Um dos mais belos edifícios cariocas dos anos 1970 está sendo demolido, neste exato momento. Trata-se da Escola Veiga de Almeida, projetada por Luiz Eduardo Índio da Costa em 1976 e localizada na Avenida das Américas, Barra da Tijuca. Por algum motivo, o edifício estava desocupado havia já alguns anos – o que, sem dúvida, era um mau presságio.
A demolição da Veiga de Almeida é lamentável sob diversos aspectos. Em primeiro lugar, pela qualidade excepcional do projeto em si – algo que me parece incontestável. A par disso, o projeto ilustrava bem a qualidade de uma certa arquitetura praticada no Rio de Janeiro na década de 1970. Uma década que, não custa lembrar, viu serem projetados edifícios como o Estrela da Lagoa (Paulo Casé, 1970), o Centro Educacional da IBM (Pontual Associados, 1972, projeto desenvolvido a partir de ante-projeto de Arthur Lício Pontual, morto precocemente em 1971), os Edifícios para a Indústria Piraquê (Marcelo Fragelli, 1973-74), o Conjunto Habitacional do Cafundá (Sérgio Magalhães, Clóvis Barros, Ana Luiza Petrik e Silvia Pozzana, 1979), o Centro de Saúde Milton F. Magarão (Mario Ferrer, 1979) – para citar apenas uns poucos exemplos.
Mas assistir ao avanço da retro-escavadeira sobre a estrutura de concreto armado da Escola Veiga de Almeida foi, para mim, triste num sentido muito pessoal. Pois foi acompanhando sua construção que me dei conta do papel da arquitetura de qualidade na construção das cidades. Em meio ao vale-tudo que caracterizava a Barra dos anos 1970, não era difícil se afeiçoar (mesmo para um menino de onze, doze anos) pelo belo projeto de Índio da Costa. Por isso mesmo, seu abandono recente me parecia tão significativo. Como se o “mal destino” que fez da Barra o que quis (são palavras de Lucio Costa), não tivesse mesmo deixado lugar para um edifício como a Escola Veiga de Almeida: contido, quase discreto, era capaz de educar por meio de sua própria arquitetura.
sobre o autor
Otavio Leonídio, arquiteto e professor da PUC-Rio.
Otavio Leonídio, Rio de Janeiro RJ Brasil