Adalberto Retto Júnior e Christian Traficante: "O urbanismo não pode resolver problemas maiores do que o ser, mas nem por isto deve tornar-se conivente com tendências sustentadas por retóricas privadas de fundamentação e que se declara de não dividir". O Senhor assim nos convidou a refletir sobre alguns aspectos e méritos do período passado para dar-lhes uma nova interpretação dentro das novas condições. Quais são as novas condições dentro dos quais se possa assim falar de renovatio urbis?
Bernardo Secchi: A primeira importante questão é a de quem sustenta a morte do urbanismo normalmente afirma também, pelo menos implicitamente, a necessidade de confiar no "mercado". O pensamento único e as retóricas modernas do mercado propõem porém, uma imagem privada de fundamento; uma imagem que nenhum teórico liberal teria considerado própria; esquece-se em particular de dizer que nos mercados concretos e tipicamente nos mercados com os quais o urbanismo se confronta, o poder não é distribuído de modo igual e uniforme. Adequar-se ao mercado aceitando esta iníqua e falsa idéia, quer dizer fazer-se conivente com os poderes que o dominam. O urbanista não pode renunciar em refletir sobre o interesse geral e coletivo porque a cidade, em seu conjunto, é bem público no sentido de bem-estar, conforme os primeiros economistas. Ao longo de todo o século 20, arquitetos e urbanistas, em uma pesquisa paciente, tentaram dar dimensões concretas, físicas, a uma idéia do interesse geral e coletivo, freqüentemente antecipando o que foi depois afirmado por outros estudiosos.
As sociedades ocidentais contemporâneas têm muitas vezes a tendência de esquecer o quanto as formas concretas do atual bem-estar devem a elas.
Uma política de 'renovatio urbis' não nega este passado, mas o reelabora procurando reescrever o sentido dos lugares que, na prática banalizante da modernidade, havia se perdido. Uma política de "renovatio urbis" redesenha a geografia funcional e simbólica da cidade e do território levando-a a ficar mais próxima do mapa mental da sociedade contemporânea, não ao mapa de valores monetários pretendido por diversos grupos de poder. Uma política de "rennovatio urbis" desloca diversamente do passado os valores posicionais e assim opõe resistência ao mercado, não o segue totalmente. Acrescenta ao palimpsesto urbano um novo "layer" que lhe permite uma nova interpretação.