A Escola Técnica Superior de Arquitetura da Universidade Politécnica de Valência, através de uma equipe de professores do Departamento de Composição Arquitetônica, celebrou o quinto centenário do nascimento do arquiteto paduano Andrea Palladio com as Jornadas Internacionais Comemorativas, nas quais participaram, como professores convidados, James S. Ackerman, Mario Docci, Ramón Gutiérrez, Fernando Marías, José Laborda, Juan Calduch, Joaquín Bérchez e Mercedes Gómez-Ferrer, todos eles especialistas no assunto.
James S. Ackerman é a primeira autoridade, há meio século, em estudos palladianos. Seu Palladio (editado em castelhano em 1980) data de 1966 e é obra de referência imprescindível. Tem dividido aulas de Belas Artes nas universidades de Berkeley e Harvard. É membro da American Academy of Arts and Sciences e da Accademia Olimpica de Vicenza, entre outras. Recebeu cinco doutorados honoríficos e foi condecorado como Grande Oficial da Ordem ao Mérito da República Italiana. Na XIª Bienal de Veneza recebeu o Leão de Ouro.
Mario Docci é professor na Facoltà di architettura di Roma a Sapienza desde 1968 e na Scuola di Specializzazione in Restauro dei Monumenti na mesma universidade. Fundador e diretor da revista Disegnare, idee, immagini, realizou um intenso trabalho de pesquisa. Sua atividade profissional no campo do projeto se concentra principalmente na restauração arquitetônica e urbana. Seu domínio da expressão gráfica o tem convertido em referência nos debates dos departamentos de arquitetura a esse respeito.
Ramón Gutiérrez é autoridade de iniludível referência para a bibliografia geral da arquitetura especializada palladiana na Ibero América, sendo que algumas destas pesquisas se encontram compiladas nos boletins do "Centro Internacional de Estudios Andrea Palladio" de Vicenza. É fundador do Centro de Documentação de Arquitetura Latinoamericana (CEDODAL) com sede em Buenos Aires. Foi professor na Universidade Nacional do Nordeste, em Resistência (Argentina) e editor da revista Documentos de Arquitetura Nacional e Americana (DANA).
Fernando Marías Franco é Catedrático de História da Arte na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Autônoma de Madrid. Foi bolsista e professor visitante, entre outras instituições, do CSIC, Fundação Getty, Harvard e CASVA (Washington). Publicou numerosos artigos e livros especializados em renascimento espanhol, no toledano e em El Greco, assim como As Medidas do Romano de Sagredo e As Meninas.
José Laborda Yneva dirige a Cátedra "Ricardo Magdalena" da Deputação de Zaragoza, é acadêmico correspondente das reais de Bellas Artes de San Fernando e da História de Madrid e membro do CSIC. Autor da edição crítica fac-símile da tradução castelhana de Palladio por Ortiz e Sanz.
Juan Calduch é Professor Titular de Composição Arquitetônica na Escola Técnica Superior de Arquitetura da Universidade de Alicante e autor de uma recente pesquisa, de iminente publicação, sobre os desenhos originais de Palladio que se encontram nos arquivos do Royal Institute of British Architects, Londres.
Joaquín Bérchez e Mercedes Gómez-Ferrer são respectivamente Catedrático e Professora de História da Arte na Universitat de València, autores de diversos estudos sobre influências palladianas no âmbito territorial da Comunidade Autónoma, através da Academia de Bellas Artes de San Carlos e também fora dela.
A direção das Jornadas ficou sob responsabilidade do Catedrático Joaquín Arnau Amo, e à frente da subdireção esteve a professora da Universidade de Alicante, Elia Gutiérrez Mozo, a quem coube também as relações com a Ibero América. A equipe organizadora foi composta pelos professores Vicente García Ros (responsável também pela Pesquisa), Javier Poyatos Sebastián (Pressupostos e Secretaria), Juan María Songel González (Pressupostos e relações com EEUU), José Luis Baró Zarzo, Sonia Dauksis Ortolá (Gestão), Guillermo Guimaraens Igual (Desenho e Maquetaria) e Federico Iborra Bernad (Pesquisa e relações com a Itália).
Este evento foi possível graças à colaboração das seguintes entidades: Escola Técnica Superior de Arquitetura da U.P.V., Vice-reitorado de Cultura da U.P.V., Vice-reitorado de Pesquisa da U.P.V., Master Oficial em Conservação do Patrimônio Arquitetônico, Cátedra Arquitetura Sustentável Bancaja-Hábitat, Cátedra Cerámica Ascer, Cátedra Blanca e Centro de Formação de Pós-graduação da U.P.V.
As Jornadas se celebraram entre os dias 7 e 8 de novembro de 2008 no Paraninfo da Universidade Politécnica de Valência, sob a presidência dos professores Ana Llopis, Diretora da Escola de Arquitetura; Amparo Chiralt, Vice-reitora de Investigação; José María Lozano, na condição de representante das cátedras de empresa, e Joaquín Arnau, Diretor das Jornadas.
Em paralelo, e até o dia 30 de novembro, se montou a Mostra "Palladio: uma visão da Antiguidade", com curadoria dos professores Guimaraens, Baró e Iborra, com fotografias de Diego Opazo, na Sala de Exposições II da Escola de Arquitetura. E uma subseqüente revisão das possíveis influências do legado palladiano foi objeto de uma visita à Cidade de Valência dirigida e comentada pelo professor Iborra.
Nas Jornadas participaram – com uma presença expressiva de interessados no seu denso programa (20 horas, equivalentes a um crédito, em dois dias consecutivos) – mais de uma centena de inscritos, além de um indeterminado, porém destacado, número de ouvintes.
Em sua aula inaugural e magistral "Palladio: entre o decoro e a liberdade", o professor Ackerman nos ensinou que entre o decoro da tradição clássica e a liberdade que proclama a modernidade, o Palladio arquiteto supôs encontrar o equilíbrio justo: essa foi sua sabedoria, que o veterano professor conhece e compartilha, e esse é seu magistério.
Seguiu o professor Docci com "Desenho, Projeto e Relações Proporcionais em Palladio", que nos fez ver que para compreender o antigo, Palladio desenha e mede o que vê, e desenha e dimensiona o que intui. E é assombroso que acerte tanto: como historiador, Palladio se equivoca (“não foi assim”), mas acerta como arquiteto (“podia ter sido e devia ser assim”).
Na continuação, o professor Gutiérrez, em sua intervenção "Bibliografia e pistas de Palladio na América", nos revelou, ainda que pareça inacreditável, que, tendo herdado da Espanha uma arquitetura "palladiana" apenas com aspas (pois é o poder, a princípio, o único que toma nota), a América Latina administra sua herança com muita desinibição: mas as réplicas aí estão.
A tarde da sessão da quarta-feira dia 7 se abriu com a brilhante palestra do professor Marías, "Palladio em España", que demonstrou que o que de Palladio no XVI tomamos, sob os austrias, através das altas instâncias, no XVIII volta a ser imprescindível e prolifera em uma enorme quantidade de exemplos aonde o aceno (o "palladianismo" prefigura o "pós-moderno") se revela presente e inconfundível.
Seguiu o professor Arnau com seu "Palladio arquiteto teórico e prático" para revelar-nos que o segredo do arquiteto e sua fortuna, em seu tempo e nos que vieram depois, em sua terra e em outras terras, talvez se deva ao fato de que aparentou obedecer aos antigos sendo moderno: fez com que o de então parecesse o de sempre.
Em continuação, o professor Laborda interveio com "As casas no campo de Andrea Palladio" aonde constatamos que a modernidade de Palladio resplandece em suas estratégias, que antecipam as do profissional do século XXI, conhecedor dos irresistíveis recursos da imagem: tendo conhecimento de qual é o jogo, um e outro o praticam com habilidade.
O encerramento da sessão ficou a cargo do professor Calduch que em sua cuidadíssima exposição "Comprendere ed in disegno ridurlo. Desenho e pensamento arquitetônico em Palladio" nos mostrou que, desenhando, Palladio entende e possibilita o entendimento da arquitetura (a de seus antepassados e a sua própria) e, às vezes, discorre sobre ela e sua teoria: ninguém poderá, pois, acusar o canteiro de encerrar-se nos estritos confins de seu ofício.
A manhã do sábado 8 de novembro (esse dia o professor Ackerman cumpriu, conosco, seus 89 anos) começou com as comunicações dos professores do Departamento de Composição Arquitetônica. Abriu o turno o professor García Ros com "Palladio, Veronés e o contexto veneziano (1550-1580)", aonde se refletiu sobre se Veronés traiu a Palladio, ou lhe fez brilhar, se harmonizaram o genial pintor e o arquiteto genial, ou desentenderam. O único certo é que um e outro confessaram recebimento respectivo do encontro e a ambos lhes enriqueceu.
A professora Mileto dissertou sobre "As vilas vénetas dos séculos XV e XVI: entre tradição e inovação arquitetônica" o qual permitiu constatar que a fecunda invenção de Palladio no Véneto não ocorre da noite para o dia, naturalmente: a villa de terra ferma percorreu, quando o paduano a encara, um largo trecho. É a "outra" tradição (geográfica) que, somada à clássica (histórica), introduz a casuística que faz do maestro "global".
O professor Poyatos introduziu o conceito de "A excelência nos Quattro Libri de Arquitetura de Palladio", qualidade esta que põe no cliente seu ponto de partida e converte Palladio em referente para o moderno desenho competitivo.
O professor Songel encerrou as intervenções da equipe departamental com "Palladio e Le Corbusier. Visitando de novo dois edifícios comparados", convidando-nos a recordar que existe na Malcontenta (como em tantas outras arquiteturas palladianas) uma calculada promenade architecturale (Le Corbusier e sua Villa Stein) que a autoriza como precursora do Movimento Moderno e sua dinâmica, na arquitetura do século XX.
A sessão da manhã do sábado 8 e, com ela, as Jornadas se encerraram com a intervenção dos professores Bérchez e Gómez-Ferrer e seu "Palladio na cultura arquitetônica valenciana" que demonstraram que não há apenas um, mas muitos "palladios": é por isso que seu impacto em distintas culturas (e a valenciana não é uma ressalva) se faz sentir e salta à vista com notável efervescência.
De i/clientes/vitruvius/mediata aparição é a publicação, aos cuidados do professor García Ros, que reúne a quase totalidade das doze comunicações apresentadas mais as reflexões do professor Iborra sob o título "Neopalladianismo em Valência?" e os materiais da Mostra, cuja itinerância, através de distintas Escolas de Arquitetura, se prevê a continuação. Livro e Exposição se constituem assim em testemunhos de um evento cheio de interesse e de emoção.
notas
As Jornadas Internacionais Comemorativas "Palladio 1508-2008" ocorreram em Valência, nos dias 7 e 8 de novembro de 2008.
sobre o autor
Elia Gutiérrez Mozo foi coordenadora geral da VI Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo 2008.
Elia Gutiérrez Mozo, Valência Espanha