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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Quem tem direito à (criar a) cidade? O presente artigo discute sobre as relações entre arte, cotidiano e cidade, propondo a adoção do conceito de “paisagem habitada” como um caminho possível rumo à utopia da democracia urbana plena.

english
Who is entitled to (create) the city? This article focuses on the relationship between art, everyday life, and the city, and proposes the concept of “inhabited landscape” as a possible path to the utopia of full urban democracy.

español
¿Quién tiene derecho a (crear) la ciudad? Este artículo se centra en la relación entre el arte, la vida cotidiana y la ciudad, y propone el concepto de “paisaje habitado” como un camino posible para la utopía de la democracia urbana plena.


how to quote

WEHMANN, Hulda Erna. Cidade, paisagem e democracia. Sobre a arte de habitar. Arquitextos, São Paulo, ano 22, n. 259.10, Vitruvius, dez. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/22.259/8474>.

Experiência, cotidiano e democracia

A discussão sobre cidade tem ocupado espaço cada vez mais relevante, à medida em que o meio urbano se torna o espaço de vida de um contingente populacional cada vez maior. Em 2015, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios — PNAD indicaram 84,72% do total da população do país com domicílio em áreas urbanas. Mas esses residentes nas cidades são cidadãos, ou seja, participes da pólis? Ao residir, habitam também esse espaço, no sentido do habitar proposto por Martin Heidegger (1), como construção/reconstrução simultaneamente física e poética do espaço? A vida cotidiana que se desenvolve ali lhes permite a experiência poética? Suas criações, se existirem, inserem-se na partilha reconhecida como criatividade urbana? Em resumo: quem tem direito à (criar a) cidade (2)? Essa pergunta é basilar para a discussão da democracia urbana, conforme já assinalava Henri Lefebvre e é o eixo que estrutura os pensamentos apresentados a seguir.

Para melhor apresentar as ideias, o presente texto foi estruturado da seguinte forma: primeiro, serão discutidos possíveis aproximações entre cidade e obra de arte, enquanto processo e produto. A seguir, discorre-se sobre o cotidiano, experiências e seu potencial desalienador. Por fim, finaliza-se com destaque para a “experiência da paisagem habitada” (3), defendendo-se o direito a paisagem enquanto elemento constituinte do direito a cidade (4) e a real democracia urbana.

A cidade e a obra de arte: relações entre exclusão e cotidiano

A cidade é o mundo produzido pelo e para o ser humano, resultado da apropriação humana do espaço por excelência. Essa criação do urbano se aproxima da arte quando é compreendida enquanto processo criativo que se desenrola no cotidiano. Infelizmente, já há algum tempo não se percebe as relações entre a arte e a vida cotidiana, assim como se nega o reconhecimento das ações que diariamente constroem e reconstroem a cidade. E é justamente pela separação entre cotidiano e criatividade artística que a experiência da cidade pela aesthesis se empobrece.

John Dewey (5) trata o dito empobrecimento da experiência estética no cotidiano como uma percepção equivocada, cuja base se funda na separação (igualmente artificiosa) entre o que se considera arte e seu processo de produção. Ao determinar como arte apenas seu resulto, o objeto artístico, apaga-se sua relação com a vida e com seu produtor, e isola-se a obra do mundo comum. A arte passa a ser obra exclusiva de seres diferenciados, e nega-se a intenção artística e a experiência do cotidiano, que se torna o domínio da rotina superficial e repetitiva.

Pode-se associar essa separação aos profundos impactos que a reestruturação social surgida no estabelecimento da modernidade, que, ao categorizar e separar a produção como elemento autônomo e um fim em si mesmo, do consumo, estabelecido como um prazer superposto do trabalho alheio, resulta na criação de um abismo entre a experiência comum, domínio do útil e da funcionalidade, e a experiência estética. Caracterizado por um triplo afastamento: perante as coisas (pelo dualismo), perante outrem (pelo individualismo) e perante o próprio corpo (objetivado pela Ciência e Medicina) (6), é o estabelecimento do pensamento moderno que induz o ser humano à busca de um sucedâneo que recrie a unidade perdida, reunificando objetividade e subjetividade.

Como resultado, transforma-se a obra de arte numa produção impessoal, destinada ao consumo (de uma classe específica, bem entendido), descolado das conexões com a experiência comum, cotidiana e tornando-se símbolo de status e bom gosto, atestados de uma cultura especial, pela qual se deve pagar. É preciso compreender que a hierarquização que justificou as diferenças sociais (as desigualdades entre iguais) (7), se baseia também na produção de estereótipos associadas à classe e ao gênero, negando ao homem comum uma humanidade que lhe levasse a questionar a exploração (8). É a identificação de grupos a partir de seu papel social: as classes que produzem são identificadas a seu papel alienado na produção, justificando sua exploração e exclusão. A mente proletária seria tão banal e mal ordenada, que só seria capaz de criar “obras semelhantes a ela mesma, tanto na arte quanto em outras áreas, pois lhe faltam o empurrão e a energia centralizadora do interesse” (9).

É certo que essa separação é ilusória, porém tem fortes impactos na realidade. Ao ter sua expressão e experiências negados, o indivíduo comum passa a sanar a demanda por experiências prazerosas com substitutos, ainda que vulgares e baratos, que lhe permitam a expressão artística, alienando-se da plena expressão de suas potências criadoras. Quando recria suas próprias manifestações, cujo refinamento termina por alçar aquilo que nasce despretensiosamente como cultura popular à categoria de obras-de-arte, têm-nas novamente alçadas a um pedestal distante, retiradas da vida cotidiana. A arte elitizada é, portanto, a outra face da produção mercadológica de produtos de qualidade estética duvidosa que tanto critica, pelo suposto mau-gosto e superficialidade.

Um processo similar ocorre na cidade. Produto de miríades de ações de seus habitantes, é a separação igualmente ideológica entre as lógicas dos que a planejam e as aquelas dos que a experienciam, que as tornam confusas, descoladas, incompreensíveis. Tornam-se espaços hostis, dos quais se almeja fugir — para o que se tornou um outro produto, devidamente monetizado: para os espaços para os quais se permite denominar “paisagens”, espaços de idílio e refazimento, que existem como contraposição complementar à cidade caótica. A transformação do urbanismo / planejamento urbano em um saber que “corrige” as ações cotidianas dos habitantes das cidades nega a cidade como processo, e a transforma num produto, representado em plantas e mapas, uma abstração ideológica, elitista e excluidora, como denuncia Lefebvre.

Assim como a arte, a cidade é produto de ações que possuem um contexto e expressa subjetividades na objetividade. Sua realidade é percebida nas experiências que permite, inclusive estéticas, pois o ser que a habita é integral — razão e emoção, como expressa Milton Santos (10). Sua redução a um espaço essencialmente pragmático, funcionalista, é um processo de caráter alienante e excludente. Por isso, propõe-se neste artigo a adição da dimensão estética do espaço humano, aqui denominada “experiência da paisagem habitada”, às questões discutidas nos estudos urbanos, como importante para a verdadeira consecução do direito a cidade, por permitir justamente acessar os afetos e as lógicas que (re)constroem poética e materialmente o espaço de vida, em suas ações cotidianas.

A importância da inserção do cotidiano se dá porque é esse o espaço da vida concreta, onde o homem se reproduz diretamente como indivíduo e reproduz indiretamente a vida material, sustentado por tradições que organizam o “modo de organizar a vida” (11). As possibilidades efetivas de desalienação do cotidiano se dão quando se oportuniza que seja espaço de criação, através das experiências significativas. Justifica-se assim a exploração desse caminho para efetiva autonomia e democracia do urbano, tal como se pretende neste trabalho, resultado de pesquisa de doutorado conduzida na cidade de Fortaleza, Ceará, em comunidades ameaçadas de remoção: Serviluz e Lagamar.

A partir das conversas travadas nestas comunidades, estruturadas em pesquisas em profundidade e analisadas por metodologia de inspiração fenomenológica (12), delineou-se articulações teóricas que reúnem aportes diversos, associados pela temática das experiências estéticas no espaço cotidiano e seu papel na efetivação do direito democrático a cidade. Tais experiências, denominadas “experiências da paisagem habitada”, revelaram-se chaves para o processo de constituição do habitante do lugar enquanto indivíduo autônomo, constituindo-se em diálogo com o espaço que habitam através de suas ações cotidianas. Os registros imagéticos que ilustram o artigo representam cenas coletadas durante a pesquisa, e que se considerou contribuem, assim como texto, para a argumentação utilizada.

Para alcançar o objetivo indicado, cumpre discutir inicialmente as relações entre o potencial desalienante presente no cotidiano através dos momentos significativos, inclusive, pela aesthesis possível nos espaços de vida. As ideias apresentadas nasceram de pesquisa de

Cotidiano, experiência significativa e desalienação

A vida cotidiana é insuprimível, presente em todas as esferas da vida e do indivíduo, resultado de relações mutáveis entre tradições e mutações. Cada membro da comunidade aprende suas tradições, como condição para ser reconhecido como parte atuante do grupo, mas as interpreta de forma individual (13). Enquanto reprodutor de tradições, o homem mobiliza suas forças de forma heterogênea, pouco reflexiva, alienada. Porém, ao criar interpretações próprias, concentra suas forças de forma homogênea, suspendendo a rotina repetitiva, num processo transformador de si e do mundo que o circunda.

São essas interpretações que permitem as brechas de criatividade, associando-se às transformações históricas gerais, que as oportunizam em maior ou menor grau. O período moderno e sua lógica fabril transforma a rotina cotidiana numa sucessão repetitiva, com gestos, atos e atividades padronizados, orientados para o resultado imediato e utilitário. Ao esvaziar o cotidiano de seus significados humanos, as ideias da idade moderna se transformam num regime estético autoritário que marginaliza em massa, através de uma partilha estética desigual, denominado de “modernitarismo” por Jacques Rancière (14).

A deformação do real para adequá-lo a um ritmo maquinal, não humano, cria um simulacro de realidade que aprisiona o ser humano numa estrutura linear que não é a da vida, mas sim uma tentativa de garantir previsibilidade a processos complexos, através de sua simplificação. Esse amordaçamento da vida se reproduz no espaço, que se torna confinamento e construído a partir de regras alheias, castradoras, estabelecidas a partir da lógica da mercadoria, da quantidade divisível, da repetição e da previsibilidade. O ser humano torna-se, assim, inquilino de um espaço dominado por outrem, claustrofóbico, que empobrece suas escolhas e possibilidades pela imposição de formas de ser e estar no mundo determinados a partir de parâmetros hierarquizados entre necessidades básicas e secundárias, com distanciamento incomensurável entre o mundo objetivo e subjetivo.

É um território des-humanizado e des-humanizante, por sufocar a riqueza de experiências possível à humanidade, locus abstrato de uma sociedade imaginária, descarnado porque separado de seu conteúdo humano, unidade forjada por uma racionalidade urbanística à mercê do interesse utilitário da razão. A cidade proposta como máquina elimina a variável antropológica, e a existência humana se reduz à força de trabalho. O citadino é que deve se adaptar à cidade-máquina, e, garantida sua reprodução pelos serviços básicos, o que sobra (a arte, o lazer, a aesthesis) é supérfluo.

Essa “Cidade-conceito”, como a denomina Michel de Certeau (15), tem sido questionada em seus diversos impactos na crise ecológica, social e política da civilização. Ainda assim, as alternativas dadas parecem discordar apenas nos métodos empregados, sem questionar as fundas raízes da exclusão e desigualdade que marcam o território urbano contemporâneo (16). Movimentos pró-democracia urbana parecem satisfazer as demandas por participação real na arena política da polis com eventos onde se pergunta às pessoas o que desejam. Entretanto, essa partilha política não pode ser outorgada, e sim conquistada por ações políticas. Somente ocorrerá com a inserção de suas contribuições criativas na tessitura do urbano, a aceitação de suas ações cotidianas, não mais vistas como “degradação” da cidade ideal, mas sim como uma manifestação válida de indivíduos criadores que remodelam o espaço e a si mesmos como táticas de sobrevivência.

A questão é: como seria possível abarcar essa multitude de criadores, de forma razoável? Como projetar para algo em permanente devir? Como dialogar com a permanente mudança? Uma estratégia possível, proposta neste artigo, seria a compreensão das lógicas que estruturam as ações em cada território. Uma de suas facetas seria justamente a “paisagem habitada”, a construção da leitura do lugar a partir de um amálgama de afetos, percepções, valores que estruturam relatos sobre os espaços de vida (17) de cada um, e que compartilham bases comuns e elementos únicos. Esse amálgama se produz no diálogo entre os indivíduos e o espaço, a partir da “experiência estética do espaço cotidiano” (18), experiência essa que é tão significativa, que promove a homogeneização do indivíduo referida anteriormente.

A partir desse diálogo experiência-consciência, para além da aquisição pragmática de habilidades, (re)constroem-se o eu a partir da (res)significação das coisas, feitas e sofridas. O habitante é assim formado em permanente diálogo com o mundo, através das experimentações que lhe ocorrem. É pela sua pobreza em ofertar essas experiências que a cidade máquina é sufocante, submergindo a consciência humana numa rotina alienada (19). É a partir da possibilidade criativa das experiências que se permite suspender a fragmentação da rotina e elevar o indivíduo em direção à consciência de si e do mundo, ou seja, a antítese da alienação.

A relação que se denomina aqui “experiência de paisagem” é um desses momentos de significado decisivo, porque envolve todo o indivíduo (corpo e espírito), a medida em que sua atenção é despertada como um todo. Nesses momentos, de (re)construção, a rotina é suspensa, e o indivíduo se torna ponto de mediação entre o singular e o universal, tornando sua percepção mais rica, mais refinada e desenvolvida, pois compreende melhor o mundo. Já não é algo ininteligível, incomensurável, que o assusta e repele, mas um ambiente rico em descobertas possíveis, que lhe pertence porque faz parte de sua história, de sua consciência. O “despertar” da consciência ocorre em movimentos sutis em meio à vida cotidiana: o toque da areia do fundo do mar, a cor da luz sobre uma praça, memórias de momentos felizes de uma infância ativa, cheiros.

A conexão com o mundo amortiza o “desterro” forçado pela lógica produtivista, que não consegue completamente se impor, apesar de buscar repetição maquinal de comportamentos rotineiros que empobrece a essência humana nos “papéis sociais”. A importância de escutar de forma apropriada esses momentos é oportunizar aos habitantes da cidade o reconhecimento de serem sujeitos (da produção) e experienciadores (de experiências significativas) nos espaços urbanos. É condição para reconhecer o imaginário e o sensível no cotidiano, como condição para reencontrar a medida (e o equilíbrio) do mundo ambiente, do espaço da vida. A visão distorcida do papel da experiência estética, tal como é formulada no período moderno, precisa ser revista, para alcançar a percepção do habitante da cidade como ser humano completo, permitindo ao planejamento urbano uma compreensão da cidade como mundo humano, criado e recriado a partir de miríades de micro-decisões cotidianas, a poiein (20) anônima , por vezes muito distantes das narrativas oficiais inscritas no espaço, a partir de táticas “sem identidade legível, sem tomadas apreensíveis, sem transparências racionais” (21). A cidade como espaço democrático deveria ofertar o suporte a este processo; uma cidade sustentável deveria aproveitar a energia despendida como elemento de sua produção. Resta a perguntar: de que forma o espaço urbano pode promover este processo, tornando-se mais inclusivo, isto é, mais compreensivo? De que forma pode (re)conhecer a criatividade e a produção da cidade como obra de arte? O conceito da cidade como “paisagem habitada” seria uma possibilidade, compreendendo a paisagem como a “experiência estética do espaço de vida”, sentido cunhado por Arnold Berleant (22), e que permite entendê-la como direito, por se tratar de uma experiência humanizadora do indivíduo e humanizante de seu ambiente, conforme discussão a seguir.

Paisagem habitada: direito ao humano no pensamento urbanístico

A ideia de paisagem surge justamente no bojo da transformação social que acompanha a reurbanização das sociedades, seja na China do século 4, seja na Europa do século 14 (23). É utilizada para fazer referência ao espaço do campo, o qual deixa de fazer parte do cotidiano. É essa a justificativa dada para sua apreensão a partir da aesthesis: olha-se para ele com o olhar “purificado” de interesses imediatos, que empanariam sua percepção estética (24). Como a arte, se torna espaço de iniciados, seres cuja sensibilidade não é embotada pela rotina do trabalho e capazes de apreender o espaço como paisagem.

A oposição entre cidade e paisagem pode ser entendida nesta chave, na qual a cidade seria o espaço da funcionalidade e da produção, e a paisagem, da fruição estética. Essa problemática não é tão superficial quanto possa parecer (uma vez que a aesthesis tem sido sempre tratada como um adicional, e não uma necessidade da vida). É condição para uma forma de alienação especialmente danosa: o dano estético. Conforme Berleant, o “dano estético” seria o impacto profundamente negativo de um espaço que se torna ininteligível, porque conformado por lógicas incompreensíveis. A experiência estética neste caso seria através de afetos negativos, que afastariam o homem de seu espaço de vida. Ao mesmo tempo, o que é um processo é apresentado como um produto, tanto mais vendável, quanto mais se apaga os processos que a produzem cotidianamente, e que justamente indicariam sua impermanência.

Entretanto, é justamente essa característica maior da paisagem, seja qual acepção que se trabalhe. A paisagem enquanto base material, é resultado de uma labor contínuo, humano e não-humano, que se deposita sobre um determinado território. Enquanto experiência estética, se apresenta como um diálogo íntimo entre sujeito e ambiente, e não é necessário acrescentar o quanto tal diálogo é variável em suas condicionantes e circunstâncias. Separar a paisagem de seu processo é enfraquecer o conceito, apagando seu potencial político. Retirar a paisagem do ambiente urbano, lar cotidiano de um número crescente de pessoas, é negar a seus habitantes o reconhecimento do direito a criar e fruir esteticamente seu espaço de vida. Entretanto, apesar de não reconhecido, o fenômeno da paisagem persiste, resistente por enraizar-se na própria essência do habitar, como a apropriação cotidiana dos espaços tombados bem representa.

Quando se opta por trabalhar a paisagem como fenômeno, sua dimensão processual é valorizada, juntamente a seu potencial democratizante da experiência estética e criativa (em outras palavras, humana) do espaço se destaca. A experiência do fenômeno da paisagem é, em outras palavras, a apreensão sensível que ressignifica determinado ambiente, criação individual e totalizante a partir da fruição estética, sinestésica, reunindo em si elementos objetivos e subjetivos. Essa experiência permite uma nova compreensão do mundo, uma reconstrução criativa, poética, de seus simbolismo e significados, uma revisão autônoma da narrativa do espaço, um evento enraizado num lugar que se forma entre o olhar intencional e o que é olhado.

A percepção da paisagem não seria passiva, mas uma experiência ativa, um engajamento perceptivo, sabendo-se que o sentido do percebido não é constituído (idealizado por um sujeito pensante), mas sim nele instituído, a partir de um diálogo fenomênico com o mundo. Paisagem assume assim um outro sentido, o de “totalidade que se expressa, a partir do ponto em que é percebida, a paisagem ‘acontece’ em uma relação entre, pode-se arriscar, sujeito-sujeito; o mundo e o ser que mutuamente se afetam” (25). A interpenetração das dimensões do indivíduo e do espaço circundante, associada à experiência da paisagem, é a chave que indica seu potencial desalienador, por (re)constituir a relação entre indivíduo e o mundo, ressignificando a ambos. Como disse um dos interlocutores: “eu e o mar somos um”.

Formação da paisagem no sentido dado neste artigo
Elaboração Hulda Wehmann, 2018

Essa experiência associa o estar ao sentir, e o sentir ao refletir, conferindo oportunidades cotidianas para a desalienação, chave da democracia real. Se o indivíduo se (re)constrói a cada experiência, sua relação com seu espaço de vida é chave de seu reconhecimento de igual entre iguais, e base para sua mobilização em busca de direitos que reduzam a desigualdade entre iguais, tal como preconiza a ação política trabalhada por Rancière (26). Essa dimensão tem sido discutida na contemporaneidade (27), a partir da apropriação desse termo por movimentos populares que demandam direitos ao espaço compartilhado, a que denominam “sua paisagem” (28).

A criação da paisagem se torna assim essa consciência e reverência a partir da participação ativa de um experienciador. A paisagem é assim o ponto de contato entre o indivíduo e o ambiente experienciado, contato não mais entre dois corpos que se tocam, mas um fenômeno pervasivo, em que os limites entre o indivíduo e o mundo não são uma fronteira claramente definida, mas uma pele porosa, que permite a troca e as influências recíprocas, enriquecendo ao experienciador e envolvendo-o com esta camada externa a si, porém parte de si mesmo, que é o seu espaço de vida. A sensação não é representação mental, mas efetiva ligação do ser com ser: ao sentir, o homem enquanto sujeito encarnado num corpo e ser-no-mundo liga-se às coisas, entes também sujeitos na medida em que exercerem sua ação. Sentir o mundo não é mais antagônico a conhecer o mundo e a si mesmo, mas parte essencial do processo.

Se a experiência da paisagem permite ao indivíduo ser sujeito, permite também que ao lidar com ele possa reconstruí-lo poeticamente (29), possa habitá-lo, no sentido dado por Heidegger, e assim constituir-se, numa relação forjada no cotidiano. Por isso, a experiência de paisagem enquanto experiência que (re)constrói o lugar é que é a paisagem habitada, a qual permite ao indivíduo viver como humano, para além da simples sobrevivência corporal. Em outras palavras, o sentido de paisagem habitada, ao permitir justamente esse distanciamento, a descompressão do homem do automatismo exigido pela heterogeneidade e velocidade das múltiplas tarefas diárias, permite propor uma necessidade e um direito à paisagem (30), enquanto experiência humanizadora e humanizante dos espaços de vida.

Enquanto experiência criada pelo afeto (no sentido de afecção), a ideia de paisagem transcende a experiência estética positiva causada por determinadas características espaciais, o belo, ainda que possa incorporá-lo, se considerar a beleza como a experiência de percepção que enriquece a relação entre o homem e o lugar (31). Trata-se da experiência do “aqui e agora”, presente inclusive nos afetos cotidianos: é o corpo no espaço de vida, afetando e se deixando afetar, mesmo nos espaços da cidade. Essa definição permite, portanto, extrapolar o limite dos espaços de natureza para existir enquanto apreensão sensível também da cidade, o mundo dos homens.

É nesse sentido, que associa homem ao seu espaço de vida, que a paisagem pode ser entendida como uma experiência estética mesmo (e talvez principalmente) para aqueles cuja existência está intimamente associada ao espaço do fenômeno da paisagem. O processo de transformação da base biofísica para a garantia da sobrevivência não somente constitui a transmutação da natureza em técnica, mas também a extensão do indivíduo sobre o espaço (quando a atividade não ocorre de forma alienada, bem entendido).

E se o trabalho é a essência do homem, sendo a forma através da qual este se relaciona com a natureza, num processo em que ao transmutar sua natureza externa, transforma a si mesmo, por que negar a todos que constroem o espaço sua fruição — seja teórica, seja materialmente, ao se impor condições para a experiência estética da paisagem que excluem quem não pode (nem quer) se afastar do seu cotidiano? É possível realmente acreditar que, por ser o mar o espaço do trabalho cotidiano, os “povos do mar” tenham seus olhos embotados para sua beleza? Bem ao contrário: no dizer de um dos interlocutores, com décadas de trabalho à beira do oceano, ainda vale a pena acordar mais cedo para ver o sol refletir-se no espelho das ondas.

Pesca de Arrasto, no Serviluz. O trabalho na praia. Será que os pescadores não veem a beleza do mar?
Foto Sara Rosa, 2015

Reconhecer a produção coletiva de paisagens (in situ e in visu) reinsere o homem no espaço como elemento cocriador de seus espaços de vida, seus lugares, num desafio à alternativa cartesiana e à armadilha do modernitarismo, que, ao estabelecer hierarquias de necessidades, permanece restringindo a sensibilidade estética a poucos “educados”, ou mesmo sua constituição como demanda “secundária”. Reconhecer o cotidiano como espaço de criação e experiencia é compreender que o espaço de produção não é isolado da vida, em toda sua complexidade. Assim, em seguimento a essa proposta, pode-se determinar que tal experiência pode ser atributo também do espaço urbano, uma possibilidade de re-humanização da cidade, a partir de sua experiência estética significativa.

O habitar poético e a expressão política

É urgente reconhecer o direito às “experiências da paisagem habitada” e inseri-la na discussão do urbano. É preciso questionar essa cisão artificial do homem em parcelas irreconciliáveis, permitindo repensar a cidade como espaço de vida, a ser fruído criativamente, e inserindo seus autores como seres humanos, autônomos e integrais, sem o que a democracia urbana não passará de discurso: como pensar democracia com hierarquias em quem sente e quem trabalha? Compreender que a aparente “insensibilidade” esconde práticas alternativas, a poiein anônima, respostas possíveis às pressões de uma racionalidade exógena é urgente para a escuta adequada das contribuições cotidianas. O aparente antagonismo entre a vida e a apreciação estética se dá por aceitar que rotina repetitiva, mirrada, deformada pela lógica produtivista seria real, e não uma imposição. O desejo pela experiência do espaço cotidiano é claramente representado nas ações espontâneas que criam espaços para sua apreciação.

O Mirante para o mar: intervenção autônoma transforma o espigão de pedras de proteção do porto em pracinha para permitir contemplar a paisagem no Serviluz. A pedra avisa: “Praia limpa é saúde”
Foto Hulda Wehmann, 2018

Fala-se em reconhecer porque, apesar das pressões coercitivas em sentido contrário, através das fissuras deixadas no espaço pelas estratégias hegemônicas de dominação, persistem as táticas cotidianas, como parte de um processo contínuo de transformação do espaço através de lógicas milenares de habitar a Terra. Num processo verdadeiramente artístico, espaços gerados por essas (i)lógicas de projeto distanciadas da concretude dos lugares para onde se destinam, são efetivamente “corrigidos”, “traduzidos” para o dialeto local, a linguagem do espaço tornado inteligível pela utilização do vocabulário fornecido para a construção simbólica e formal própria. Assim, os habitantes autonomamente transformam-se de inquilinos em habitantes, pelo embate entre técnicas e visões de mundo que se reproduzem em paisagens habitadas. Nesse constante processo de repartição do sensível que se avança em direção a utopia da democratização da cidade.

Será preciso sempre repensar essa partilha, com a ausculta atenta de novas falas, novas vozes, compreendendo o habitar como processo, evitando a atitude “compassiva” dos iluminados, que se outorgam o direito de desvelar aos leigos as experiências que devem observar. A experiência da paisagem como processo intermitente, mas cumulativo; mutável, mas com permanências; e sempre inconcluso, a paisagem habitada, já é acessível a todos e se reforça pelo compartilhamento democrático. É direito de todos usufruí-la, como acesso a democratização dos espaços de vidas. É direito do ser humano a ser humano, também na cidade.

É necessário reconhecer o direito à liberdade criativa — reconhecer, pois seus indícios estão por toda parte, nas paisagens habitadas. Esses espaços seriam os “lugares significativos”, espacializações do processo criativo, poético de seus habitantes. Seus indícios são claros nos processos de apropriação e nas falas dos que os habitam. Seu reconhecimento seria a inserção das lógicas de cocriação coletiva no tempo e no espaço, não somente como instrumento de projeto, tornando o espaço não antagônico, mas propício à vida humana, tal como deve ser o espaço coletivo.

Para uma urbe democrática, o embate deveria transformar-se me diálogo, assegurando nos lugares oportunidades de experiência da paisagem, de forma respeitosa aos sentidos já construídos, e ao mesmo tempo aberto às inovações. Inserir lógicas locais é estar aberto à autonomia criativa, à poética artística cotidiana, decisões de autonomia que reforçam a consciência dos indivíduos de si e do mundo. São oportunidades de fissurar a espessa camada de inconsciência a que somos submetidos, na corrida sempre frenética do dia a dia. Romper esse ciclo artificial significa buscar um “outro-fazer”, outras formas de viver que aceitem a autonomia, “movimentos de recusa-e-criação” (32).

Esse outro fazer se apresenta de forma multidimensional. Primeiramente, enquanto experiência individual e autônoma, ela se torna pouco “racional” sob o ponto de vista utilitarista. Em segundo lugar, a luta por “bens comuns”, a priorização do valor de uso frente ao valor da mercadoria-paisagem, que Holloway chama de “comunização difusa” é uma forma embrionária de questionar essa visão de mundo que parece hegemônica, pois leva a questionar o mundo da mercadoria, a corrente instrumental de raciocínio típica do capitalismo, e a compreender outros valores, e as similaridades entre aqueles que foram categorizados como diferentes. Criam-se ou recuperam-se relações sociais e reconhecem-se dignidades perdidas num mundo cada vez mais abstrato. A experiência da paisagem é uma oportunidade para o despertar para a humanidade em todos nós. Por isso sua importância crucial na produção de uma cidade concreta, humanizadora e humanizada.

Banho de Mar pelas ondas da “ressaca”, período de janeiro em que as ondas têm uma maior altura e o mar avanças sobre as praias de Fortaleza CE. Festa da criançada
Foto Hulda Wehmann, 2018

Assumir uma tal postura, porém, exige uma revisão e integração de diversos corpos de conhecimento que tratam os espaços, assumindo a cidade como em permanente construção, e não mais como um produto finalizado. Pois, é a vida cotidiana que constrói verdadeiramente a cidade, e vice-versa. Esse processo criativo, poético, ocorre no intercâmbio do corpo com o espaço urbano, permitindo então as experiências estéticas tal como definimos a paisagem: um momento de integração entre o indivíduo e seu espaço de vida, numa continuidade que permite a expansão da consciência humana.

A utilização de métodos que permitam a inserção da subjetividade do cotidiano como acréscimo de projeto, reconhecer suas criações e táticas é dar vida à noção de que a cidade é uma construção realizada ao longo do tempo, em que muitas temporalidades e culturas se misturam em campos híbridos culturais que convivem e interagem, enriquecendo a noção de participação para além de reuniões onde se pergunta o que as pessoas querem. Trabalhar a paisagem como experiência estética habitada é associar ao lugar o papel da arte. Compreender as paisagens possíveis no lugar são meios de compreender, através da imaginação e das emoções contidas nessas criações, em outras formas de relacionamento com o lugar, diferente do nosso próprio. Neste sentido, compreender os sentidos de paisagem criada pelos habitantes do lugar, a paisagem habitada, significa também inserir suas racionalidades naquele espaço — e não só como uma consulta legitimadora no momento do projeto. Pensar a cidade como paisagem é pensar a cidade como obra de arte coletiva.

notas

1
HEIDEGGER, Martin. Construir, habitar, pensar. Teoría, n. 5-6, 1975, p. 150-162.

2
Entende-se aqui a noção de direito à cidade como defendida por Lefebvre: o direito à cidade como obra, participando de seu processo de cocriação material e simbólico, ou seja, à participação não-alienada, autônoma na Festa Urbana, que não se restringe de forma alguma a utilização passiva de espaço pré-determinado por outrem. Para mais detalhes, consultar LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo, Centauro, 2001.

3
WEHMANN, Hulda Erna. Habitar a paisagem: o reconhecimento da experiência estética como direito à cidade. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2019.

4
LIMA, Catharina; ALBUQUERQUE, Elaine de; LIMA, Gabriel dos Santos; WEHMANN, Hulda Erna. O direito ao (in) compressível: arte, cidade, paisagem e transformação social. Rua, Campinas, v. 23, n. 2, 2017, p. 291–309 <https://bit.ly/3lh0Ubu>.

5
Para maio aprofundamento, ver: DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo, Martins Fontes, 2010.

6
A origem do conceito de paisagem está associada à urbanização das sociedades, conforme apresentado por Augustin Berque e Jean Marq Besse. Esse processo de urbanização, na sociedade dita ocidental, coincide com a divulgação das ideias iluministas, com a valorização da “razão” e a constituição do que se denomina Idade Moderna. É nesse sentido que irá trabalhar o termo “moderno” neste trabalho. BERQUE, Augustin. O pensamento paisageiro: uma aproximação mesológica. In SERRÃO, Adriana Veríssimo (org.). Filosofia da Paisagem. Uma antologia. Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2011; BESSE, Jean Marq. Ver a Terra — seis ensaios sobre a Paisagem e a Geografia. São Paulo, Perspectiva, 2006.

7
As ideias de Rancière sobre as relações entre estética e política podem ser consultadas em: RANCIÈRE, Jacques. O inconsciente estético. São Paulo, Editora 34, 2009 e RANCIÈRE, Jacques. Estética e política: a partilha do sensível. Porto, Dafne, 2010.

8
Silvia Federici discute as associações feitas entra a hierarquização entre corpo (e partes do corpo) e mente, associada às ideias iluministas apropriadas pelos filósofos sociais da Idade Moderna, e a estrutura social. Para mais detalhes, ver FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo, Elefante, 2017

9
Cf. DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo, Martins Fontes, 2010, p.460-461.

10
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4ª edição. São Paulo, Edusp, 2006.

11
CARVALHO, Maria do Carmo; NETTO, José Paulo. Cotidiano: conhecimento e crítica. São Paulo, Cortez, 2011.

12
WEHMANN, Hulda Erna. A pesquisa qualitativa fenomenológica: olhos para ver a criatividade cotidiana. Risco. Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, vol. 14 (2), 2016, p. 56-66.

13
HELLER, Ágnes. O cotidiano e a História. São Paulo, Paz e Terra, 2008.

14
RANCIÈRE, Jacques. O inconsciente estético (op. cit.).

15
CERTEAU, Michael de. A invenção do cotidiano. Petrópolis, Vozes, 1998.

16
Sobre essa temática, consultar a discussão apresentada por Otília Arantes em A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. ARANTES, Otília. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis, Vozes, 2002.

17
Ao utilizar o termo espaço de vida, indica-se o espaço, enquanto instância social híbrida entre materialidade e ações, que abriga as relações sociais do mundo vivido (as esferas de vida). Ele se diferencia do lugar, no sentido que o lugar se define, neste trabalho, como o ponto específico do espaço ao qual o indivíduo confere significados e simbolismos, e que é experienciado enquanto ponto de encontro do singular (espaço da copresença solidária, conforme Milton Santos e do global (enquanto espaço da dominação). O lugar oportuniza a experiência da paisagem, mas não é idêntico a ela. A paisagem seria a experiência do lugar através dos afetos, enquanto fenômeno que se forma entre o experienciador e o lugar. Para um aprofundamento dessa discussão, ver BORBA, Guilherme Galuppo. A paisagem dos lugares. Teoria e práticas na periferia da metrópole paulistana: o caso do Jardim Celeste e entorno. Tese de doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2014.

18
Termo cunhado por Arnold Berleant. BERLEANT, Arnold, apresentado em Living in the Landscape: Toward an aesthetics of environment. Lawrence, University Press of Kansas, 1997.

19
ASSUNTO, Rosario. A paisagem e a estética. In SERRÃO, Adriana Veríssimo (org.). Filosofia da Paisagem. Uma antologia. Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2011

20
Entendida aqui como a atividade de criar, inventar, gerar.

21
CERTEAU, Michael de. A invenção do cotidiano. Petrópolis, Vozes, 1998, p.174.

22
Idem, ibidem.

23
Ver BESSE, Jean-Marc. Op. cit.; MACIEL, Caio Augusto Amorim; BARBOSA, David Tavares. Paisagem. GEOgraphia, v. 23, n. 50, 2021 e BERQUE, Augustin. Op. cit.

24
Mais sobre essa discussão, ver WEHMANN, Hulda Erna; LIMA, Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos. O direito a habitar a cidade: o reconhecimento da poética cotidiana como direito a cidade. Anais do 18º Enanpur, Natal, 2019.

25
LIMA, Catharina; ALBUQUERQUE, Elaine de; LIMA, Gabriel dos Santos; WEHMANN, Hulda Erna. Op. cit.

26
Idem, ibidem.

27
Para uma revisão mais detalhada, ver BARBOSA, David Tavares. Cidadania Paisagística. Revista de Geografia, v. 35, n. 1, Recife, 2018.

28
Termo utilizado com frequência pelos interlocutores para referenciar suas comunidades, associando ao termo “paisagem” significados de pertencimento às suas “quebradas”. Para maiores detalhes, ver tese que baseia este trabalho.

29
Utilizando aqui poético como derivado de poiein, entendida aqui como a atividade de criar, inventar, gerar. O termo, e o entendimento utilizado, é retirado da obra citada de Michel de Certeau.

30
Ver também BARBOSA, David Tavares. Cidadania Paisagística (op. cit.).

31
BERLEANT, Arnold. Op. cit.

32
Sobre as possibilidades de “fissuras” na estrutura imposta pela lógica capitalista e seu impulso totalitário, ver HOLLOWAY, John. Fissurar o capitalismo. São Paulo, Publisher Brasil, 2013

sobre a autora

Hulda Erna Wehmann é doutora e pesquisadora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2019) e professora da Universidade Anhembi-Morumbi. Trabalha sobre a temática da paisagem e política e direito a paisagem com destaque para a tese Habitar a paisagem: o reconhecimento da experiência estética como direito à cidade (São Paulo, FAU USP, 2019).

preâmbulo

O presente artigo faz parte de Preâmbulo, chamada aberta proposta pelo IABsp e portal Vitruvius como ação para alavancar a discussão em torno da 13ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, prevista para 2022. As colaborações para as revistas ArquitextosEntrevistaMinha CidadeArquiteturismoResenhas Online e para a seção Rabiscos devem abordar o tema geral da bienal – a “Reconstrução” – e seus cinco eixos temáticos: democraciacorposmemóriainformação e ecologia. O conjunto de colaborações formará a Biblioteca Preâmbulo, a ser disponibilizada no portal Vitruvius. A equipe responsável pelo Preâmbulo é formada por Sabrina Fontenelle, Mariana Wilderom, Danilo Hideki e Karina Silva (IABsp); Abilio Guerra, Jennifer Cabral e Rafael Migliatti (portal Vitruvius).

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