Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social
“O tema da habitação segue constituindo um campo fortemente esclerótico caracterizado pelo convencionalismo e a repetição de arquétipos e padrões baseados numa ambígua “neolinguagem” pseudofuncional e eclética. Uma “esclerose que não só remete àquelas operações meramente especulativas e sim, em muitas ocasiões, a essas que, utilizando uma expressão comumente aceita, tenderiam a ser qualificadas de “cultas” e que baseariam sua principal fonte de inspiração nos modelos urbanos fundados na tradição e repetição”.
GAUSA, Manuel. Diccionario Metapolis de Arquitectura Avanzada. Barcelona, Actar, 2000
Durante boa parte das duas últimas décadas, este foi o principal objetivo do urbanismo residencial oficial: a recuperação ou recriação de um espaço urbano de silhuetas tradicionais cuja recomposição foi confiada principalmente a uma ordem pragmática baseada numa planificação arquetípica, como ação prioritariamente compositiva e figurativa, inclinada a reproduzir o tecido.
Hoje, no entanto, cabe entender a “habitação” como um lugar mais próximo ao desejo e a versatilidade, a qualidade de vida e a sugestiva fantasia do ócio, do bem estar e da diversão; mais, portanto do que a habitual serenidade ou previsibilidade de um espaço concebido somente por mera necessidade ou aparência social. Propomos a investigação de “novos dispositivos” e “sistemas combinatórios” orientados a oferecer mais por menos:
- mais qualidade por menos custo;
- mais espacialidade por menos compartimentação;
- mais versatilidade por menos rigidez
Uma casa mais equipada e aberta, capaz de projetar o indivíduo ao meio a partir:
- da casa digna à casa estimulante;
- da casa standard à casa personalizada;
- da casa artesanal à casa tecnológica;
- da casa tipo à casa multipo;
- da casa mecânica à casa interativa.
São indícios, todos elas, de novos conceitos de abordagem do Habitat Contemporâneo: Novos Conceitos no desenho do próprio espaço habitado (a célula residencial e a paisagem interior a que ela remete) , mas também à definição daqueles Novos Sistemas Urbanos de Suporte (e portanto das paisagens relacionais a eles associados) destinados a assegurar uma eficaz relação entre casa, cidade e território.
Macapá 2008
Para chegar em sua casa no coração da Quadra 4, dona Chiquita caminha 7 minutos sobre um passeio pavimentado e limpo. Gasta mais 35 segundos para subir cinco degraus e abrir a porta. Está em casa.
Aos 66 anos, Francisca da Silva sempre sobreviveu de vender castanha do Brasil, mais conhecida como castanha-do-pará. Há quatro anos, motivada pela parceria da Prefeitura Municipal de Macapá e a Caixa, através do PSH – Programa Subsídios à Habitação de Interesse Social Conjugada com Programa Carta Crédito FGTS, ela aumentou a estatística crescente e preocupante do êxodo rural no Amapá e veio à capital em busca de visibilidade e inclusão social. Encontrou guarida e hoje trabalha na Cooperativa criada pelos moradores do Loteamento, colhendo laranjas, mamãos e goiabas, contribuindo com a sustentabilidade do local, sendo o excedente comercializado no atacado do próprio Loteamento.
Hoje, 150 das 356 famílias trabalham na Cooperativa e no Comércio Local, criando condições de sustentabilidade que trazem conforto ao poder público, diminuindo o custo social do governo.
Condições gerais – física, sociais, culturais
Sendo a área da Rua Jovino Dinoá, em Macapá, praticamente plana e com boa capacidade de suporte, livre de lençóis freáticos ou erosão, o projeto busca a “inclusão social” através de decisões táticas elementares. A repetição da frente do quarteirão consolidado invade o Loteamento, entretanto é mais estreito, sendo agente indutor da interação entre moradores. O generoso espaço aberto que centraliza ações – debates, discursos, apresentações, exposições – se manifesta entre partes como elemento “estrela” responsável pelo convite à comunidade macapense.
A manutenção da largura da caixa de rua das avenidas Guaranis e Goitacazes intenciona integrar ao tecido da cidade as novas quadras, tornando público o acesso às ruas e espaços lá ofertados, bem como as atividades geradas a partir da implantação do projeto. Estas decisões só foram possíveis pela existência de infra-estrutura básica. O fato dos moradores serem oriundos da população de baixa renda em uma das grandes áreas urbanas disponíveis só contribui à intenção de torná-los cúmplices no processo de inclusão social. A criação da grande praça que oferece múltiplos espaços de ocupação à todos coligada com agricultura urbana é responsável por boa parte da sustentabilidade do Loteamento através da Cooperativa que sugerimos seja gerente deste espaço aberto. A fácil percepção dos benefícios certamente colaborará para a noção de responsabilidade social e aumento da auto-estima dos moradores / trabalhadores. Cabe lembrar que instalação dos cataventos (não incluídos no orçamento) em posição privilegiada – voltados para Leste, buscando os ventos constantes com média de 8,5 m/s gerará a energia necessária para abastecer o Loteamento (basta lembrar que Cinco unidades de grande porte instalados em Palmas/TO são responsáveis por 2/3 da energia da cidade).
ficha técnica
Grupo
POAA – Projetos e Obras de Arquitetura Avançada
Equipe
Arquitetos Carlos Hecker Luz, Cristina Ferreira Martins, Giancarlo Gasparotto e Silvio Lagranha Machado; acadêmica Mariana Soldan Hugo
Área do terreno
30.844,31 m2
Área útil construída
8.429,00 m2
Área útil comercial
187,90 m2
Área pavimentada
Praça: 4.784,00 m2
Circulação: 5.676,00 m2
Área verde
Produção cooperativa: 5.400,00 m2
Lazer / ócio / desfrute: 4.316 m2