Volumetricamente, o projeto compõe quatro prismas acima de uma plataforma que se estende por grande parte do terreno e constitui uma base para o conjunto. Esta composição de volumes com a base recortada e entremeada de vegetação busca relacionar-se com a morfologia do entorno.
Sobre a base, desenvolvem-se os grandes eventos.
Três dos quatro volumes nascem no interior da base e afloram a plataforma abrigando os teatros: um paralelepípedo, com uma sala para 2000 lugares; um ovóide, para 600 lugares; e outro paralelepípedo, com as salas para 400 e 200 lugares. Estes grandes prismas fechados, dispostos lado a lado segundo o eixo N/S, se articulam com um quarto volume - um paralelepípedo linear, disposto segundo o eixo L/O, aberto, permeável - que cobre parte da grande praça de eventos, como um imenso foyer junto com espaços para espetáculos, feiras de artesanato e de antiguidades e espaços de convivência. Volumes secundários, como o restaurante e núcleos de circulação vertical, também comparecem nesta superfície.
A plataforma se organiza segundo três faixas paralelas à Av. Miguel Castro: - a praça de eventos, que se apresenta de forma monumental para a Av. Prudente de Morais e se conecta com as outras vias por meio de escadarias; - o espelho d’água, como espaço de transição para os teatros; e uma faixa verde envolvendo os teatros.
A proposta explora, neste nível, a monumentalidade do teatro de 2000 lugares e da praça de eventos para a Av. Prudente de Moraes, através da caixa opaca da platéia e do palco, o plano envidraçado da rampa, a linearidade e a leveza da cobertura do grande foyer, da pureza dos volumes menores e do contraste entre área pavimentada, água e verde.
Os teatros para 2000, 600 e 400 lugares são do tipo italiano. O primeiro, com platéia e dois mezaninos. O segundo, com platéia e um mezanino. O terceiro, somente com platéia. O quarto teatro é do tipo oficina, com mezanino em todo o perímetro, servindo como um espaço para montagens de espetáculos alternativos. O teatro para 2000 lugares, adequado para vários tipos de espetáculos, entre eles o concerto sinfônico e a ópera, do ponto de vista acústico, adota o tipo shoe-box, semelhante a forma das tradicionais salas de concerto. A proporção volumétrica de mais ou menos dois cubos, resulta em salas estreitas e altas, diferindo dos modelos largos e baixos difundidos a partir do início do século XX. Este tipo se apóia na teoria da plenitude ou da força sonora, em que são valorizadas as primeiras reflexões e a energia sonora refletida lateralmente. A variação da altura e perfil do forro através de painéis móveis adaptam a sala à situação específica de cada tipo de espetáculo.
Sob a plataforma desenvolvem-se as atividades regulares e cotidianas do complexo, como as de ensaios, formação artística, camarins, documentação e pesquisa, administrativas e de serviços e de comércio e lazer.
A base é constituída a partir do desnível entre a plataforma (cota 108) e a cota 101 da Av. Romualdo Galvão. Considerando-se que a maior parte da superfície do terreno se encontra entre as cotas 101 e 103, o volume de escavação não é significativo na relação da área do terreno com a área útil alcançada. O desnível obtido possibilita o desenvolvimento de um ou dois pavimentos com pés direitos adequados às atividades regulares do programa. A escavação de mais meio nível possibilitou o lançamento de três níveis de estacionamento, num total de 683 vagas.
A organização da base partiu, inicialmente, de um afastamento em relação à divisa N, para criar uma via de acesso interno e gerar uma fachada interna. Em função da grande superfície da base, foi criado um pátio interno no nível 101, de onde brota o teatro de 600 lugares até aflorar na esplanada. O pátio interno, além de configurar um grande perímetro iluminado/ventilado, associado à forma oval do volume do teatro, gerou novas opções espaciais em relação ao perímetro voltado para as vias interna e pública, permitindo organizar o programa tendo em vista exigências como: - clareza de zoneamento das funções; - identidade de cada setor; - clareza e separação dos diferentes fluxos (público, funcionários, artistas) e dos diferentes acessos; - riqueza espacial; - controle das diferentes escalas; qualidades ambientais; e alternativas formais.
Rompendo a malha ortogonal criada a partir da Av. Miguel Castro e que organizou grande parte do programa, o pátio sofreu um rotação segundo a linha da divisa N, o que possibilitou, a partir da sua circulação perimetral, a amarração dos três acessos básicos: de público e alunos, de artistas e funcionários e de carga e descarga. Estes acessos ficam escavados no volume da base.
Para as fachadas da base, tanto internas como externas, o projeto trabalha as fachadas de forma adequada ao caráter artístico, educacional, administrativo e comercial presentes no Complexo.
O zoneamento das atividades respeita a configuração proposta.
1. Para a Avenida Romualdo Galvão, foram localizadas as lojas e os serviços de nutrição, com um estacionamento frontal aberto, respeitando o potencial comercial da via. Um bar/café e um restaurante ocupam a esquina, sendo que este último aflora acima da plataforma, animando também a praça de eventos.
2. Na esquina das avenidas Romualdo Galvão e Miguel Castro, aproveitando o aclive do passeio, foram localizados os acessos ao interior do Complexo, um para cada nível e um para cada via, que convergem para um grande hall de público.
3. Também na esquina, junto ao hall de público, foram localizadas as atividades administrativas, em posição de gerenciar toda a vida do Complexo.
4. Na face S do pátio, tocando o hall de público, foram localizadas a difusão cultural, a biblioteca e a gravação de tv e vídeo. Um pequeno pátio gera uma área de luz nesta faixa que se beneficia juntamente com a biblioteca de cinco furos circulares na plataforma.
5. Na face leste do pátio, localizam-se os ensaios com suas áreas de apoio. Uma fresta gerada entre os dois teatros menores que cobrem estes espaços, qualificam a circulação interna do setor.
6. Nas faces N e O do pátio e junto à via interna, no nível 101, localizam-se o hall dos funcionários e dos artistas, a carga/descarga, a zeladoria e os serviços do Complexo. No nível 104.35, a maioria dos camarins, no mesmo nível dos palcos.
7. Na parte subtraída do ovóide, animando o pátio como ponto de encontro entre artistas, estudantes e funcionários, localiza-se um bar/café.
8. Os estacionamento ocuparam naturalmente a parte do terreno com ausência de fachadas. As condições e iluminação/ventilação são criadas por meio de fendas perimetrais, com possibilidades de uso da vegetação. O acesso é pela via de menor movimento, com ampla área de acumulação de veículos, e a distribuição para os pavimentos é por meio de rampas dispostas no perímetro e em seqüência. A saída dos três níveis é para a via interna, que funciona como área de acumulação em relação às avenidas de maior fluxo.
9. Os teatros italianos foram organizados segundo os três níveis definidos na base: - o nível 108 para o acesso do público; o nível 104.35 para os palcos; e o nível 101 para as quarteladas.
10. Os palcos localizam-se junto à via interna em função do abastecimento e do contato com os serviços e camarins.
O projeto rima com uma série de valores culturais e ambientais da região, valoriza as formas de convívio ao ar livre e equilibra a ênfase nos espaços fechados e abertos. Esta leitura pode ser sintetizada na proposição do Pátio Interno e do Grande Foyer. O Pátio Interno representando o coração da base da composição, por onde transita a vida interna do Complexo. E o Grande Foyer aberto/coberto representando o elemento articulador das atividades que ocorrem no nível da praça de eventos. Trata-se de um volume oco, elevado da plataforma, cuja pele permeável remete às referências locais das tramas dos artesanatos e do muxarabiê das fachadas coloniais.
ficha técnica
Coordenador
Dalton Bernardes
Co-Autores
Julio Ramos Collares e Marco Peres
Colaboradores
Patrícia Hoff, Mariana Wilkens Flores Soares, Cassandra Salton Coradin, Diogo Sant’Anna e Marcos Carvalho