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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Enrique Bonilla Di Tolla fala sobre a arquitetura colombiana, que segundo ele, ao lado da chilena, tem mostrado maior qualidade arquitetônica e se destacado na América Latina

english
Enrique Bonilla Di Tolla talks about the architecture in Colombia, which, along with Chile, has shown higher quality architectural and stood out in Latin America

español
Enrique Bonilla Di Tolla habla sobre la arquitectura colombiana, que según él al lado de la chilena, han mostrado una gran calidad arquitectónica y se han destacado en América Latina

how to quote

BONILLA DI TOLLA, Enrique. Eso es, colombia, eso es. Drops, São Paulo, ano 09, n. 026.08, Vitruvius, abr. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/09.026/1789>.


Biblioteca de Santo Domingo Savio – Parque Espanha, Medellín. Vista externa [Divulgação VI Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo]


Sempre me pareceu extremamente simpática a forma como os colombianos animam seus times de futebol. O estribilho “¡Eso es, Colombia, eso es..!” marca um estilo na maneira de demonstrar diferenças e assinalar elegância, talvez contundência no jogo, onde nos últimos anos, a Colômbia evoluiu muito e se destacou nitidamente no contexto sul-americano.

Algo semelhante parece acontecer com a arquitetura colombiana, que tem sido, provavelmente ao lodo do Chile, um dos países da América Latina que tem mostrado melhor qualidade arquitetônica nos últimos anos, com uma média muito boa e alguns picos muito altos.

A bem sucedida geração, dirigida sem dúvidas pelo memorável Rogelio Salmona e da qual participaram notáveis projetistas como Laureano Forero ou Carlos Morales, forjou uma identidade arquitetônica sólida, baseada no uso do tijolo e na busca de uma “modernidade apropriada” para o país. Não menos importante é a presença de seus críticos, como Silvia Arango, Carlos Niño e Alberto Saldarriaga, entre outros, na construção de uma consciência teórica que desde a Academia, dá sentido à produção arquitetônica.

Porém ajudou também, e isto é muito importante para o bom desenvolvimento da arquitetura, a presença de sólidas instituições. As cidades colombianas, como Bogotá ou Medelín, são exemplos de cidades e espelho para outras metrópoles latino-americanas. Seus prefeitos iniciaram uma importante construção da cidadania e buscaram propostas inteligentes no desenvolvimento de infra-estrutura, equipamentos e espaços públicos; onde não apenas o urbanismo, mas também a própria arquitetura desempenhou um papel preponderante, trazendo soluções não somente funcionais, mas de grande qualidade.

Por outro lado, a Colômbia deve ser dos poucos países da América do Sul onde as obras públicas, a pequena, a média e a grande, passam por concursos; e provavelmente aí esta a diferença. Não há nada mais democrático que a via do concurso para dar oportunidades para todos e buscar qualidade nas propostas através do estímulo da competência. Para que isso ocorra, a Colômbia também possui uma associação de arquitetos muitos organizada: a Sociedad Colombiana de Arquitectos.

A SAC é também um exemplo de como uma instituição privada pode intermediar o Estado e seus afiliados para conseguir dinamizar a atividade dos arquitetos. Apesar de a inscrição não ser obrigatória, como acontece em outros países, os arquitetos pertencem a esta associação porque consideram que ela os representa e busca o desenvolvimento da profissão, cuidando de seus interesses.

É por isso que não é de se estranhar que agora, com uma geração renovada, a Colômbia está novamente entre os destaques da arquitetura ibero-americana, como atesta o recente Primeiro Prêmio de Obras da VI Bienal Ibero-Americana de Arquitetura entregue em Portugal ao arquiteto barranquilheiro, Giancarlo Mazzanti, pelo projeto da Biblioteca de Santo Domingo Savio – Parque Espanha, em Medellín.

Membro de uma geração que já começa a receber prestígio internacional e que integram, entre outros, Daniel Bonilla, e os paisagistas Javier Vera e Felipe Uribe de Medellín, Mazzanti é um destes arquitetos que mudaram a cara da arquitetura colombiana, abandonando o tijolo em prol de novas buscas.

Perfil de ganhador

Nascido em Barranquilla, no Caribe Colombiano, Mazzanti, se nutriu da estupenda qualidade arquitetônica de sua cidade natal, onde a marca racionalista do movimento moderno foi muito importante e deixou obras de grande qualidade, como atesta o livro da exposição de Carlos Bell Lemus (2). Provavelmente estas foram suas primeiras referências arquitetônicas, carregadas de racionalismo e boa materialidade.

Sua formação como arquiteto se deu na Pontificia Universidad Javierana de Bogotá. Também foi importante sua passagem pelo ateliê de Cartagena que o vinculou a outros arquitetos latino-americanos como Christian Boza e Jorge Moscato. Com este último, inclusive, realizou um pequeno estágio em seu ateliê, na Universidade de Buenos Aires.

Na Bienal Chilena de 2000, participou de uma mesa redonda de jovens arquitetos onde apresentou interessantes projetos de seu portfólio. Quem assistiu ao evento rapidamente se deu conta de que surgia uma figura com muito futuro.

De seu exercício profissional, o mesmo que pode ser encontrado em sua página web (3), destacamos as realizações dos últimos anos, tais como a Biblioteca em Ladera León de Greif, onde Mazzanti ensaia a situação de três volumes na paisagem, que emergem como esculturas dentro de um parque, e três terraços convidam à contemplação da cidade.

Outro exemplo de destaque é o interessante sistema para projetar escolas através de uma organização espacial que, em forma análoga à da corrente, articula espaços interiores e exteriores com grande dinamismo e ocupa terrenos variados, distribuindo peças que, à distância, se convertem em topografia. A idéia de desenhar sistemas com peças que possam armar espaços assumindo vários tipos de configurações também está presente na proposta para o DAS, a polícia secreta colombiana, onde Mazzanti parece jogar com blocos de lego, com os quais conforma pavilhões centrípetos e centrífugos que, articulados, configuram um grande sistema que ocupa o terreno.

A Biblioteca de Santo Domingo Savio – Parque Espanha, ganhadora da Bienal, sobre a qual Elio Martuccelli trata em outro artigo, pertence a um conjunto de propostas como o Centro Cultural da Espanha ou o Refúgio que propôs ao Nevado do Ruiz. Em todas estas obras se destaca a reflexão profunda de Mazzanti sobre o lugar, do qual sempre consegue apropriar-se a partir de um entendimento absoluto de sua geografia, quase sempre andina e agreste. Sua permanente recorrência à dobra lhe dá ao conjunto uma conotação topográfica, entre lúdica e telúrica. O mundo é infinitamente cavernoso e esponjoso, disse Deleuze, com propriedade, e este arquiteto segue esta idéia com prolixidade.

nota final

Pelas razões expostas neste artigo e pelas qualidades de suas instituições, de seus arquitetos e de sua arquitetura, é muito entusiasmaste que a próxima Bienal Ibero-Americana em 2010 se realize em Cartagena, na Colômbia. Enquanto isso, desfrutemos o prêmio à melhor obra arquitetônica, que como o “caimán”, na velha canção, “se fue para Barranquilla”.

notas

1
Publicado originalmente na revista do Colegio de Arquitectos do Perú.

2
BELL LEMUS, Carlos. O Movimiento Moderno en Barranquilla 1946-1964. Edición Museo de arquitectura Leopolodo Rother. Universidad Naçãoal de Colombia.

3
www.giancarlomazzanti.com

[tradução felipe contier

sobre o autor

Enrique Bonilla Di Tolla, Arquiteto pela Universidade Ricardo Palma em 1982; possui especialização em restauração de Monumentos e Centros Históricos em Florença (Itália) em 1989; Mestre em Arquitetura pela Universidade Nacional de Engenharia. Professor de Desenho e Teoria e História da Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Ricardo Palma.

Enrique Bonilla Di Tolla, Lima Peru

Biblioteca de Santo Domingo Savio – Parque Espanha, Medellín. Implantação [Divulgação VI Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo]

Biblioteca de Santo Domingo Savio – Parque Espanha, Medellín. Corte [Divulgação VI Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo]

 

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