Milano, Corso Como 10, galeria Carla Sozzani. Mergulhados na nova versão multicolorida da poltrona Egg, addetti ai lavori, arquitetos e críticos de arte (entre eles o inoxidável Gillo Dorfles), abandonam-se a amargas considerações sobre o futuro próximo da arquitetura na Itália:
"Recusamos uma proposta de projeto para a Appia Antica – declara Doriana Fuksas – não é admissível que alguém possa construir num parque, pequeno ou grande que ele seja; mas logo alguém das vossas bandas aceitou e está fazendo".
"Porque vocês nunca fazem os nomes?"
- pergunta alguém do público.
"Todos sabem quem é".
"Eu sou engenheiro, não sei se gostaria de saber".
Ela corta a conversa virando as costas:
"Não se pode dizer".
É somente um dos inúmeros sinais de prudência emitidos por ocasião dos principais eventos italianos do setor em 2008, como a semana milanesa do Salone del mobile e a 11 Biennale di Architettura di Venezia (que acaba de lançar sua elusiva mensagem Out of there).
A crise se faz sentir; a "casta" dos arquitetos e dos designers serra as fileiras e o apelo ao more etics lançado pelo famoso casal Fucksas numa inesquecível Bienal de Arquitetura aparece – exceto por alguns eventos de "Turim capital mundial do design" – bastante apagado.
Talvez não seja por acaso, então, que este ano no Salone de Milano as reedições e celebrações de móveis que marcaram a história do design – e especialmente de assentos – tenham sido tão numerosas, a começar pela mostra Made in Cassina, no espaço da Triennale e, nos jardins, pela instalação da Kartell com a reprodução em tamanho gigante – inspirada na ars topiaria – de suas cadeiras históricas.
Além da mencionada The Egg de Arne Jacobsen, que festejou seus 50 anos, sendo revisitada pelo artista Tal R através de 50 interpretações na técnica patchwork, festejou seus 40 anos o Sacco de Zanotta, celebrado no espaço industrial de BaseB Bovisa com novas versões coloridas e o evento La com/clientes/vitruvius/media del sacco, que apresenta 40 divertidos disfarces – em edições limitadas de 9 exemplares cada uma – do mítico (e democrático) assento recheado de bolinhas de isopor inventado em 68 por Gatti, Paolini e Teodoro (a exposição segue ainda este ano para Paris, Tokyo e New York).
Dois descendentes de Gerrit Rietveld – neto e bisneto – mostraram na Fondazione Antonio Mazzotta reproduções de cadeiras pouco conhecidas projetadas pelo arquiteto do movimento De Stijl, com a intenção de "mostrar ao mundo que Rietveld quis dizer bem mais que as cadeiras Red-Blue e ZigZag" (ambas produzidas até hoje por Cassina).
Matteo Thun presenteou o Spazio Pontaccio com uma interpretação cromática das cadeiras Cherish – um cult sem tempo - pintadas nas cores pastel das casas de praia do Oceano Pacífico (Go Malibu era o título da instalação).
A companhia norte-americana Haworth, que incorporou a Castelli em 1993, apresentou em Milano, e em seguida numa mostra itinerante em seus show-room, os 50 projetos vencedores de um concurso entre os estudantes da academia NABA, que re-visitaram (com resultados duvidosos) a famosa Plia do designer Giancarlo Peretti produzida pela Anonima Castelli (1967).
Em toda parte - até no espaço da Panasonic – fomos convidados a sentar, ou melhor, a nos instalar confortavelmente na nova versão luxo (em edição limitada) do nosso passado cultural e social.
As verdadeiras novidades foram relativamente poucas e – na maioria – referiam-se ao aspecto tecnológico-formal do assento: como no caso de Skin de Jean Nouvel para Molteni & C., poltrona em tubo de aço revestido em couro com cortes geométricos "auto-modelantes", apresentada pela boutique Ferragamo.
Raros os momentos de diversão (as cadeiras de jardim de Paola Navone, para Emu, em metal furadinho para as plantas crescer e se enroscar por dentro do assento), raríssimos os toques de humor (Electric chair, de Lee Broom, poltrona setecentista com perfil ao neon) e/ ou de reflexão mais séria (o assento feito de cobertores velhos do Droog design; as novas cores das cadeiras baratas de série em novas na biblioteca de Santa Maria Incoronatai) e inúmeras e demasiadas por outro lado as concessões ao luxury design (e ao Kitch) por parte das firmas que visam conquistar os mercados do oriente e os nababos do mundo.
Vagamos perplexos entre cadeiras "vestidas" pelas grandes maisons – Mademoiselle da Kartell em raso vermelho by Valentino, Titania by Versace (que acaba de assinar o interior design de helicópteros particulares em parceria com Agusta Westland); – e invenções bem além do mau gosto: com destaque para Karim Rashid que assinou descaradamente para Veuve Clicquot umas cadeirinhas-pétalas de rosa de dois lugares para namorados beberem champagne.
Até quando, num hotel da zona ex industrial de via Tortona (e em seguida no Design Miami Basel), encontramos novamente os incríveis holandeses que no ano passado nos haviam surpreendido com a mini-lampada Dandelion. A surpresa é, quem diria, mais uma cadeira, ou melhor um ectoplasma, um extraordinário simulacro – porém muito sólido, em plexiglas 60 mm – de cadeira: Ghost.
Para nos sentar e meditar sobre o pretendido fim das nossas ilusões antigas (e o início das novas).
"Nowadays anything is possible with 3D-computerprograms-you can even draw the impossible-so why fall back on the awkward design language of your grandma’s furniture?"
sobre o autor
Giovanna Rosso Del Brenna é correspondente internacional do Portal Vitruvius na Itália.
Giovanna Rosso Del Brenna, Milão Itália