Para promover maior qualidade de vida, bem-estar psicológico e saúde física, é necessário um restabelecimento de relações saudáveis entre a sociedade e o meio natural através da arborização urbana. Os benefícios da vegetação na escala do desenho urbano em cidades tropicais são: melhoria das condições microclimáticas devido à atenuação da radiação solar direta; mitigação da temperatura do ar; aumento da umidade do ar e do solo; controle da velocidade e direção dos ventos; aumento da biodiversidade da fauna e flora, estabilização do solo e manutenção dos ciclos de precipitação (1).
Em termos térmicos, é importante destacar a contribuição de árvores no trabalho de mitigação das temperaturas conforme a disposição de plantio e características específicas de cada espécie. Em Campinas SP, Loyde Vieira Abreu (2) comparou a atenuação solar de algumas espécies arbóreas isoladas, tendo como resultado atenuação de 89,1% pelo jambolão (Syzygium cumini L.), 88,6% pela mangueira (Mangifera indica L.), 63,8% pelo jacarandá (Jacaranda mimosaefolia D. Don.) e 81,7% pelo ipê-amarelo, espécie decídua, na época com folhas. Posteriormente, Abreu-Harbich et al. (3) analisou o conforto térmico expresso em Temperatura Fisiologicamente Equivalente ― PET, proporcionado por árvores isoladas e agrupamentos lineares. Dentre as doze espécies analisadas, a espécie sibipiruna (Cenostigma pluviosum (DC) E. Gagmon & G.P, Lewis) apresentou a melhor melhoria térmica em termos de PET, reduzindo a temperatura até 16°C para agrupamento linear até 14,5°C para árvore individual.
Em TelAviv, Israel, Shashua-Bar et al. (4) pesquisaram três encontradas nas vias para determinar o efeito térmico de cada no microclima urbano. Como resultado obteve que o coeficiente de resfriamento do Ficus retusa L. foi de 0,6; da Tipuana tipu (Benth.) Kuntze foi de 0,5; e da palmeira Phoenyx dactylifera L. sob sombra foi de 0,4 quando formam dossel de 50%. No entanto, em uma rua residencial, o coeficiente de resfriamento foi considerado ineficaz. Porém, em locais gramados e com tamareiras (P. dactylifera) o coeficiente de resfriamento subiu para 0,7.
Em Hong Kong, Kong et al. (5) selecionaram árvores em três grupos: copa densa, copa esparsa e palmeiras e analisaram a influência de cada grupo sobre a temperatura do ar, a temperatura radiante média e a velocidade do vento. Observaram que não houve resfriamento significativo das calçadas onde estão plantadas palmeiras jovens. O efeito de resfriamento de 0,5°C foi observado em apenas alguns pontos. As palmeiras apresentaram baixo desempenho na redução de Temperatura Média Radiante ― TMR, com valores de 0,2°C em espaços abertos e 0,1°C em regiões mais adensadas.
Em Campinas, Neusa Ribeiro (6) avaliou a influência no conforto térmico através da atenuação solar de quatro espécies de palmeiras: a rabo de raposa (Wodyetia bifurcata Irvine), tamareira (Phoenix dactylifera L.) e washingtônia (Washingtonia robusta H. Wendl) e o agrupamento de palmeiras livistona (Livistona saribus (Loureiro) Merril ex. A. Chevalier) durante as estações do ano. Este estudo sugere que as espécies de palmeiras que possuem o índice de área foliar elevado e maior atenuação da radiação solar têm maior capacidade de redução da temperatura, com resultados satisfatórios nas sensações de conforto térmico no microclima urbano, evidenciando-se sua viabilidade na construção da paisagem urbana.
Apesar das melhorias térmicas proporcionadas pelas árvores serem maiores do que as palmeiras, a combinação da disposição de plantio de diferentes exemplares vegetais combinado com a forma do dossel pode ser uma possibilidade para promoção de sombreamento e melhoria de conforto térmico nas calçadas e ciclovias em cidades de clima tropical. Salienta-se que a gestão da arborização viária ― ação de manter árvores, individuais ou em pequenos grupos, em calçadas, praças, canteiros ou jardins (7) nem sempre é prioridade numa cidade complexa. Isso acarreta a redução do plantio e reposição dos exemplares vegetais e ou a retirada da vegetação para dar lugar às vias de carros, ao invés de mantê-la e incentivar o transporte de baixo impacto ambiental, como as bicicletas.
Planejar a arborização de ruas é escolher a árvore certa para o lugar certo, sem perder os objetivos do planejador ou prejudicar as funções que a árvore desempenha no meio urbano (8). No planejamento da arborização viária é importante promover o plantio e replantio de exemplares arbóreos considerando as características do local, como o espaço disponível para plantio (largura da calçada e da abertura permeável), as estruturas físicas adjacentes (postes, rebaixamentos, tipo de fiação aérea), as características das espécies a serem plantadas (tamanho, porte, dimensões do caule e copa quando adultos, tipo da copa e do sistema radicular e velocidade de crescimento) e normas legais vigentes, como Lei de Acessibilidade (9), por exemplo, que limita plantio em calçadas com largura inferior a 2,0m e a Política Nacional de Mobilidade Urbana regulamentada pela Lei Federal 12.587/2012 que fundamenta a mobilidade urbana no princípio do desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicas e ambientais (10).
Em atendimento à Política Nacional de Mobilidade Urbana (11), a Prefeitura de Goiânia começou a implantar ciclovias na capital, dentre elas, a da Avenida Universitária, que é toda arborizada com árvores agrupadas e isoladas e com palmeiras dispostas linearmente, sendo a única com essas características de plantio. Em 2012, durante a implantação dessa ciclovia foram cortadas 34 árvores e mantidas as palmeiras guariroba (S. oleracea), um grupamento de três sibipirunas (C. pluviosum) e uma monguba (P. aquatica) (12). Como compensação ambiental, foram plantadas mudas das espécies Handroanthus sp. (ipês), Lophanthera lactescens Ducke (lanterneiro), Licanea tomentosa (benth.) fritsch (oitizeiro), Lagerstroemia indica (L.) Pers. (resedá), Sapindus saponaria L. (saboneteira) com altura aproximada de 2,00m cada. Em 2020, essas árvores estavam com altura de 6 a 10 metros.
Neste contexto, o objetivo principal deste estudo é avaliar quantitativamente a melhoria térmica proporcionada por deferentes exemplares vegetais para sombreamento das ciclovias da cidade de Goiânia. Como objetivo secundário, busca-se refletir como a gestão pública pode fomentar a arborização urbana de ciclovias com foco no conforto térmico de pedestres e ciclistas.
Metodologia
Este estudo experimental in situ foi desenvolvido nas seguintes etapas, baseado no projeto Rediscovering the Urban Realm and Open Spaces ― Ruros (13).
1. Descrição do clima local;
2. Seleção das áreas de estudo;
3. Procedimento de coleta de dados de campo;
4. Análise do conforto térmico proporcionado por diferentes exemplares vegetais;
Descrição do clima local
Goiânia (16º 40 S; 49º 15 W; 749m) tem um clima classificado como Tropical de Savana, Aw, segundo Köppen-Geiger (14), com duas estações bem definidas: uma quente e seca (maio a outubro) e outra quente e úmida (novembro a janeiro) com índice pluviométrico de 1.570mm por ano. Os índices de umidade relativa do ar variam de 52% em agosto a 82% no período chuvoso. A média da temperatura do ar no período da tarde é de 29ºC e nos meses mais quentes (agosto, setembro e outubro) a temperatura excede esse valor em 25% das horas. O vento predominante é o Sudoeste, com velocidade predominante de 2m/s (15).
Seleção das áreas de estudo
Os critérios de seleção da ciclovia foram: ser uma via com mais de 1 km na mesma direção, preferencialmente Leste-Oeste; estar em zona de média-baixa densidade de construção; uniformidade do pavimento da pista e das calçadas; possuir agrupamento distintos de exemplares vegetais de espécies com potencial de melhorias; lugar de grande circulação de pedestres e ciclistas; e segurança do pesquisador (presença do pesquisador).
Atendendo esses critérios, a ciclovia selecionada localizada na avenida Universitária, setor Leste Universitário. Possui 5,23 km de extensão, com intenso fluxo de automóveis, pedestres e ciclistas, devido a presença do Hospital Araújo Jorge, faculdades, comércios e residências existentes ao longo da avenida. A via possui 11m de largura, com duas faixas em ambos os sentidos e mais uma faixa exclusiva para ônibus. Possui um canteiro central variando entre 4,8m a 9,8m de largura e calçadas com média de 6,0m de largura; uma arborização composta por árvores de espécies variadas e palmeiras de uma única espécie. As calçadas possuem menos vegetação que o canteiro central, que é usado para descanso dos transeuntes, local de alimentação rápida e onde foi implantada a ciclovia.
Para coleta e análise dos dados foram definidos dois trechos específicos da ciclovia da avenida Universitária, mostrado na sugestão de projeto de calçadas com promoção de sombreamento ao pedestre, onde foram escolhidos dois trechos: Trecho 01: árvores e Trecho 02: palmeiras.
O Trecho 01: árvores possui a extensão de 120m, com vegetação formada por sete árvores adultas e dezesseis árvores jovens, localizado em frente a Pontifícia Universidade Católica de Goiás ― PUC GO área IV e Hospital Araújo Jorge. Neste trecho com árvores adultas há espécies variadas, como uma árvore da espécie monguba (P. aquatica) isolada e um agrupamento de três árvores da espécie sibipiruna (C. pluviosum) com altura média de 16m. Plantadas nas bordas distais do canteiro, em abertura permeável de 1,20m que apresenta trechos com grama e outros sem grama.
O Trecho 02: palmeiras tem extensão de 122m, com vegetação majoritariamente composta por 22 palmeiras e localizado em frente à Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás ― EECA UFG. A espécie encontrada nesse trecho é, majoritariamente, a guariroba (S. oleracea) em estágio adulto, com altura média de 16m, plantadas de forma linear no centro do canteiro em abertura permeável de 1,20m com grama esmeralda (Zoysia japonica Steud).
Procedimento de coleta de dados
Para escolher os pontos de medição nos trechos selecionados considerou-se locais onde os agrupamentos de exemplares vegetais fizessem uma cobertura vegetal sem interferência do entorno imediato (vegetação e edifícios). A figura dos trechos selecionados na ciclovia da avenida Universitária, Goiânia mostra o Trecho 01: árvores com a marca dos pontos onde houve as coletas, sob a sombra de um exemplar da espécie monguba (P1), de um agrupamento da espécie sibipiruna (P3) e sob sol (P2), entre os outros dois pontos. A figura de características dos exemplares avaliados, localização e relação com o entorno imediato mostra o Trecho 02: palmeiras, com detalhe para a marca nos dois pontos onde foi feita a coleta dos dados, sob a sombra do agrupamento da espécie guarirobas (P4) e ao sol (P5). A tabela abaixo mostra as características dos exemplares avaliados, bem como a localização em relação ao seu entorno imediato: tipo de agrupamento, tipo de pavimento, sombreamento da vegetação e edifícios.
Os equipamentos utilizados foram: o Medidor de estresse térmico (TGD-400 Instrutherm) e um Multifuncional (MS6300 Environment Multimeter) que coletaram dados de temperatura do ar, umidade relativa e velocidade do vento. O medidor de estresse térmico registrou as seguintes temperaturas: de bulbo úmido (Tbu); de bulbo seco (Tbs); de globo (Tg) que indica a temperatura radiante do ambiente e outros. Segundo Thorsson et al. (16), para evitar interferências na coleta dos dados sob sol, a esfera do medidor de estresse térmico originalmente de cor preta, foi substituída por outra de cor cinza-médio, onde absorção da radiação de onda curta é semelhante à de pessoas vestidas, em torno de 0,70.
Os dados foram coletados nos dias 1, 2, 5 e 6 de março de 2021, às 8:00, 10:00, 12:00 e 16h00min, na sombra de cada exemplar vegetal e ao sol, nos pontos P1, P2, P3, P4 e P5 de ambos os Trechos. Os equipamentos ficaram cerca de 1,5m do piso acabado (altura do peito) de forma que o corpo do pesquisador não formasse barreira para o vento e nem sombra.
Análise do conforto térmico proporcionado
Utilizou a estatística descritiva para avaliar a variação de temperatura do ar e umidade relativa em cada ponto medido. A temperatura Média Radiante foi calculada a partir da temperatura do ar e temperatura de Globo cinza, segundo a seguinte equação definida pela ISO 7726 (17):
TMR = {(Tg+273)4+ [(1,1x108x Va0,6)/(g x D0,4)] x (Tg ― Ta)}1/4 ― 273 (1)
Onde:
TMR = Temperatura média radiante, em ºC;
Tg = temperatura de globo, em ºC;
Va = velocidade do vento, em m/s;
εg = emissividade do globo (adimensional);
D = diâmetro do globo, em metros; e
Ta = temperatura do ar, em ºC.
Para quantificar o conforto térmico em usuários de ambientes externos foram selecionados os seguintes: Temperatura Fisiológica Equivalente ― PET (18) e Índice de Clima Térmico Universal ― UTCI (19). Utilizou-se o software RayMan Pro para calcular o conforto térmico por esses dois índices (20). Salienta-se que esses índices possuem resultados em temperaturas equivalentes, facilitando a comparação destes resultados com o Projeto Ruros. As variáveis climáticas de entrada foram: temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade do vento e Temperatura Média Radiante; e as variáveis pessoais foram 0,6 Clo, baseado nos estudos de Abreu-Harbich et al. (21) e sentado, 80W, e rodando de bicicleta, 200W, de acordo com Lamberts et al. (22).
Para comparar as sensações térmicas com a temperatura PET, Matzarakis e Mayer (23) desenvolveram uma classificação para Europa (clima continental úmido), Lin e Matzarakis (24) para Tawian (clima tropical), Monteiro e Allucci (25) para São Paulo (clima tropical de altitude). Blažejczyk et al., também classificou as sensações térmicas para a europa. Para comparar os resultados de índices UTCI com o PET, utilizou-se a tabela de Sensações Térmicas do PET e UTCI para Europa, Taiwan e São Paulo, onde as sensações térmicas são divididas em classes de sensações. Neste estudo, utilizou-se a classificação para Taiwan pois o clima de Goiânia durante o verão é mais parecido com o de Taiwan do que de São Paulo.
Resultados
A foto aérea do Trecho 02; do medidor de estresse térmico com o globo cinza e do multifuncional e a figura de Sensações Térmicas do PET e UTCI para Europa, Taiwan e São Paulo apresentam, respectivamente, os resultados para a temperatura do ar, temperatura média radiante e umidade relativa do ar. Em termos de temperatura do ar, observou-se que a diferença entre o sol e à sombra no Trecho 1: arvores para a espécie sibipiruna foi de 6,8oC, e para a espécie monguba, 2,1oC. Em termos de temperatura média radiante, a diferença entre o sol e a sombra para o agrupamento da espécie sibipiruna foi de 8,4oC, e para a espécie monguba, 2,6oC.
Também, observou-se que o exemplar da espécie monguba aumentou a umidade relativa do ar em 7,4%. No Trecho 2: Palmeiras, a espécie guariroba reduziu a temperatura do ar até 3o C e temperatura média radiante em 2,4º C. Salienta-se que o exemplar da espécie monguba, praticamente isolada, trouxe benefícios semelhantes ao de um agrupamento da espécie guarirobas, devido a área de sombreamento projetado pela copa da árvore ao pedestre e ao ciclista ser maior e mais densa do que a copa da palmeira. Em termos de umidificação, todos os exemplares analisados são capazes de umidificar o ambiente construído, no entanto, quando se tem um piso em grama, esses benefícios podem ser intensificados, conforme mostrado nos estudos de Shashua-Bar et al. (26)e Ribeiro (27).
O gráfico de temperatura do ar para diferentes exemplares mostra os resultados de PET e UTCI à sombra dos exemplares vegetais e ao sol. Notou-se que no Trecho 01: árvores, o agrupamento da espécie sibipiruna trouxe maior conforto térmico em todas as horas analisadas. Considerando a temperatura confortável entre 26º C a 30º C, observou-se que a sombra do agrupamento da espécie sibipiruna manteve temperaturas abaixo de 30º C em PET e UTCI, na situação sentado e andando de bicicleta.
A diferença das temperaturas PET à sombra e ao sol de cada trecho analisado para pessoas sentadas foi cerca de 10oC para o agrupamento da espécie sibipiruna e 3,8º C para a espécie monguba (P2). Em termos de UTCI, a sensação térmica no Trecho 01: árvores é de 10,2oC para quem está sentado à sombra do agrupamento da espécie sibipiruna foi de 8,4oC para quem está andando de bicicleta a sombra deste agrupamento. No Trecho 2: Palmeiras, o agrupamento da espécie guariroba reduziu a temperatura PET para quem estava sentado em 3,8º C. Também, observou-se que o ponto ao sol (P2) do Trecho 01: árvores é mais confortável do que o ponto ao sol (P5) do Trecho 02: palmeiras. Esses dados demonstram a capacidade de termorregulação dos agrupamentos arbóreos em relação aos agrupamentos da palmeira guariroba.
Como diretrizes de implantação, recomenda-se as espécies mais adequadas para plantio em ciclovia ― facilmente encontradas no viveiro municipal de Goiânia ― conforme características morfológicas como a altura do fuste maior de 8m, copa densa, e perene, estão elencadas na tabela de relação das espécies indicadas para plantio conforme características físicas do local.
Para as pessoas circularem livremente em calçadas e ciclovias, o espaço pode ser considerado adequado se possuir: materiais apropriados no pavimento e sinalização coerente; faixa livre para circulação e acessíveis a todos os transeuntes; e o sombreamento compatível com o clima da cidade. Salienta-se que ruas cegas não são atrativas aos usuários pois desencadeiam uma forte sensação de medo (28). Sugere-se a criação de ruas dinâmicas, demonstrando que a rua é um órgão vivo que deve ser pensando em todas as suas dimensões, e que a responsabilidade por ela não é apenas dos órgãos públicos, mas sim da comunidade.
Discussões e conclusões
Este estudo objetivou avaliar quantitativamente o conforto térmico proporcionado por exemplares arbóreos em dois trechos de uma ciclovia em Goiânia. Como objetivo secundário, foi possível desenvolver diretrizes de implantação de exemplares arbóreos para cidades de clima tropical de Savana como Goiânia.
O agrupamento da espécie sibipiruna, Trecho 01: árvores, apresentou melhores sensações de conforto térmico ao longo do dia, entre 26º C e 30º C, para as diferentes atividades analisadas (sentado e andando de bicicleta). Os resultados apontaram que sombra proporcionada pelo agrupamento da espécie sibipiruna conseguiu reduzir mais de 11º C de temperaturas PET para os ciclistas. Observou-se também que o agrupamento da espécie guarirobas trouxe benefícios térmicos semelhantes à de uma árvore da espécie monguba, com uma redução de temperatura PET de cerca de 3,8º C, confirmando os resultados de Abreu-Harbich et al. (29); Shashua-bar (30) e Ribeiro (31). As características morfológicas entre os exemplares vegetais analisados geram área de sombreamento diferentes, influenciando distintamente nas sensações de conforto térmico.
As principais limitações deste estudo é coleta de dados de campo em uma estação chuvosa. Sugere-se a realização de mais estudos de campo para melhorar a qualidade da amostra de dados de campo e também, estudar áreas com outras espécies de exemplares vegetais. Como trabalhos futuros, sugere-se avaliar os benefícios trazidos por diferentes exemplares arbóreas, especificamente, as espécies nativas do bioma cerrado para preservação da biodiversidade nativa, bem como colaborar com a sustentabilidade do ecossistema urbano.
Por fim, conclui-se que: 1. A escolha das espécies para o plantio nas cidades é essencial para melhor conforto térmico da população, devido à melhoria do microclima, com a atenuação de temperatura e aumento da umidade do ar proporcionado por árvores e palmeiras; 2. E, dependendo do espaço disponível para plantio, pode-se existir quaisquer das diversas espécies de árvores e que não tendo espaço para estas, pode-se, perfeitamente, plantar palmeiras, nas suas mais variadas espécies, pois também haverá melhoria do microclima.
Estes resultados auxiliaram arquitetos, urbanistas e planejadores urbanos no processo de tomada de decisões para a melhoria do conforto térmico urbano, mitigação dos efeitos negativos das ilhas de calor frente às mudanças climáticas. A arborização urbana é estratégia simples e barata para a melhoria do conforto térmico urbano, além de ser um elemento essencial no planejamento da infraestrutura verde que visa a sustentabilidade urbana.
notas
1
SANTAMOURIS, Mattheos. Energy and climate in the urban built. London, James & James, 2001, p. 410.
2
ABREU, Loyde Vieira. Avaliação da escala de influência da vegetação no microclima por diferentes espécies arbóreas. Dissertação de mestrado. São Paulo, FEC Unicamp, 2008.
3
ABREU-HARBICH, Loyde Vieira; LABAKI, Lucila C.; MATZARAKIS, Andreas. Effect of tree planting design and tree species on human thermal confort in the tropics. Landscape and urban Planning, v. 138, Amsterdam, jun. 2015, p. 99-109 <https://bit.ly/3DvxRrq>.
4
SHASHUA-BAR, Limor; POTCHTER, Oded; BITAN, Arieh; BOLTANSKY, Dalia; YAAKOV, Yaron. Microclimate modelling of street tree species effects within the varied urban morphology in the Mediterranean city of Tel Aviv. International Journal of Climatology, n. 30, 2010, p. 44-57 <https://bit.ly/3DwamP3>.
5
Kong, L., Lau, K. K.-L., Yuan, C., Chen, Y., Xu, Y., Ren, C., and Ng, E.,Regulation of Outdoor Thermal Comfort by Trees in Hong Kong. Sustainable Cities and Society, v. 31, May 2017, p. 12-25 <https://bit.ly/3y9JD9D>.
6
RIBEIRO, Neusa L. S. Atenuação solar e sombreamento produzido por espécies de palmeiras em área urbana. Dissertação de mestrado. São Paulo, FEC Unicamp, 2018.
7
LOBODA, Carlos R.; DE ANGELIS, B. L.D. Áreas verdes públicas urbanas: conceitos, usos e funções. Ambiência Guarapuava, v. 1, n. 1, jan./jun. 2005, p. 125-139 <https://bit.ly/3y6ZGFm>.
8
MILANO, Miguel Serediuk. O planejamento da arborização, as necessidades de manejo e tratamentos culturais das árvores de ruas de Curitiba. Revista Floresta, Curitiba, 1987 <https://bit.ly/3DFwS7Y>.
9
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Lei Federal n. 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, 2010.
10
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Lei federal nº 12.587, de 03 de janeiro de 2021. Brasília, 2012.
11
Idem, ibidem.
12
Goiânia, 2012.
13
NIKOLOPOULOU, Marialena (org.). Designing open spaces in the urban environment: a bioclimatic approach. Grécia, Cres, 2004.
14
Kong, L., Lau, K. K.-L., Yuan, C., Chen, Y., Xu, Y., Ren, C., and Ng, E. Op. cit.; KOTTEK, Markus; GRIESER, Jürgen; BECK, Christoph; RUDOLF, Bruno; RUBEL, Franz. World Map of the Köppen-Geiger climate classification. Meteorologische Zeitschrift, v. 15, n. 3, jun. 2006, p. 259-263 <https://bit.ly/3y7f6cy>.
15
CHAVES, Victor L.; ABREU-HARBICH, Loyde V. Identificação do ano climático de referência para Goiânia, Goiás. Anais do XVI Encontro Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído, São Paulo, USP, set. 2016 <https://bit.ly/3ybhwHd>.
16
THORSSON, Sofia; LINDBERG, Fredrik; ELIASSON, Ingegärd; HOLMER, Björn. Different methods for estimating the mean radiant temperature in an outdoor urban setting. International Journal of Climatology, v. 27, 2007, p. 1983-1993 <https://bit.ly/33dMa7y>.
17
ASHRAE Handbook. Fundamentals, American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers, Atlanta, 1998.
18
VDI, 1998: VDI 3787, Part I: Environmental meteorology. Methods for the human biometeorological evaluation of climate and air quality for the urban and regional planning at regional level. Part I: Climate. Beuth, Berlin, p. 39.
19
BLAŽEJCZYK, Krzysztof; BROEDE, Peter; FIALA, Dusan; HAVENITH, George; HOLMÉR, Ingvar; JENDRITZKY, Gerd; KAMPMANN, Bernhardt; KUNERT, Anna. Principles of the new Universal Thermal Climate Index (UTCI) and its application to bioclimatic research in European scale. Miscellanea Geographica, v. 14, 2010; p. 91-102 <https://bit.ly/3oBywU7>.
20
MATZARAKIS, Andreas; RUTZ, Frank; MAYER, Helmut. Modelling radiation fluxes in simple and complex environments – application of the RayMan model. International Journal of Biometeorology, v. 51, 2007, p. 323-334 <https://bit.ly/3dxTZ9X>.
21
ABREU-HARBICH, Loyde V.; CHAVES, Victor L. A.; BRANDSTETTER, Maria Carolina G. O. Evaluation of strategies that improve the thermal comfort and energy saving of a classroom of an institutional building in a tropical climate. Building and environment, v. 135, 2018, p. 257-268 <https://bit.ly/3DwuBw1>.
22
LAMBERTS, Roberto; SORGATO, Márcio J.; DEIVIS, Ana P. M.; MARINOSKI, Luís. Análise do procedimento de simulação da NBR15575 para avaliação do desempenho térmico de edificações residenciais. Ambiente Construído, v. 14, n. 4, Porto Alegre, out./dez. 2014 <https://bit.ly/3y9kdcz>.
23
MATZARAKIS, Andreas; MAYER, Helmut, Another Kind of Environmental Stress: Thermal Stress. WHO Newsletter, v. 18, 1996, p. 7-10.
24
LIN, Tzu-Ping; MATZARAKIS, Andreas. Tourism Climate and Thermal Comfort in Sun Moon Lake, Taiwan. International Journal of Biometeorologyogy, v. 52, 2018, p. 281-290 <https://bit.ly/3EEWy5V>.
25
MONTEIRO, Leonardo Marques; ALUCCI, Marcia Peinado. Proposal of an outdoor thermal comfort index for subtropical urban areas. Palenc 2010, Architecture and Sustainable Development Conference, Louvain-la-Neuve, July 2011 <https://bit.ly/3oCofqy>.
26
SHASHUA-BAR, Limor; POTCHTER, Oded; BITAN, Arieh; BOLTANSKY, Dalia; YAAKOV, Yaron. Op. cit., p. 4.
27
RIBEIRO, Neusa L. S. Op. cit., p. 4.
28
EXTERKOTTER, Kelly; SIMONI, Tainã. Calçada, arborização e caminhabilidade: um convite para viver a comunidade. Anais do 6º Simpósio de Sustentabilidade e Contemporaneidade nas Ciências Sociais, 2018, p. 1-12 <https://bit.ly/3lJtbrF>.
29
ABREU-HARBICH, Loyde Vieira; LABAKI, Lucila C.; MATZARAKIS, Andreas. Op. cit., p. 4.
30
SHASHUA-BAR, Limor; POTCHTER, Oded; BITAN, Arieh; BOLTANSKY, Dalia; YAAKOV, Yaron. Op. cit., p. 4.
31
RIBEIRO, Neusa L. S. Op. cit., p. 4.
sobre as autoras
Julia Wilson de Sá Roriz é graduada em Ciências Biológicas (UFG, 2005), especialização em Gestão e Análise Ambiental (Faculdade Araguaia, 2010) e mestranda (PPG PC UFG). Atualmente é analista de obras e planejamento urbano ― biólogo da Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia GO. Tem experiência na área de Ciências Ambientais, com fase em arborização urbana.
Loyde Vieira de Abreu-Harbich é arquiteta e urbanista (PUC Goiás, 2004), mestre (2008) e doutora (2012) pela FEC Unicamp, com período sanduiche na Uni-Freiburg (2011) e pós-doutora (Uni Freiburg, 2013; FEC Unicamp, 2015; PPG Gecon UFG, 2018). Atualmente é professora e pesquisadora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Karla Emmanuela Ribeiro Hora possui graduação em Arquitetura e Urbanismo (UCG, 2001), mestrado em Geografia (Iesa UFG, 2003) e doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento (Made UFPR, 2009). É professora associada I na Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás e tem experiência na área de Planejamento Urbano e Ambiental, com ênfase gestão de recursos hídricos e saneamento ambiental. Docente nos departamentos PPG PC e PPG Ciamb, ambos da UFG.
preâmbulo
O presente artigo faz parte de Preâmbulo, chamada aberta proposta pelo IABsp e portal Vitruvius como ação para alavancar a discussão em torno da 13ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, prevista para 2022. As colaborações para as revistas Arquitextos, Entrevista, Minha Cidade, Arquiteturismo, Resenhas Online e para a seção Rabiscos devem abordar o tema geral da bienal – a “Reconstrução” – e seus cinco eixos temáticos: democracia, corpos, memória, informação e ecologia. O conjunto de colaborações formará a Biblioteca Preâmbulo, a ser disponibilizada no portal Vitruvius. A equipe responsável pelo Preâmbulo é formada por Sabrina Fontenelle, Mariana Wilderom, Danilo Hideki e Karina Silva (IABsp); Abilio Guerra, Jennifer Cabral e Rafael Migliatti (portal Vitruvius).