 <https://doi.org/10.1016/j.landurbplan.2015.11.011>.

17
Urbanization and Development: Emerging Futures. World Cities Report, 2016 <http://wcr.unhabitat.org/>.

18
DAVOUDI, Simin; CRAWFORD, Jenny; MEHMOOD, Abid. Planning for Climate Change: strategies for mitigation and adaptation for spatial planners. London, Earthscan, 2009.

19
MAGUIRE, Brigit; CARTWRIGHT, Sophie. Op. cit.

20
VASCONCELLOS, Paula Barcelos. Co-produzindo Resiliência em Habitação de Interesse Social: Como ampliar a resiliência através do engajamento? Dissertação de Mestrado. Uberlândia, FAUeD UFU, 2019.

21
ADGER, W. Neil. Op. cit., p. 347-364.

22
MAGUIRE, Brigit; CARTWRIGHT, Sophie. Op. cit.

23
ONO, Rosaria.; ORNSTEIN, Sheila Walbe; VILLA, Simone Barbosa; FRANCA, Ana Judite G. Limongi. Avaliação Pós-Ocupação (APO) na Arquitetura, no Urbanismo e no Design: da Teoria a Prática. São Paulo, Oficina de Textos, 2018; LEAMAN, Adrian; STEVENSON, Fionn; BORDASS, Bill. Building Evaluation: Practice and Principles. Building Research and Information, v. 38, n. 5, 2010, p. 564-577.

24
VILLA, Simone Barbosa; SARAMAGO, Rita de Cássia Pereira; GARCIA, Lucianne Casasanta. Avaliação Pós-Ocupação no Programa Minha Casa Minha Vida: uma experiência metodológica. Uberlândia, UFU, v. 1, 2015.

25
MARICATO, Erminia. Habitação Social em Áreas Centrais. Óculum Ensaios, Campinas, Puc Campinas, 1999; VILLA, Simone Barbosa; OLIVEIRA, Juliano Carlos Cecílio Batista; SARAMAGO, Rita de Cássia Pereira. Op. cit., p. 186-187.

26
TROGAL, Kim; PETRESCU, Doina. Op. cit., p. 13-23.

27
PETCOU, C.; PETRESCU, D. R-Urban or how to produce a resilient city. Ephemera – Theory & Polytics Organization, v. 15, n 1, 2015, p. 249-262.

28
MEEROW, Sara; NEWELL, Joshua P.; STULTS, Melissa. Op. cit., p. 38-49.

29
CAMPBELL, Heather; VANDERHOVEN, Dave. Knowledge That Matters: Realising the Potential of Co-production. N8/ESRC Research Programme. Manchester, Economic & Social Research Council, 2016.

30
STEVENSON, Fionn; PETRESCU, Doina. Co-producing neighbourhood resilience. Building Research & Information, v. 44, n. 7, 2016, p. 695-702.

31
LAY, M. C. D.; REIS, A. T. L. Métodos e técnicas para levantamento de campo e análise de dados: questões gerais. Anais do Workshop Avaliação Pós-Ocupação, 1994, São Paulo, FAU USP/Antac/Nutau, 1994, p. 28-49.

32
Ação de alunos – Projeto Renova Shopping Park. Catarse, São Paulo, nov. 2019 <https://www.catarse.me/_projeto_shopping_park>.

sobre as autoras

Simone Barbosa Villa é doutora em Arquitetura e Urbanismo FAU USP, professora na FAUeD UFU, coordenadora do Programa de Pós-Graduação da FAUeD UFU e do [Mora] Pesquisa em Habitação. É autora de três livros na área de Avaliação Pós-Ocupação e Habitação.

Ana Carolina de Oliveira Stefani é discente no 10° período do curso de Arquitetura e Urbanismo na FAUeD UFU. Participou como pesquisadora por 2 anos no Grupo [Mora] – Pesquisa em Habitação.

Leila Maria Pezzato é arquiteta e urbanista e mestre pela EESC USP (2010) na área de Tecnologia das Construções. Participa como pesquisadora no Grupo [Mora] – Pesquisa em Habitação e Desenvolve projetos de arquitetura como microempreendedor individual.

Paula Barcelos Vasconcellos é arquiteta e urbanista pela FAUeD UFU e mestranda pelo PPG FAUeD UFU, atuando como pesquisadora no Grupo [Mora] – Pesquisa em Habitação.

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250.08 habitação de interesse social e avaliação pós-ocupação
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