Adalberto Retto Júnior e Christian Traficante: No laboratório Prato PRG (1996), territórios da nova modernidade - província de Lecce (2001) e em alguns outros trabalhos de planificação urbana e territorial onde o Senhor é consultor científico é evidenciado que imaginar e pensar a cidade e o território como compostos de diferentes "sistemas" leva também a um conceito de integração, que em larga medida nasce exatamente da crítica ao zoneamento como tradicionalmente entendido. "Pensar a cidade por sistemas quer dizer imaginar cada parte como habitada por funções diferentes, conforme composições mutáveis no tempo; imaginar assim a transformabilidade". Em seus planos o Senhor propõe portanto que sejam reconhecidas as características ambientais específicas das diferentes partes do território, que seja restabelecida a continuidade do sistema ambiental, que os espaços internos da cidade e os externos, sejam coligados entre si e que isto aconteça principalmente construindo uma série de elementos de conexão? Esta aproximação constitui uma nova forma de conceber o projeto da cidade contemporânea?
Bernardo Secchi: Cada um de nós está imerso em sistemas de relações que se constroem em diferentes planos: eu me ocupo com a minha escola em Veneza, pensando e propondo aos meus alunos reflexões que concernem às cidades e territórios situados freqüentemente em outros países e pensando em meus colegas, em livros em projetos que se situam em longo espaço de tempo. A imagem do network que é constantemente proposto não é fértil, nem correto. É antes a interação entre os diferentes planos que conta como quando observo alguma coisa sobre um fundo escuro ou muito luminoso e sou induzido a poder colher dele ou não, alguns aspectos. A mesma coisa, se me perdoar a brevidade da resposta, vem com o projeto da cidade; cada movimentação nossa assume significado diferente conforme os diferentes planos espaciais e temporais nos quais vem colocar-se. Estamos acostumados a colher estes aspectos no teatro quando atores e ações são colocados entre ou sobre o fundo de diferentes véus que na hora certa se movem mudando, freqüentemente de modo radical, a cena. Uma imagem que propus no "Racconto urbanistico" e a que no meu modo de ver ilustra bem a posição do projeto urbanístico e de arquitetura dentro da cidade e do fluir de sua história. Os elementos de conexão que através de meus projetos procuro construir, entre as diferentes partes da cidade e do território, entre o interior e o exterior, entre o antigo e o recente, não devem ser pensados e reduzidos a percursos de pedestres e de veículos ou a corredores ecológicos. Estes constituem o nível mais elementar da conexão. Mais complexo é construir conexões de sentido. O que fascina no livro de Tafuri e Foscari "L’armonia e i conflitti" que, como eu disse, está na origem de minhas propostas a partir dos anos 80, é seguir os diferentes planos nos quais se instaura o debate sobre a cidade de Veneza na época do Doge Gritti: dos planos mais abstratos, aparentemente separados da ação concreta urbanística e arquitetônica, nos quais assume identidade a cultura de uma época, aos mais detalhados de definição das competências e das relações de poder. Construir o projeto de uma cidade quer dizer procurar movimentar todos estes níveis de reflexão. Para isto é preciso voltar em primeiro lugar a propor com generosidade imagens compreensivas da cidade e do território, de suas identidades e de suas possibilidades; é preciso trabalhar enfim, com extremo cuidado sobre os dispositivos espaciais através dos quais as conexões entre os diferentes planos, entre os diferentes véus, assumem consistência material, tornam-se assim arquitetura da cidade e é preciso submeter-se continuamente à verificação e à falsificação.