O espaço público ganhou relevância crescente nas ciências humanas a partir do spatial turn (1) dos anos 1970 e 1980. Na arquitetura e urbanismo essa centralidade coincide, oportunamente, com os debates sobre gênero e sexualidade. Talvez falte, no entanto, nos aprofundarmos na visão heideggeriana de que haveria um “inevitável entrelaçamento entre espacialidades privadas e públicas” (2), levando-nos a rejeitar qualquer separação rígida entre essas duas esferas espaciais. Se é verdade que o privado é uma região cujos limites importam mais do que as conexões, também é verdade que elas só existem em relação ao público. O alargamento ou constrangimento de um ou de outro resulta numa constante renegociação social do que é o fora e o que é o dentro, e dos regimes de transição do “entre” que aí se constitui.
Por esse motivo, falar da mulher no espaço público significa falar de sua relação com o espaço doméstico. “Ganhar as ruas” é um potente ato de resistência contra o lugar que lhes fora destinado pelo patriarcado. Para o feminismo, ocupar os cenários da vida pública sempre significou uma dupla rebeldia: de um lado, nega-se o papel imposto de dona de casa, e de outro, concorre-se com os homens pelo poder da palavra. É certo que essas barreiras se encontram mais instáveis do que nunca, mas mesmo que o feminismo de quarta onda (do início século 20, com atos públicos como a Marcha das Vadias) explore a Internet e os meios digitais de mobilização, o faz de forma mais complementar do que contraditória, recuperando também a dimensão corporal da produção da cidade.
Não por acaso, o feminismo contemporâneo reivindica termos que antes eram tidos como pejorativos, ressignificando ofensas que foram historicamente usadas para se referir àquelas mulheres que ousaram ocupar as ruas, serem vistas, serem sujeitos desejantes: a “puta”, a “mulher da vida”, a “mulher da rua’, a “rampeira”, a “dama da noite”. Aquela mulher que dá as boas-vindas aos viajantes que, como Macunaíma, chegam à cidade na condição de estranhos, desconhecedores do fato urbano. Ali, no cais do porto, nas franjas das cidades, nos centros decadentes, nos parques e nas avenidas, ocupam a todo instante os locais de negociação entre o público e do privado, como os umbrais das portas, as sacadas e as janelas. Podem exercer sua profissão em qualquer canto mal iluminado e, quando a clientela possui mais dinheiro, o fazem dentro de bordéis ou hotéis, espaços acusados pela sociedade conservadora de serem a “anti-casa”, a “outra casa”, a “casa das primas”. No excesso das cores vibrantes, do palimpsesto de papéis de parede, de móveis de diferentes estilos, de cenários sobrepostos, tablados, cortinas, tubos de dança, essa margem é dividida com outros párias sociais, como os gays, os usuários de drogas, as pessoas em situação de rua etc.
Mas, afinal, qual o nexo que conecta a prostitua e a dona de casa? Em que medida e de que maneiras esses dois sujeitos oprimidos pelo sistema patriarcal dialogam? A resposta é o corpo. É ele que transita entre a cama e o meio fio, entre a cozinha e o restaurante, entre a gravidez e o voto. E é o corpo, na rua, que vira uma das performances mais importantes dos movimentos feministas, mas também do negro, do LGBTQIA+, das lutas dos oprimidos e minorias em geral. Nas palavras de Heloisa Buarque de Hollanda, “o corpo ganha palavra e a palavra, corpo” (3). Reocupar o corpo, ser seu corpo, é o movimento necessário para que qualquer e todo espaço, do público ao privado, seja ocupado por quem não pôde transitar entre eles. A rua, então, encarnece, e o corpo registra essa urbanidade reconquistada e ressignificada. Produz, nas palavras de Paola Jacques, uma verdadeira “corpografia” (4). Uma cidade pensada a partir dessas inscrições abriga, na imaginação da autora, os diversos ritmos corporais que através de gestos de micro resistência se opõe a um projeto neoliberal de espetacularização da vida.
No hall de autoras incontornáveis sobre esses assuntos está Dolores Hayden, uma das primeiras teóricas da arquitetura a discutir a questão do gênero. O faz principalmente no campo do urbanismo, mas em textos como “What Would a Non-sexist City Be Like? Speculations on Housing, Urban Design and Human Work” (5), confirma a dimensão relacional do debate sobre espaço público ao criticar a máxima vigente que associaria a mulher ao ambiente doméstico. Segundo a autora, “’O lugar da mulher é na casa’ tem sido um dos princípios mais importantes do projeto arquitetônico e urbanístico nos Estados Unidos no último século” (6). Apenas criticando esse paradigma é que poderíamos começar a imaginar uma cidade não-sexista, derrubando a tradicional divisão entre público e privado, um dos objetivos máximos do que ela defende ser uma agenda socialista e feminista.
Assim como Hayden, Leslie Kanes Weisman (7) analisa de que maneiras as cidades são perigosas para as mulheres e como os homens são feitos para dominar o espaço público. Como era comum nos anos 1980 e 1990, também estuda a economia doméstica, problemas de violência contra a mulher, a situação das mães solteiras e até mesmo as políticas habitacionais vigentes, concluindo que “Qualquer proposta feminista para a habitação deve ser integrada, e ter como objetivo não apenas a igualdade da mulher no mercado de trabalho, mas a transformação mesma do trabalho e da vida familiar” (8). Ao aproximar problemas não arquitetônicos, como a exploração do trabalho da mulher com a produção de casas, entende que a mudança da estrutura social é condicionante para que surja uma outra estrutura familiar e, por conseguinte, uma outra noção de lar.
Mudar o espaço não significa mudar uma sociedade, por mais que seu inverso pareça promissor. Mesmo que a formação histórico-marxista de Weisman a faça fugir de leituras espaciais simplistas, ela acredita que a planta flexível pode significar um avanço na agenda feminista. É muito instrutivo refletir sobre essa leitura quase trinta anos após sua escrita. Ela nos lembra que todo avanço social pode (e muito possivelmente será) absorvido pelo sistema capitalista, podendo ser invertido e antagonizar com o próprio motivo de sua criação. Nos nossos dias a planta flexível não só é uma realidade, como a possibilidade de trabalhar em casa, ou de dormir no trabalho (como na cultura dos cochilos, ou salas de descompressão) servem como mecanismos de expansão do universo do trabalho sobre a vida particular. Se por um lado permitem que trabalhemos e cuidemos da casa, ou que mães trabalhem e cuidem de seus filhos no mesmo ambiente, por outro aprofundam a exploração do trabalho no ambiente doméstico. Não é mero acaso que durante a quarentena, as mulheres tenham sido as mais afetadas pela reorganização da vida doméstica (9).
Algumas arquitetas conseguiram fugir dessa armadilha ao compreender que o potencial transformador da arquitetura está muito mais ligado à sua dimensão como artefato cultural do que como produto/produtor social. Uma delas é Beatriz Colomina, teórica norte-americana que estuda mídia, gênero e arquitetura moderna. Um de seus textos mais importantes (10) analisa diversas casas de Adolf Loos pela lente da divisão sexual do espaço. Isso se revela quando a autora posiciona a biblioteca dentro de um universo eminentemente masculino, e a theatre box (espécie de “tablado elevado”) como espaço feminino. A autora defende que as casas de Loos teriam uma qualidade uterina e tátil, privilegiando a experiência corporal, e não a apreensão mental que se suporia a princípio, segundo a fachada exterior. Famoso pelo extenso uso de raumplan (11), o arquiteto constrói seus interiores de forma complexa, com rico uso de encobrimentos e desvelamentos visuais, cenários e variações de luz e sombra. O elemento que Colomina analisa, e que melhor compõe esse contraste do dentro e do fora (notadamente estoico e austero) é o tablado suspenso, que ao gerar um palco da vida íntima, da onde se olha e que olha os moradores da casa, dissolve o sentido de sujeito e objeto, público e privado.
A visão, percebe Colomina, é um dos mecanismos centrais na disputa de poder mediado pela arquitetura. A dimensão pública do olhar participa de forma especial nessa hiper valorização do homem moderno, tema explorado por Jane Rendell (12) ao falar dos dândis ingleses do século 19. Dentre os ramblers (transeuntes, “batedores de perna”) da Inglaterra vitoriana, o dândi era aquele que não só olhava — dominação masculina do espaço — como aquele que era olhado — posição objetal da mulher. Suas roupas, manias e trejeitos procuravam a diferenciação nesse fenômeno novo chamado multidão, prenhe de impessoalidade. Tido como afeminado tanto pela forma excessiva como se vestia, como pelo fato de aceitar ser objeto do olhar, essa figura masculina nos faz notar que a identidade de gênero tem uma dimensão profundamente espacial (13).
Porém, ser objetificada pela visão masculina não é a única forma de submeter a mulher ao regime falocêntrico de visibilidade. Diversos críticos pós-modernos, como Edward Soja, Mike Davis e Henri Lefebvre, excluíram as mulheres de seus estudos sobre a metrópole, agindo, na análise de M. Christine Boyer como “detetives noirs” (14). Essas figuras representariam um homem urbano que circula pela cidade sem nenhum constrangimento. Ativo e sempre atrás de algo, a ele se contrapunha a femme fatale, o perigo eminente representado pelo corpo feminino que se esgueira pelas esquinas dessa mesma cidade. O binômio homem/ativo e mulher/passiva se reproduz na modernidade, e resgata mecanismos simbólicos de submissão formulados desde a Grécia antiga: “A transferência metafórica do útero feminino para o receptáculo espacial que aguarda a fertilização masculina, e o modelo abstrato masculino para a forma ideal desencarnada, foram claramente delineadas por Platão” (15).
A expulsão do corpo feminino dos espaços públicos não pode ser compreendida apenas como um fenômeno concernente ao gênero. Esther da Costa (16) fala de como a mulher negra tem ocupado as ruas, o que só se explicaria sob a perspectiva da classe pois, diferentemente das mulheres brancas, as negras sempre tiveram que trabalhar e circular na metrópole:
“Diversos historiadores destacaram a presença contínua das mulheres na esfera pública através dos séculos; elas eram invisíveis apenas aos homens. Do mesmo modo, acadêmicos afro-americanos têm mostrado que nesse país, mulheres não-brancas passaram mais tempo em espaços públicos do que homens; o foco persistente na esfera privada mostra uma concepção de domesticidade exclusivamente da classe média branca” (17).
Como demonstrou a autora, não é mais suficiente discutir o público e o privado centrando-nos em uma domesticidade branca de classe média. É diferenciando a mulher negra e urbana da branca e suburbana que Esther da Costa problematiza diversas leituras sobre cidade e gênero, trazendo ao embate a questão das patologias urbanas. Elas decorrem, segundo ela, de estruturas sociais de ocupação do espaço que impedem o pleno desenvolvimento de nossos corpos e mentes. O caso analisado é o da agorafobia que acomete mulheres norte-americanas moradoras dos subúrbios. Em suas palavras: “A agorafobia pode ser compreendida enquanto alegoria da divisão sexual do trabalho e a inscrição da diferença sexual e social no espaço urbano. [...] A agorafobia virtualmente representa uma paródia da construção da feminilidade no século 20” (18). Tradicionalmente compreendida como o medo do espaço público, a agorafobia diz respeito ao pânico provocado por espaços livres e circulação em grandes espaços vazios, como aqueles produzidos pelo urbanismo moderno.
Esses negativos da forma urbana deslocariam o sentido do corpo e o conduziriam à sua explosão. Seja no dia 1 de maio, com a alucinante ocupação da Praça da Paz Celestial, seja no dia a dia, quando quase ninguém ousa atravessar uma esplanada a não ser pelas bordas, o corpo nunca consegue atingir uma intimidade que lhe recomponha a integridade. Despejados da primeira arquitetura simbolizada pelo útero da mãe, não encontramos na multidão moderna, nem em seu isolamento correspondente, o conforto corpóreo.
A agorafobia alegoriza uma divisão sexual do trabalho, que inscreve nos corpos os regramentos de ocupação do espaço urbano. Mas ele não diz respeito apenas ao vazio, ou à percepção de vazio, mas sim ao tempo: “E o tempo, não apenas o espaço, é também um elemento constituinte da agorafobia; à noite, na maioria das grandes cidades, toda mulher é agorafóbica” (19). Essa rica leitura de Meyer traz diversos elementos que mostram a potência crítica das posições feministas, pois discute raça, saúde mental e ubiquidade espacial por meio da arquitetura. E mais do que isso, vai entretecendo fios que conectam o universo doméstico ao universo público, superando uma visão estanque que formula a cidade apenas a partir de sua externalidade.
É o que faz Paul B. Preciado no livro Pornotopia — An Essay on Playboy`s Architecture & Biopolitics (20). Se contrapondo ao regime disciplinar da sociedade industrial, o autor estuda como a revista Playboy inaugura o regime farmacopornográfico no pós-guerra. Em contraposição à família nuclear suburbana — que Meyer identificava como aquela com maior índice de agorafobia por seu comportamento anti-urbano —, Preciado fala do “solteirão convicto”. Esse homem, cis, branco, heterossexual e de classe média, teria surgido entre os anos 1950 e 1960, em grande parte construída pela revista no anseio de definição de seu público-alvo, já que nem o marido suburbano nem a criança púbere poderiam, moralmente, acessar seu conteúdo. Mas deveria fazê-lo a partir da posição defensiva de criar um homem heterossexual, já que a solteirice poderia significar homossexualidade. A revista lança o que o autor chama de “teoria performativa do espaço”, que seria “de um certo modo um resultado do modelo de incubadora, em que a arquitetura é um útero biopolítico de aluguel, onde o processo de tornar-se homem ou mulher é completamente alcançado” (21).
Essa teoria participa das contra narrativas heterossexuais dos anos 1950, ao lado das reivindicações da segunda onda feminista e dos movimentos LGBTQIA+. A Playboy constitui assim uma espécie de terceira via pois questiona as convenções sexuais de sua época sem diminuir a hegemonia masculina, reconstituindo-a aos moldes pós-fordistas e imateriais de produção. É nesse sentido que o conceito de “pós-domesticidade” se torna central no texto, sendo definido como um enclave de alta tecnologia, transgressor dos limites entre prazer, trabalho, descanso e capital.
Estamos falando da criação de uma verdadeira arquitetura do prazer, na qual a casa não é mais o tradicional local de reprodução de valores e pessoas, mas uma possibilidade de sexo não-reprodutivo, de diversão não-produtiva. Daí a questão: que forma teria essa arquitetura? É quando a Playboy precisa inventar sua mansão, sua cobertura, seu apartamento urbano. E, mais do que isso, ela precisa reinventar a cama. O livro mostra como a “pharmacopornographic bed” é pensada, e impressiona como se assemelha a diversos paradigmas contemporâneos de conectividade, ócio e produção, mais uma vez diluindo as fronteiras entre o público e o privado. Através da história da revista Playboy e de sua produção de dispositivos sexuais espaciais, discutimos como se desenha o novo espaço público na era pós-doméstica. Nas palavras do autor:
“A ágora fármacopornográfica é um espaço pós-democrático; luz, espaços abertos e públicos não mais contém a possibilidade da comunicação democrática e racional. O contrato Iluminista foi rompido, ou melhor, era uma armadilha colonial e assimétrica. O espaço pós-democrático é “um território enclausurado fora da lei, onde regras são definidas de acordo com seus usuários” (22).
Vale lembrar que o enublamento dos limites não ocorre apenas entre o dentro e o fora, mas também entre o próprio corpo e o espaço circundante, a ponto de o autor afirmar que “agora a arquitetura existe em nós” (23).
Em artigo mais recente (24), Paul Preciado discorre sobre o conceito de “multidão queer”, recolocando o corpo como um problema espacial em seu sentido mais urbano. Como contraponto ao homem domesticado, a multidão queer ocupa o centro de um trabalho de “desterritorialização da heterossexualidade” (25), capaz de afetar tanto o coletivo quanto o corpo. Espécie de entrave ao controle heteronormativo, esse corpo social responde aos mecanismos de poder que buscam extingui-lo, invisibilizá-lo. Mas...de que forma pode uma massa de corpos rejeitados, abjetos, humilhados e marginalizados se unir ao redor de uma pauta comum?
É o que procura responder Judith Butler quando fala da “aliança dos corpos” (26). Em seu artigo, a pensadora feminista perscruta as relações entre a ação política dos corpos nas ruas e sua produção material. Se pergunta como a assembleia e o discurso público reconfiguram a si próprios, sua própria materialidade, produzindo, ou reproduzindo-se, enquanto espaço público. Ou seja, de que maneiras os lugares se relacionam com as ações que lhe dão vida, e de que formas as ações plurais criam lugares. A chave está em compreender que, “Para que la política tenga lugar, el cuerpo debe estar presente” (27). Fato material, o corpo é condição sine qua non para a reivindicação política. Mesmo que eventos como a Primavera Árabe (2010) tenham tido grande influência dos meios de comunicação virtuais, foi quando os cidadãos tomaram as ruas que a manifestação existiu, e as reivindicações ganharam corpo.
Nesse sentido Butler critica a noção de representação e direito de Hanna Arendt, que teria se furtado a falar dos corpos excluídos no espaço público e de sua presença nos domínios considerados prepolíticos ou extrapolíticos. Arendt não consegue levar a cabo uma política que aconteça fora dos espaços tradicionais de representação, e muito menos compreender de que formas esses espaços excluem corpos desviantes. Ao defender o “direito a ter direitos”, ela considera uma dimensão pré-reinvindicatória e pré-institucional, enquanto Butler fala das formas de atuação e materialidade que constituem o tecido do direito de lutar. Em suma, o direito não é algo garantido, e sim produto e produtor de uma eterna luta por sua subsistência, luta que é impensável fora dos espaços públicos e principalmente da ação política dos corpos nas ruas, que criam os lugares de representação.
A aliança dos corpos é arquitetônica, pois participa dos circuitos de poder que executam e distribuem a presença dos corpos que, por sua vez, perfazem o espaço que ocupam e que serão possíveis de se ocupar. É o corpo que reterritorializa, a todo gesto, os espaços de poder. Desta dita, corpo é, desde o início, um tema central para as teorias feministas e para os debates sobre gênero na arquitetura. Seja no campo antropométrico, simbólico ou psicanalítico, a razão incorpórea foi criticada exatamente por esconder sua corporeidade masculina, branca e cisgênera.
Na medida em que o corpo transita e constrói essas duas esferas, é mais interessante falar em um corpo que é urbano e doméstico, e que na sua performance corporal, marcada pelo gênero, sexo, cor, deficiência etc., ressignifica a noção mesma de espaço. Talvez mais do que qualquer outra filiação filosófica e política, o feminismo aproxima corpo e arquitetura de uma maneira radical e potente, criando a possibilidade de discutir, de maneira totalmente renovada, o espaço doméstico e o espaço público. Desafio e missão, devemos aproximar essas duas esferas que muitas vezes são discutidas de forma concorrente, mas que podem e devem ser discutidas sempre uma em relação à outra.
notas
1
Em livre tradução, “virada espacial”. Diz respeito à aproximação das ciências humanas às questões espaciais, especialmente a partir da filosofia de Henri Lefebvre.
2
PÁDUA, Lígia Saramago. A topologia do Ser. Lugar, Espaço e Linguagem no pensamento de Martin Heidegger. São Paulo, Edições Loyola, 2008, p. 71.
3
HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Explosão feminista: arte, cultura e universidade. São Paulo, Companhia das Letras, 2018, p. 36.
4
JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 093.07, Vitruvius, fev. 2008 <https://bit.ly/3lnQBm8>.
5
HAYDEN, Dolores. What Would a Non-sexist City Be Like? Speculations on Housing, Urban Design and Human Work. In BORDEN, Ian; PENNER, Barbara; RENDELL, Jane (org.). Gender, Space, and Architecture: an interdisciplinary introduction. Londres, Routledge, 2000, p. 266.
6
Idem, ibidem, p. 266. Tradução do autor.
7
WEISMAN, Leslie Kanes. Discrimination by Design: A Feminist Critique of the Man-Made Environment. Champaign, University of Illinois Press, 1994.
8
Idem, ibidem, p. 119. Tradução do autor.
9
COELHO, Sonia. Pandemia aumentou discriminação que as mulheres enfrentam no mundo do trabalho. Coluna. Brasil de Fato, São Paulo, 18 mai. 2021 <https://bit.ly/38BBLpg>.
10
COLOMINA, Beatriz. Intimacy and Spectacle — The Interior of Loos. In BURDETT, Richard; WHITEMAN, John; KIPNIS, Jeffrey (org.). Strategies in Architectural Thinking. Cambridge, MIT Press, 1992, p. 71.
11
O termo refere-se ao desenvolvimento de uma planta em diferentes níveis, assemelhando-se a uma escadaria cujos patamares são diferentes ambientes.
12
RENDELL, Jane. Ramblers and Cyprians: Mobility, Visuality and the Gendering of Architectural Space. In DURNING, Louise; WRIGLEY, Richard. Gender and Architecture. Chichester, Wiley, 2000, p. 135.
13
Ver também a insurgência da figura feminina da flanerie, que busca subverter o domínio masculino do espaço público moderno. Cf. STOLL, Daniela Schrickte. A flânerie de uma andarilha urbana. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n.1, 5 jun. 2020 <https://bit.ly/3PF9w9Y>.
14
BOYER, M. Christine. Crimes in and of the City: The Femme Fatale as a Urban Allegory. In AGREST, Diana; CONWAY, Patricia; WEISMAN, Leslie Kanes. The Sex of Architecture. Boston, Harry N Abrams, 1996, p. 97.
15
Idem, ibidem, p. 100. Tradução do autor.
16
MEYER, Esther da Costa. La Donna è Mobile: Agoraphobia, Women and Urban Space .In AGREST, Diana; CONWAY, Patricia; WEISMAN, Leslie Kanes. The Sex of Architecture (op. cit.), p. 141.
17
Idem, ibidem, p. 148. Tradução do autor.
18
Idem, ibidem, p. 149. Tradução do autor.
19
Idem, ibidem, p. 153. Tradução do autor.
20
PRECIADO, Paul B. Pornotopia: An Essay on Playboy`s Architecture and Biopolitics. Nova York, Zone Books, 2014.
21
Idem, ibidem, p. 33. Tradução do autor.
22
Idem, ibidem, p. 129. Tradução do autor.
23
Idem, ibidem, p. 130. Tradução do autor.
24
PRECIADO, Paul B. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. In HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro, Bazar do Tempo, 2019, p. 421.
25
Idem, ibidem, p. 424.
26
BUTLER, Judith; DÁVILA, Romina Martínez. La aliança de los cuerpos y la política de la calle. Debate Feminista, Cidade do México, v. 46, out. 2012, p. 91-113,
27
Idem, ibidem, p. 95.
sobre o autor
Jaime Solares Carmona é arquiteto e urbanista (2015) e mestre (2020) pela FAU USP, onde integra o grupo de pesquisa Pensamento Crítico e Cidade Contemporânea (PC3). Professor assistente da Escola da Cidade e coordenador da Plataforma de Ensino do IABsp. Possui artigos publicados em mídias especializadas como ArchDaily, Vitruvius e Architectural Journal (China).
preâmbulo
O presente artigo faz parte de Preâmbulo, chamada aberta proposta pelo IABsp e portal Vitruvius como ação para alavancar a discussão em torno da 13ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, prevista para 2022. As colaborações para as revistas Arquitextos, Entrevista, Minha Cidade, Arquiteturismo, Resenhas Online e para a seção Rabiscos devem abordar o tema geral da bienal – a “Reconstrução” – e seus cinco eixos temáticos: democracia, corpos, memória, informação e ecologia. O conjunto de colaborações formará a Biblioteca Preâmbulo, a ser disponibilizada no portal Vitruvius. A equipe responsável pelo Preâmbulo é formada por Sabrina Fontenelle, Mariana Wilderom, Danilo Hideki e Karina Silva (IABsp); Abilio Guerra, Jennifer Cabral e Rafael Migliatti (portal Vitruvius).