Adalberto Retto Júnior e Christian Traficante: O senhor enfatiza em uma recente entrevista que a partir dos anos 80, o urbanismo italiano teve novamente contato com o mundo real, o que se move com as práticas sociais e com os modos nos quais elas se desenvolvem, descobrindo novos indivíduos e sua insuspeitada articulação. Podemos adiantar algumas hipóteses em termos de construção de uma política para a cidade e o território?
Bernardo Secchi: Um dos movimentos de pesquisa que, a partir dos primeiros anos 80 eu propus, foi a de voltar a caminhar nos territórios que estávamos projetando, fazendo levantamentos e escutando as pessoas que ali habitavam ou freqüentavam. A partir daqueles anos e através destas movimentações, o urbanismo italiano e europeu retomou contato, como dizia Husserl, com as "coisas mesmas", abandonando a fácil retórica de decênios precedentes. Despida de uma ideologia de baixo nível, o urbanismo tornou-se novamente prática do projeto antes que "missão" ou "militância".
O Laboratório Prato Prg, no início dos anos 90, foi uma grande experiência neste sentido: de nosso envolvimento na vida e na consistência material da cidade e de envolvimento da cidade na construção de uma nova imagem para o seu futuro. Bem distantes das formas de organização da "participação" popular mais em voga, construímos em Prato um lugar de discussão e de trabalho. Conferências, exposições, seminários e workshops, excursões e visitas, campanhas fotográficas... sempre convidando os cidadãos ou as partes que o desejassem a unir-se a nós, envolvendo artistas, músicos, escritores, e naturalmente arquitetos prateses ou não.
Pessoalmente tinha muitas respostas a dar a Manfredo Tafuri; o projeto preliminar do plano de Prato foi apresentado ao público no dia da morte de Manfredo e a ele, com grande emoção para mim, foi dedicado. Sobretudo com ele eu gostaria de tê-lo discutido. Pessoalmente tinha muitas respostas a dar a Manfredo Tafuri; Prato foi a revelação da diferença: entre as pessoas, as situações, os artefatos, suas histórias. Mas foi também a revelação do fato que, como dizia A. Miller, quando julgamos caótica uma situação é porque não entendemos as regras da ordem. Prato foi a descoberta e a proposição de novas possíveis regras, diferentes daquelas dominantes na "cidade moderna": regras de aproximação e de definição de uma "justa distância". Depois de Prato a aproximação “paratattica” e o fragmentar-se do espaço urbano, pelo menos para nós, não são mais considerados demônios: fazem parte de nossa cultura e de nossa sociedade; podem tornar-se importantes ocasiões projetuais - só que se reflita a fundo sobre a "justa distância" entre as coisas, as atividades e as pessoas; só que se reflita, com as palavras de Roland Barthes, no comment vivre ensemble.