Este trabalho intitula-se “Estruturalismo, espaço doméstico e pandemia” e foi desenvolvido como trabalho de graduação de curso de arquitetura e urbanismo no corrente semestre. De uma forma sucinta, o trabalho apoia-se em ideias e soluções espaciais do estruturalismo arquitetônico holandês (1) e na revisão de uma série de manuais e recomendações recentes para a produção de ambientes mais resilientes a cenários pandêmicos (2), propondo, ao seu final, alternativas de arranjos espaciais para habitações contemporâneas. O trabalho foi desenvolvido no contexto do agravamento do cenário pandêmico no Brasil. E, antes de qualquer coisa, é interessante salientar como vivenciar esse contexto moldou a visão, compreensão e definição dos conceitos abordados neste estudo. De uma forma geral, vivenciar uma situação parece facilitar especular sobre aquilo que ainda não se conhece bem, afinal, podemos dizer que resoluções efetivas ideais se encontram quase sempre em um tempo futuro. Ainda assim, há um certo valor em vivenciar, pesquisar e propor soluções simultaneamente à ocorrência de situações emergenciais, como a pandemia da Covid-19. Essas situações não apenas estimulam resoluções aos desafios que trazem consigo, as quais refletem o pensamento coletivo de um dado momento, mas também podem deixar sua marca na história; se bem utilizadas no futuro, podem contribuir, de uma forma geral, para a evolução da humanidade. Outro ponto que vale ressaltar é que, como já reconhecido há algum tempo no pensamento coletivo deste campo, a arquitetura por si só não consegue solucionar problemas da sociedade. Contudo, soluções arquitetônicas são ferramentas importantes na abordagem para solucionar tais problemas.
Estruturalismo
Claude Lévi-Strauss (3), como esforço analítico, demonstrou em Antropologia estrutural, dentro da diversidade humana, a existência de estruturas universais, que prevalecem na sociedade, independente de espaço e tempo, a cultura, por exemplo. Também aborda, anteriormente, em “As estruturas elementares do parentesco”, o embate que a cultura demonstra travar com a natureza — vale ressaltar que Lévi-Strauss propõe a cultura como um estado de regramento humano, e natureza como algo anterior a isso, anterior à hominização. Para Lévi-Strauss, a cultura é um produto da natureza, não uma antagonista. O discurso não se envolve particularmente na ideia usual de igualar espaços rurais como ambientes naturais, propondo essa natureza mais como espaços, atitudes ou relações em que o homem não entrelaçou regramentos, não impôs ordem comportamental. Também compõe o discurso de elementos específicos e elementos gerais, porém sem uma hierarquização obrigatória, dispensando e criticando uma antropologia mais darwinista. Essa base de entendimento estruturalista é pertinente como didática de compreensão e proposição dentro do panorama atual porque:
- É perceptível que ela usa “estruturas” como vetor de medida, não de teor genérico, mas “estruturas humanas” — linguística, antropologia, arquitetura e urbanismo, dentre outras;
- Dessa forma, tornando toda a didática na verdade como uma lupa humanista, ela termina tecendo teor atemporal, já que não se debruça em conceitos fechados em si, em definir o que é humano, mas sim investigar e propor em decorrência do que já se é definido por humano e de como essa humanidade é exercida, a partir da análise das relações e a favor das necessidades dessa humanidade;
- Ou seja, se tornando um aporte pertinente inclusive em panoramas complexos, onde se encontram questões que fogem inicialmente de um lugar comum antes conhecido, como pandemias;
- O estruturalismo na arquitetura utiliza dos mesmos códigos e signos — traduzidos de forma espacial — que a antropologia estruturalista, carregando consigo uma compreensão humanista de propor arquitetura e espaço.
O estruturalismo arquitetônico estimula a busca por uma arquitetura que seja condizente com a cultura na qual é inserida, logo, sua utilização é importante e pertinente ao panorama atual, por ser antagônica à arquitetura genérica amplamente imposta em diversos tecidos urbanos, (principalmente brasileiros) anterior à Covid-19, e que teve seus efeitos negativos potencializados devido à pandemia.
Ao mesmo tempo, o estruturalismo se torna oportuno também pela potencial multiplicidade de interpretações do usuário a respeito do espaço, tornando-o agente ativo da construção desse espaço no decorrer do tempo. Ou seja, objetiva espaços com uma polivalência arquitetônica, que acomoda até mesmo mudança de ambientes, acompanhando a evolução da vida do(s) morador(es), e, no caso de situações pandêmicas, necessidades e mudanças espaciais emergentes. O estruturalismo opõe-se a estudar elementos isolados, e tem origem e ponto inicial como método, um discurso teórico de valor prático, operacional, propondo diretrizes que fomentam e criam uma dinâmica de análise.
Fundamentalmente, o pensamento estruturalista não se qualifica apenas como a construção de soluções aprazíveis, mas principalmente a consciência das perguntas necessárias.
Sintetizando diretrizes estruturalistas
O estruturalismo de certa forma busca por soluções para um modernismo, após a metade do século 20, atribuído a práticas que adotavam o funcionalismo pelo funcionalismo. Correntes do segundo pós-guerra, como o Team 10, combatem essa produções modernistas, porém, foram germinadas graças ao movimento, e detém conexões na modulação do processo ou dos objetivos, sejam veladas sejam explícitas. Partindo para concepção de espaço, forma e projeto, o estruturalismo busca, então, objetivos abstratos equivalentes ao modernismo, mas opõe a esse novas palavras e significados: uma maneira de buscar respostas positivistas e humanistas. O que o modernismo busca tendenciando seus espaços à flexibilidade e tornando-os os mais neutros e, por decorrência, os mais genéricos possíveis, o estruturalismo busca também, mas com prerrogativa de identidade fortalecida, criando, então, uma arquitetura a qual nominam polivalente. O modernismo acredita na arquitetura globalizada, e o estruturalismo num forte senso de universalidade, que alinha as arquiteturas pelo globo, mas que oportuniza a elas terem suas diferenças. No modernismo, a estrutura aprisiona, no estruturalismo ela liberta: a urdidura é trabalhada de forma a ser polivalente, pensando no pós ocupação como uma trama acima dessa urdidura, que se apropria dela para expressar sua ideologia e identidade. Dentro desse preâmbulo, a obra Lições de arquitetura, do arquiteto holandês Herman Hertzberger, de 1991, cumpre bem o papel de explicar essas noções, que aqui serão exploradas como diretrizes.
Público e privado
Na referida obra, Herman Hertzberger defende a ideia de público e privado como noções correlatas: são demarcações territoriais e qualidades espaciais que se referem ao acesso, à responsabilidade, à relação entre a propriedade privada e a supervisão de unidades espaciais específicas.
É decorrência de como esses fatores são trabalhados e comparados com o geral: um pátio ou passagem interna pode ter forte senso de público se comparado a outros espaços do mesmo complexo construído, por exemplo; essa liberdade de apropriação traz vínculo com o espaço, remetendo à sensação de responsabilidade e supervisão por quem habita.
Essa inversão de papéis se torna benéfica porque fecha uma lacuna criada pela formalização espacial dos lugares: a divisão entre público e privado. Ao se mitigar problemas públicos ou privados em projetos, de modo geral, são elencadas diretrizes que complementam, que sanam determinadas lacunas. É possível ver, em geral, características contrárias ao que o espaço é nominado formalmente, como forma de se chegar a tal completude: como diretrizes para espaços privados, por exemplo, geralmente se procura a captação de fruição, conexão entre espaços como estímulo a relações humanas (sejam elas físicas ou visuais), espacialidade que permita trocas entre unidades habitacionais como forma de gerar sentimento de vizinhança, variedade de módulos habitacionais para gerar uma habitação democrática etc.; em contra partida, no espaço público há um apelo para que um senso de pertencimento seja estabelecido pela população, elencando sensações e elementos constituintes do espaço que remeteriam a noções de caráter privado.
Seguindo os preceitos do estruturalismo, essa lacuna que inviabiliza uma completude acontece justamente porque os espaços são criados desde o início de maneira separada, sempre só públicos ou só privados.
Padrão projetual
Hertzberger elabora a ideia de padrão projetual, como uma junção de disciplinas: forma, articulação, motivos arquitetônicos e material, introduzindo um ordenamento projetual. O autor ainda defende que, havendo um bom ordenamento, cria-se uma unidade de vocabulário e de método de construção. Para isso, as disciplinas precisam “conversar” entre si, de forma que haja uma unidade de pensamento ou, em outras palavras, uma linguagem projetual unificada, identificável, compondo o todo.
Mapa de diferenciação territorial
As gradações de diferenciações territoriais propõem que os aspectos de acesso são importantes na composição de usos e usuários. A ideia dessas gradações existirem com um leque maior, por si só, já demonstra um olhar mais cuidadoso na criação do projeto. Hertzberger propõe um mapa de gradações do projeto como forma de intensificar ou atenuar forças.
O “intervalo”
As gradações espaciais tocam de certa forma também na temática do espaço-entre ou, como o autor nomina, do “intervalo”. Hertzberger exemplifica falando da importância da soleira como elemento intermediário entre áreas de ordens diferentes, sendo um elo entre polos. Como forma de “esticar” essa propriedade ao espaço, ele propõe espaços de ocupação vinculados a elos projetuais. De maneira contrária, provavelmente o “intervalo” que não é bem atribuído projetualmente aparenta vir a ser o que nominam hoje como espaço residual. Ao se propor gradações espaciais, indiretamente é proposto também espaços-entre, que fazem o equivalente ao trabalho de portais, estando entre espaços polares, mas que ao mesmo tempo, na qualidade de espaço, freiam a sensação de polaridade entre os espaços circundantes.
Estrutura e ocupação
Estrutura e ocupação são outros fatores intimamente ligados. A estrutura funciona como o suporte bem planejado para criar uma liberdade de ocupação, uma expressão coletiva, unificada, para abrigar expressões espaciais individuais (ou seja, um conjunto fixo de regras que não restringe a liberdade, mas, pelo contrário, a oportuniza). É uma potencialidade que pode ser explorada em diversos níveis e linguagens: pode ser a construção que possibilita acréscimos posteriores identitários (Quinta Monroy de Aravena, por exemplo), ou a superestrutura que abriga variedade de público e, em decorrência, de expressão individual no espaço (Fort l’Empereur, de Le Corbusier, por exemplo).
Arquitetura como ferramenta
Apesar da pandemia da Covid-19 ser uma situação única, a humanidade já teve que se reinventar antes devido a pandemias e surtos sanitários. Foram três grandes pandemias do século 20: gripe espanhola, gripe asiática e a gripe de Hong Kong, sendo a gripe espanhola (4) a mais letal: matou 25 vezes mais que a Primeira Guerra Mundial. Além dessas, houve diversas epidemias e endemias.
Observar o panorama da pandemia da gripe espanhola não apenas se torna um exercício comparativo pertinente, mas também demonstra como, passados mais de cem anos, mesmo com significativa evolução na proteção hospitalar, controle e estudos científicos de patógenos, o sistema de saúde mundial contém brechas, que oportunizam o aparecimento de novas pandemias.
O comportamento da população perante enfermidades, somado às brechas sanitárias, evidenciam a necessidade de auxílio de ofícios correlacionados — como a arquitetura e urbanismo — desempenhando papel como ferramenta na contenção e prevenção de novas patologias, até que todo o sistema de saúde mundial faça avanços em tecnologias, pesquisas científicas e protocolos de saúde, tornando pandemias eventos mais raros e menos letais.
Grupo de risco x necessidades
Segundo a Organização Mundial de Saúde — OMS, no grupo de risco, são englobados asmáticos, fumantes, hipertensos, diabéticos, pessoas com problemas cardiovasculares e pessoas acima dos sessenta anos.
Devido a essas características, somadas ao potencial de contágio do vírus, a quarentena veio como ferramenta atenuadora do perigo a essa camada da população, além dos assintomáticos, casos em que 40% das transmissões do novo coronavírus ocorrem antes que as pessoas apresentem sintomas da doença (5).
As novas necessidades espaciais pandêmicas, advindas do novo panorama, têm potencial para intensificar problemáticas imobiliárias já existentes pelo mundo, como a má qualidade de vida nas cidades grandes e capitais, tamanho reduzido e má qualidade das unidades habitacionais, ou a falta de coesão social dos bairros.
Diante do impasse habitacional protagonista, considerando uma variedade de guias de habitação para Covid-19 disponíveis, são investigadas estratégias sanitárias, para espaços domésticos, que respondam a essas mudanças.
Análise e cruzamento de guias habitacionais pandêmicos
Com quarentenas, atreladas ao período total da pandemia, até agora foram implementados à rotina da maioria da população uma série de protocolos, logísticas e reconsiderações espaciais, a fim de minimizar riscos ou trazer mais conforto ao dia-a-dia doméstico.
Considerando futuras pandemias (6), torna-se interessante haver cobertura dessas estratégias, objetivando normalizar, a nível projetual, as novas necessidades espaciais, tornando menos desconfortável e mais humanizada a passagem de épocas que intercalam quarentenas e quarentenas (e intervalos entre pandemias, para pandemias).
Com esse objetivo, foram elencados guias, criados no ano de 2020, que exploram a habitação (dentre outros usos) e principais estratégias no campo da arquitetura mundial frente à pandemia da Covid-19. São eles (7):
- Manual of Physical Distancing — LTL Architects: Não apenas focado na habitação, o manual traz uma rica leitura de principais estudos e pesquisas acerca da pandemia, que tem relação direta ou indireta com a arquitetura e, posteriormente, além de estudos de caso, apresenta estratégias projetuais e logísticas com eficiência de proteção contra o vírus.
- Designing Spaces for Infection Control — Mass Design: Com ênfase na habitação (mas com medidas pertinentes a outros usos também), o manual propõe diretrizes e estratégias com assertividade, tornando-se a maioria das diretrizes aqui colocadas;
- Designing Senior Housing for Safe Interaction — Mass Design: trabalha direcionado para a terceira idade, pertencente ao grupo de risco e que, por isso, torna-se de grande importância haver representatividade, mesmo que geral, de suas necessidades espaciais frente à pandemia. Como neste em específico foram utilizadas plantas baixas de casas de apoio a idosos para propostas, foram selecionadas diretrizes que satisfaçam necessidades homônimas a este público no uso habitacional multifamiliar.
- Designing for Resilience: Adapting Facilities for the Covid Era — LS3P: Compreendendo o térreo ativo como parte importante no controle pandêmico, por se tratar da planta baixa intermediária entre o espaço público e o privado, foi elencado também o guia em questão, que coloca uma série de sugestões a respeito.
- Orientações da Arquitetura Hospitalar para o controle de contágio: Covid-19 — GEA Hosp.: É importante também considerar produções informativas nacionais. O guia criado pelo Grupo de Estudos em Arquitetura e Engenharia Hospitalar — GEA Hosp cumpre esse papel: direcionado aos moradores, ele ilustra como organizar o espaço em situações com e sem moradores diagnosticados com Covid-19.
- Covid Building type Multifamily Housing — AIA: O American Institute of Architects disponibilizou uma série de estratégias e documentos de apoio relacionados à pandemia. Por se tratar de uma organização com relevância nos Estados Unidos, país que vem apresentando um aumento de casos, a leitura e coleta das diretrizes colocadas se torna importante.
Em seguida, foram reconhecidas temáticas em comum entre esses guias, formalizadas então como eixos temáticos, propondo diretrizes e estratégias habitacionais para o Covid-19 nichadas, direcionadas (8).
Diretrizes habitacionais pandêmicas
Ao fim, são propostas oito diretrizes, que somadas trazem consigo 33 estratégias habitacionais pandêmicas pertinentes a serem implementadas, em projetos a serem construídos ou já construídos.
Associação entre diretrizes estruturalistas e diretrizes habitacionais sanitárias
Serão estabelecidas associações entre as recomendações para contextos pandêmicos e conceitos estruturalistas. Para tanto, esses conceitos (e subcomponentes) serão vinculados às referidas recomendações a partir de temáticas que possibilitam associação entre ideias. Ao final, espera-se chegar ao que chamamos de diretrizes estruturalistas-pandêmicas, possível ponto inicial para concepções projetuais, podendo ser customizadas, conforme condicionantes locais, classe social e nível de especificidade projetual a serem considerados.
É importante salientar, entretanto, que não serão associadas todas as diretrizes e estratégias pandêmicas aqui expostas. Serão excluídas aquelas que possuem um cunho mais técnico e que são melhor utilizadas isoladamente, (como tipos de equipamentos, como filtros de ar ou lâmpadas, por exemplo) ou de natureza ligada à materialidade, pois se entende que essas diretrizes constituem um universo próprio de resoluções, mais passíveis à personalização, portanto, ligadas a cada projeto criado.
A seguir, essas relações serão apresentadas em tópicos, de modo a esclarecer objetivamente o que envolvem, seguindo como estrutura geral: 1. público x privado; 2. padrão projetual; 3. gradação; 4. intervalo; por fim, 5. estrutura e ocupação. No primeiro grupo (público e privado), tem-se os subcomponentes: 1.1 acesso; 1.2 responsabilidade; 1.3 usuários e 1.4 supervisão. No segundo grupo (padrão projetual), tem-se: 2.1 forma; 2.2 articulação e 2.3 motivos arquitetônicos. Os demais grupos não comportam subcomponentes. Cada cor empregada na escala de vermelho indica uma diretriz sanitária correspondente, apontando quais foram mais utilizadas nas associações.
Cabe aqui enfatizar o propósito e forma de utilização das diretrizes obtidas. Considera-se, antes de tudo, o caráter de agente ativo no espaço do ser humano, a necessidade de experiências e arquiteturas que satisfaçam minúcias e totalidades, apenas obtidas através do olhar e concepção humana. Existem formas de obter essas essencialidades em diretrizes, porém a mais expressiva de ser lida no presente trabalho é a adaptabilidade, o tempo e suas impermanências como regradores do ser humano, e por consequência do espaço. Considera-los retira do humano (e suas arquiteturas) o teor restritivo que o presente pode criar para o futuro, ou situações atípicas como uma pandemia.
Seguindo esse contexto, as diretrizes têm livre associação no auxílio da concepção de arquiteturas domésticas. Elas têm a adaptabilidade de contribuírem de forma total no projeto (na concepção e/ou partido arquitetônico do conjunto de unidades habitacionais, ou seja, na arquitetura do edifício); na concepção e/ou partido arquitetônico da escala da unidade habitacional e na arquitetura de interiores; e na escala das zonas e ambientes domésticos.
Considerações finais
Com essas diretrizes, um leque direcionado de possibilidades espaciais se abre na temática, enquanto possibilita a provocativa de considerar espaço doméstico aliado à segurança sanitária em pautas e ideais circundantes:
— Arquitetura concebida coletivamente: seja a arquitetura participativa, seja o projeto que considera e oportuniza moradores continuamente modificá-la, através do tempo e vivência. Recai por decorrência no tema de reuso da arquitetura e multifuncionalidade de mobiliários, layouts e edificações.
— A ideia de construção consciente, no presente, do patrimônio futuro: a capacidade de adaptação pertinente a futuros usos (concebidos no futuro para sua humanidade), ao mesmo tempo que viabiliza as necessidades atuais. Recai por decorrência também no tema de reuso da/na arquitetura.
— Por considerar potencial adaptativo, condicionantes locais e cultura, solicita de quem a concebe consciência e responsabilidade que beneficiam a longo prazo, sendo agente da manutenção da pertinência arquitetônica pelos tempos.
— Por fim, cabe dizer que as diretrizes não são fechadas em si. Pelo contrário, têm como proposta serem reformuladas progressivamente com a contribuição coletiva de quem as utiliza, inclusive pela redefinição inevitável do que suas palavras significam pelo tempo, possibilitando a manutenção da pertinência.
notas
1
HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. 2ª edição. São Paulo, Martins Fontes, 1999; DEYONG, Sarah. An Architectural Theory of Relations Sigfried Giedion and Team X. Journal of the Society of Architectural Historians, v. 73, Berkeley, University of California Press, jun. 2014 <https://bit.ly/3CKfIaL>.
2
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO DO EDIFÍCIO HOSPITALAR. Orientações da arquitetura hospitalar para o controle de contágio: Covid-19. ABDEH/GEA Hosp/FAU UFBA, Salvador, abr. 2020 <https://bit.ly/3EOeQok>; AMERICAN INSTITUTE OF ARCHITECTS. Covid Building type Multifamily Housing. AIA, ago. 2020 <https://bit.ly/3s43Ifv>; Manual of Physical Distancing: Space, Time and Cities in the era Covid-19. LTL Architects, jun. 2020 <https://bit.ly/3yODy3Y>; MASS DESIGN. Designing Senior Housing for Safe Interaction. Mass Design, jul. 2020 <https://bit.ly/3eENlTv>; MASS DESIGN. Designing Spaces for Infection Control. Mass Design, mar. 2020 <https://bit.ly/3VAblI4>; LS3P. Designing for Resilience: Adapting Facilities for the Covid Era. LS3P, jul. 2020 <https://bit.ly/3giywXh>
3
LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. São Paulo, Cosac & Naify, 2012; LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. 7ª Edição. Petrópolis, Vozes, 2012.
4
Gripe espanhola. Brasil Escola, São Paulo, s.d. <https://bit.ly/3SalIiQ>.
5
NEDELMAN, Michael; AZAD, Arman. 35% das infecções por Covid-19 são assintomáticas, diz agência americana. CNN Brasil, São Paulo, 22mai. 2020 <https://bit.ly/3CHU731>.
6
GATES, Bill; GATES, Melinda. The year global health went local. Our 2021 Annual Letter. Gates Notes, 27 jan. 2021 <https://gatesnot.es/3T9hA3W>.
7
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO DO EDIFÍCIO HOSPITALAR. Op. cit.
8
Para ver o cruzamento de guias detalhadamente, basta acessar o link <https://bit.ly/3ga02WJ>.
sobre as autoras
Maria Clara Cabral é arquiteta e urbanista (Unicap, 2021). Foi pesquisadora bolsista no consórcio entre a Unicap e Prefeitura do Recife, colaboradora no IAB.PE e estagiária no Departamento de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Prefeitura do Recife. Selecionada para o Summer Sprint UIA2021RIO e convidada pela UIA PHG para exposição de posters.
Ana Luisa Rolim é docente da Unicap Icam Tech School e sócia fundadora da Coletivo-RT Arquitetura + Interiores. Doutora (UFPE, 2020) e pós-graduada em Green Building Design (Cooper Union School). Recebeu os prêmios Toronto Affordable Housing (2021); Desafio do Patrimônio Cultural (2019); Melhor Tese de Graduação do Brasil e Portugal (2019); International Modern Collective Living Challenge (2017), e Faith & Form International Awards Program for Religious Art & Architecture (2016).